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China admite problemas na usina de Três Gargantas, o maior projeto hidrelétrico do mundo

Trabalhador retira lixo às margens do rio Yangtze, próximo à usina de Três Gargantas. Foto NYT
Trabalhador retira lixo às margens do rio Yangtze, próximo à usina de Três Gargantas. Foto NYT

A usina de Três Gargantas, o maior projeto hidrelétrico do mundo e um símbolo da confiança da China em soluções tecnológicas arriscadas, está enfrentando problemas urgentes de poluição e geológicos, reconheceu um órgão de alto nível do governo na quinta-feira (19).

A declaração foi feita enquanto técnicos certificavam o último conjunto de geradores da usina como sendo adequado para geração hidrelétrica, o passo final em um esforço contencioso de 19 anos para conclusão do projeto, desafiando preocupações domésticas e internacionais em torno de sua segurança, assim como ameaças ao meio ambiente, às pessoas deslocadas, áreas históricas e beleza natural. Reportagem de Michael Wines, The New York Times.

O empreendimento, que custou à China cerca de US$ 23 bilhões segundo estimativas oficiais, mas talvez o dobro desse valor segundo especialistas de fora, tem sido atormentado por relatos de arquipélagos de lixo flutuante, tapetes de algas e deslizamentos de terra nas margens, ao longo da vasta área de água parada desde que a barragem de mais de 180 metros no Rio Yangtzé foi concluída em 2006. Os críticos também se queixam de que o governo não cumpriu suas metas de ajudar a reassentar o 1,4 milhão de pessoas deslocadas pela elevação das águas atrás da barragem.

O Conselho de Estado da China, um órgão coordenador frequentemente comparado ao Gabinete dos Estados Unidos, disse em uma declaração vaga que o projeto sofreu uma série de problemas sérios.

“Apesar de o projeto Três Gargantas fornecer imensos benefícios, problemas urgentes devem ser resolvidos em relação à reassentamento dos moradores, proteção ecológica e prevenção de desastres geológicos”, disse a declaração.

A imensa usina está atendendo a meta do governo de produção de energia elétrica sem poluição, disse o governo, gerando 84 bilhões de quilowatts-hora de eletricidade no ano passado. Mas os críticos dizem que o simples peso da água acumulada no reservatório de 660 quilômetros de extensão atrás da barragem aumentou o risco de terremotos e deslizamentos de terra. O governo reconheceu o risco, mas nega que o projeto tenha tido algum papel no poderoso terremoto de maio de 2008 na China, na província de Sichuan, no qual pelo menos 87 mil pessoas morreram.

Os ambientalistas também dizem que o lago gigantesco atrás da usina se transformou em depósito de poluição das cidades e indústrias que despejam resíduos nas águas.

Até mesmo a capacidade da usina de regular o fluxo notoriamente inconstante do Yangtzé, que com 6.195 quilômetros é um dos dois principais rios da China, tem sido questionada. Diante de uma seca histórica nos últimos meses, as cidades rio abaixo da usina não têm conseguido receber os navios com destino ao oceano que costumam visitar seus portos, e aproximadamente 400 mil moradores da província de Hubei perderam acesso à água potável neste mês.

Apesar de não haver nenhuma ligação comprovada, os críticos dizem que a usina mudou os lençóis de água regionais, contribuindo para a escassez.

A declaração do governo a respeito da usina foi divulgada após uma reunião liderada pelo primeiro-ministro Wen Jiabao, que é tido por muitos como mais preocupado com as queixas dos cidadãos comuns do que outros líderes do país. A declaração disse que alguns problemas foram previstos durante a construção da usina, mas outros “surgiram devido às novas necessidades criadas pelo desenvolvimento econômico e social”.

Os governantes da China podem estar mais preocupados com o impacto da usina sobre as massas deslocadas, muitas das quais parecem ter fracassado em reconstruir suas vidas após o despejo das terras que seriam cobertas pelo reservatório. Até 2020, prometeu a declaração, os moradores deslocados desfrutariam de padrões de vida iguais aos daqueles que não foram deslocados pela elevação das águas.

O projeto de Três Gargantas tem sido perseguido pelos céticos, mesmo dentro da burocracia chinesa, desde que foi aprovado em 1992. Os ambientalistas diziam que ele destruiria uma paisagem deslumbrante de penhascos de pedra calcária, considerada uma das mais belas do mundo, e os céticos alertaram que o novo lago levaria a problemas geológicos e de poluição.

Orville Schell, um perito ambiental que lidera o Centro para Relações Estados Unidos-China, da Sociedade da Ásia, disse que espera que as declarações do governo sinalizem um compromisso em resolver os problemas da usina.

“Há uma espécie de balancete de benefícios e prejuízos resultantes deste projeto”, disse Schell. “Minha sensação é de que o governo chinês está melhorando cada vez mais em coletar informações sobre coisas assim.” Ele acrescentou: “Eles sabem que se não resolverem esses problemas, haverá consequências terríveis”.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Reportagem [China Admits Problems With Three Gorges Dam] do New York Times, no UOL Notícias.

EcoDebate, 23/05/2011

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