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O bullying além da escola

O bullying, uma forma de violência entre alunos, tem causas que vão além do ambiente escolar e está criando uma cultura do medo nos colégios. Essa foi uma das principais conclusões da mesa redonda Bullying: diferentes olhares, realizada ontem durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), evento que está ocorrendo nesta semana na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia. Ao longo de mais de duas horas, o psicólogo clínico Josafá Moreira da Cunha e a mestre em educação especial Ana Carina Stelko-Pereira aprensentaram e discutiram vários aspectos do fenômeno.

Para Cunha, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o bullying está ligado às transformações pelas quais passou a escola nas últimas duas décadas. “O sistema educacional brasileiro cresceu muito nesse período”, disse. “Não deu tempo para as escolas treinar seus professores para lidar com a violência. Além disso, ela não conseguiu melhorar sua estrutura e ambiente físico nem investir na qualidade das relações.”

Ele lembrou ainda a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1988, que tirou da direção dos colégios algumas formas que eles tinham de exercer controle sobre seus alunos, como a expulsão, por exemplo. Evidentemente, essa mudança era necessária e foi bem vinda. O problema está na escola, que não conseguiu criar novas ferramentas para lidar com a violência. A consequência disso é o surgimento de uma cultura do medo no ambiente escolar, que começa a ser visto como perigoso.

Para resolver a situação, muitas escolas investem na segurança física, instalando câmeras e outras formas de monitoramento dos estudantes. “Isso só mascara a insegurança relacional”, disse Cunha. “Serve apenas para vender a imagem de segurança. Mas nessas mesmas escolas, crianças continuam sendo vítimas de bullying.” Além da cultura do medo, há a do sadismo. “Para muitas crianças, verem outra sendo humilhada é engraçado”, explica Cunha. “Em contrapartida, o agressor é popular, visto como o ‘bom’. É preciso mudar isso, para que a agressão passe a ser mal vista e o desempenho escolar, valorizado.”

Ana Carina, por sua vez, lembrou que além das formas tradicionais de bullying agora há também o cyberbullying, que é a violência praticada por meio da internet ou telefone celular. “As conseqüências desse tipo de agressão são mais graves”, disse. “Enquanto o bullying tradicional é restrito a um local e a um tempo específicos, o praticado pela internet atinge a vítima em qualquer lugar e pode ser repetido a qualquer hora. Uma mensagem agressiva, uma ameaça ou um vídeo pode alcançar o agredido em qualquer lugar.”

De acordo com a pesquisadora o bullying também está relacionado com a violência doméstica. Ela citou uma pesquisa feita com 239 estudantes de escolas públicas, cujos resultados mostraram que 14% das meninas e 7,5% dos meninos presenciaram agressõs físicas entre os pais. O estudo também revelou que 60% dos pais e 85% das mães batiam nos filhos. Mas o que mais chamou a atenção foi o fato de que as crianças que sofreram violência dos pais têm mais chance de ser vítima de bullying. “Se ela foi vítima da mãe, essa chance aumenta em 2,6 vezes e se foi do pai, em três vezes”, explicou Ana Carina. “A violência não é exclusiva da escola.”

Fonte: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

EcoDebate, 13/07/2011

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