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Assoreamento de rios e reservatórios prejudica geração de energia elétrica

Assoreamento diminui o armazenamento de água, interferindo na geração de energia

O processo de assoreamento de rios e reservatórios interfere na geração de energia elétrica, como uma mostra pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. Uma simulação no reservatório da hidrelétrica de Três Irmãos, em São Paulo, mostrou que o assoreamento foi o responsável pela redução média mensal na geração de energia de 377 Megawatt-hora (MWh) entre 1993 a 2008.

“Essa perda energética de 377 MWh/mês poderia suprir o atendimento de 1.508 residências que apresentassem um consumo mensal de 250 quilowatt-hora [kWh]”, aponta o engenheiro eletricista Renato Billia de Miranda. Ele explica que o assoreamento é um processo natural. Trata-se da última etapa do processo de sedimentação que atinge o solo, arrastando sedimentos (terra, areia e outros) para o leito dos rios. Mas a ação do homem intensifica esse processo. “Atividades ligadas a agricultura e pecuária na região de entorno do reservatório são a principal causa dessa intensificação”, destaca.

Desta forma, areia, terra e outros sedimentos acabam indo para os reservatórios, interferindo na capacidade de geração de energia, ao reduzir a capacidade de armazenamento de água e levando, em alguns casos, sedimento para as turbinas e prejudicando o funcionamento das mesmas. “Em pequenas centrais hidrelétricas, o assoreamento pode até impedir o seu funcionamento”, aponta.

Miranda estudou o tema em seu mestrado A influência do assoreamento na geração de energia hidrelétrica: estudo de caso na Usina de Três Irmãos – SP, apresentado em fevereiro na EESC sob a orientação do professor Frederico Fábio Mauad. A usina hidrelétrica de Três Irmãos foi construída em 1993 entre os municípios de Andradina e Pereira Barreto, no Noroeste do estado. O reservatório tem 785 quilômetros quadrados e 150 quilômetros de extensão.

Para realizar a pesquisa, Miranda utilizou dados da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) referentes ao volume do reservatório em 1975. “Uma das dificuldades para realizar a pesquisa foi exatamente a falta de dados atualizados sobre o reservatório de Três Irmãos. É uma realidade presente na maioria dos reservatórios nacionais”, critica o engenheiro.

Atividades de pecuária (esq) e plantação de cana-de-açúcar (dir) nas margens do reservatório de Três Irmãos

 

Ele também utilizou um levantamento batimétrico feito pelo Núcleo de Hidrometria da EESC em 2008, que consiste na medição da profundidade e vazão da água de reservatórios e rios. A comparação desses dados mostrou que houve uma redução de aproximadamente 14,5% no volume do reservatório entre 1975 e 2008. Com esse resultado foi possível estabelecer a taxa de assoreamento registrado entre 1975 a 2008, e estimar as condições do reservatório para o período de 1993 (ano do início da operação da primeira turbina) a 2008.

“No primeiro cenário, foi considerado que o reservatório não foi assoreado no período. Observamos uma energia média mensal gerada de 198.797 MWh. Já no segundo cenário, consideramos o assoreamento do reservatório no mesmo período e verificamos uma energia média mensal gerada de 198.420 MWh. É uma diferença de 377 MWh”, revela o pesquisador, que utilizou o software AcquaNet para obter esses números.

Matas ciliares
Segundo o pesquisador, o correto seria a existência de Áreas de Proteção Ambiental (APP) no entorno dos reservatórios, pois a presença de matas ciliares funcionaria como uma barreira natural, impedindo que os sedimentos chegassem até o curso d’água. “No caso da Usina Três Irmãos, uma grande parte do seu entorno é utilizado para cultura de cana-de-açúcar e de pastagens. Durante a entressafra, o problema do assoreamento é intensificado, pois coincide com o período das chuvas e elas acabam por levar mais terra para o reservatório”, diz.

Outro ponto destacado pelo pesquisador é a falta de conscientização sobre a importância de se manter em equilíbrio os níveis de água dos reservatórios diante do aumento da demanda de energia elétrica. “As concessionária afirmam que distribuem mudas de árvores para os produtores realizarem o plantio no entorno do reservatório. Mas muitas vezes os produtores são resistentes a essa ideia, pois questionam que se podem plantar cana-de-açúcar e outras culturas, porque devem plantar árvores? Eles comparam a utilização destas áreas para atividades rentáveis como a cana-de-açúcar e a pecuária em relação ao plantio de mudas florestais para as matas ciliares do reservatório”, diz. “De um lado temos a omissão de algumas concessionárias de energia e, de outro, a falta de conscientização dos produtores”, aponta.

Ilustração simplificada de uma usina hidrelétrica (Fonte: Adaptada de WIKIMEDIA- 2010)

 

Para o pesquisador, “a conservação dos reservatórios e das usinas hidrelétricas que estão em operação atualmente é muito importante, pois há uma dificuldade cada vez maior em se encontrar locais para a construção de novas barragens. Além do mais, questões financeiras, ambientais e sociais que envolvem a construção de novos empreendimentos deste tipo sempre são um entrave para a sociedade, gerando discussões e dividindo opiniões sobre qual seria a melhor tecnologia para a geração de energia elétrica no Brasil”.

Imagens cedidas pelo pesquisador

Mais informações: (16) 8101-2342, (16) 8812-6556 ou email renato.miranda@usp.br, com o pesquisador Renato Miranda

Reportagem de Valéria Dias, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 08/08/2011

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