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Vinhaça aplicada no solo em fertirrigação aumenta em cerca de 15% emissões de gases estufa

Vinhaça da cana aumenta emissão de gases do efeito estufa – Aplicação de resíduo aumenta em cerca de 15% emissões de gases na fase agrícola de produção do etanol

Pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, avaliou as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) provenientes da vinhaça (resíduo da produção de álcool) ao longo do canal de transporte e após aplicação no solo em fertirrigação, em uma usina na região de Piracicaba (SP). O estudo de Bruna Gonçalves de Oliveira confirma a hipótese de que o resíduo é um importante emissor de metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que junto com o dióxido de carbono (CO2) são os principais tipos de GEE, aumentando em cerca de 15% as emissões de gases na fase agrícola de produção do etanol.

Além das emissões, a pesquisa utilizou técnicas moleculares para detecção de micro-organismos produtores de metano no canal condutor de vinhaça. Por apresentarem potenciais de aquecimento global diferentes, CH4 e N2O são calculados com sua equivalência em CO2, o qual apresenta potencial de aquecimento global igual a 1. No canal transportador, não foram verificadas emissões significativas de N2O e observou-se que o CH4 foi responsável por 99,8% das emissões totais, em CO2 equivalente (CO2 eq).

Por meio de análise molecular foi possível apresentar uma primeira aproximação da estrutura da comunidade de micro-organismos produtores de CH4 presentes no sedimento do canal. Assim, pode-se comprovar que as variáveis de vinhaça transportada no canal, tais como carga orgânica, temperatura e potencial de oxi-redução, influenciaram as comunidades microbianas e, consequentemente, a emissão de CH4 para a atmosfera.

A aplicação de 200 metro cúbicos (m3) de vinhaça por hectare não ocasionou emissões de CH4 e potencializou as emissões de N2O do solo sob cultivo da cana-de-açúcar. Esta vinhaça, quando aplicada no solo em fertirrigação, aumentou as emissões em 46 e 31 kg de CO2 eq por hectare, respectivamente para áreas de cana queimada e crua. O balanço total dos fluxos de N2O e CH4, expressos em CO2 eq, somando as emissões oriundas do canal e aplicação de vinhaça no solo indicou que a maior parte das emissões (90%) ocorreu no canal transportador. Somente no canal, foi verificada emissão da ordem de 2,23 kg de CO2 eq por m3 de vinhaça transportada.

Etanol
Para estimar a quantidade de GEE emitida pela vinhaça por litro de etanol produzido foi realizado um cálculo, considerando uma produtividade média da cana-de-açúcar de 90 toneladas por hectare e rendimento de 80 litros de etanol por tonelada de cana moída (dados fornecidos pela usina). Esta estimativa indicou emissões da ordem de 0,069 kg de CO2 eq por litro de etanol produzido.

“Utilizando os valores obtidos nesse estudo, e comparando com a quantidade estimada de GEE emitido por litro de etanol produzido realizada por pesquisadores da Unicamp, verifica-se que a vinhaça é de fato uma importante fonte de GEE, aumentando em aproximadamente 15% as emissões de GEE na fase agrícola de produção do etanol”, afirma a pesquisadora.

“É importante ressaltar que esse estudo trata-se de uma análise pontual, refletindo apenas as características de uma determinada usina. Apesar da pesquisa apresentar grande avanço científico, uma vez que não existem outros dados na literatura, é necessária a realização de outros estudos avaliando as emissões de GEE resultantes da vinhaça em diferentes condições”, acrescenta Bruna. “O estudo servirá como linha de base em pesquisas futuras visando à redução das emissões de gases do efeito estufa provenientes da vinhaça, contribuindo assim, para redução do carbon footprint da produção do etanol”, finaliza Bruna.

A pesquisa, realizada no programa de pós-graduação em Microbiologia Agrícola da Esalq, foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e orientada pelos professores Brigitte Josefine Feigl e Carlos Clemente Cerri, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP.

Reportagem de Alícia Nascimento Aguiar, da Esalq/Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 03/05/2011

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