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Artigo

A pobreza da riqueza no rural gaúcho, artigo de Paulo Mendes Filho

“Não se deve olhar o progresso de uma economia verificando o aumento da riqueza dos que já são ricos, mas na diminuição da pobreza daqueles que são muito pobres”. Amartya Sen

[EcoDebate] O debate sobre a erradicação da miséria nos remete a uma reflexão acerca do conceito de riqueza e pobreza.

Ser rico no meio rural é sinônimo de plantar na terra o que dá dinheiro, o que tem preço bom no mercado, especialmente a soja, o arroz, o fumo, o milho e os paus de eucaliptos.

Ter uma boa casa, no campo e/ou na cidade, com todo o conforto, que se traduz em bons equipamentos eletrônicos.

Possibilitar um bom estudo para os filhos em escolas onde os professores são bem remunerados.

Produzir de forma mecanizada com equipamentos modernos, tratores e colheitadeiras. Usar os melhores insumos agrícolas, as sementes transgênicas mais resistentes e os venenos de última geração. Ter empregados assalariados e, muitas vezes, explorar os “meeiros, pagar pouco e assinar carteira só quando necessário.

Ter um carro novo na garagem de preferência uma camionete quatro por quatro.
Se você nasceu pobre, mas bem pobre, e ficou rico com a agricultura têm mais valor, será visto como alguém que venceu na vida, não ficou prá trás.

O conceito de pobre, todo mundo sabe, é contrário disso tudo, mas se for negro, índio, quilombolas, assentado da Reforma Agrária e sem terra será visto como o mais pobre dos pobres por muitos da sociedade.

Ao observamos o rural mais atentamente percebemos que a pobreza existe colada na riqueza. Onde a concentração da riqueza é maior é onde a pobreza também cresce. Se aprofundar mais um pouco podemos identificar no modelo produtivo uma estreita relação entre a monocultura no agronegócio e a miséria. Onde a monocultura se espraiou, alcançou mais sucesso, tomou conta da paisagem é exatamente e infelizmente aonde a miséria se concentrou mais.

Nas favelas de médias cidades ou nos corredores e fundões da zona rural é fácil perceber os miseráveis do campo, basta olhar onde está a concentração de riqueza, os pobres estão no entorno e esta é a grande pobreza da riqueza que foi construída no meio rural. Ou seja, uma riqueza pobre de valores.

Por tudo isso, pensar na erradicação da pobreza sem entender a formação da riqueza é o mesmo que se jogar ao mar acreditando que possam existir tubarões vegetarianos. Por sorte o Brasil e o Rio Grande do Sul abrem espaços para estas reflexões e começam a surgir políticas públicas voltadas para esse tema, que bem entendidas e aproveitadas, modificarão o cenário de exclusão social, colocando, assim, o Brasil e o RS no eixo do Desenvolvimento.

Paulo Mendes Filho é Economista e Funcionário da Emater/RS

EcoDebate, 04/07/2011

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