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Mapeamento é desafio para alertar sobre catástrofes; Geólogos terão que visitar áreas de risco, afirma Carlos Nobre

Confeccionar um mapa detalhado de mais de 800 áreas de risco em todo o país é um dos maiores desafios para a implantação do Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais, planejado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para diminuir o número de mortes causadas por enchentes e deslizamentos. O projeto foi anunciado pelo governo federal na última segunda-feira (17).

De acordo com o pesquisador Carlos Nobre, que irá coordenar a implantação do sistema, imagens obtidas por satélites e por aviões podem ajudar a criar mapas, mas é necessário que especialistas visitem as regiões de risco. “Não se pode fazer um levantamento genérico. As principais áreas exigem um levantamento ‘in situ’, os geólogos têm que ir ao local”. Segundo o cientista, hoje não há um órgão federal que possa fazer todo o mapeamento, e será necessário haver convênios com universidades e centros de pesquisa. Reportagem de Iberê Thenório, no Portal G1.

No projeto do sistema nacional, ao qual o G1 teve acesso, os mapas são necessários para alimentar um software que irá cruzar informações do tempo (risco de chuva, enchentes, ventos etc.) com as regiões onde moram pessoas e há riscos de desastres – são cerca de 500 que correm perigo de deslizamento e 300 expostas a enchentes.

Quando o sistema estiver a pleno funcionamento – o que vai levar cerca de quatro anos, segundo o projeto – será possível avisar comunidades ameaçadas com no máximo duas horas de antecedência, explica Nobre.

“O tempo de previsão varia conforme o tipo de desastre. Para uma bacia hidrográfica pequena de uma região rural, como no Rio, são algumas horas. Para deslizamentos, é possível ter uma boa estimativa de risco entre doze e seis horas [de antecedência] e, no pior dos casos, duas horas”, diz.

A partir do momento em que o desastre for previsto, um aviso será passado para as defesas civis e autoridades como a polícia, bombeiros, defesa civil, prefeituras e Forças Armadas. O projeto prevê capacitação e integração com esses órgãos, mas não dá detalhes sobre como isso será feito.

Para conseguir elaborar alertas detalhados, o MCT planeja comprar 15 radares meteorológicos, que operam em terra. Hoje o país tem 20 desses equipamentos em operação. “O radar vê as nuvens, estabelece a espessura delas e consegue ver a chuva que está caindo: quanto, onde, para onde está se deslocando”, conta o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral substituto do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Apesar de o Brasil já ter mais da metade dos radares de que necessita, Seluchi diz que nem sempre se pode contar com eles, pois há dificuldade de fazer a manutenção dos equipamentos e faltam peças de reposição. “O ideal seria ter um conjunto de radares para que, se um pare de funcionar, outro cubra a região”.

A maior parte desses equipamentos seria instalada na região Centro-Oeste e Nordeste, onde a cobertura é quase inexistente. A operação ficaria por conta do Departamento de Controle do Espaço Aereo (Decea), que hoje cuida da maior parte dos radares, e de institutos de meteorologia, como o Inpe e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

O projeto do sistema de alertas inclui ainda instalação de cerca de 700 pluviômetros – medidores de quantidade de chuva – e pequenas estações meteorológicas em locais de risco. Os dados obtidos seriam enviados por telefone celular, e as comunidades seriam responsáveis por cuidar dos equipamentos.

Para analisar os dados enviados por satélites, sensores e radares, o MCT aposta na capacidade do supercomputador Tupã, recentemente adquirido pelo Inpe. A máquina é considerada o 29º computador mais rápido do mundo, e consegue fazer uma previsão do tempo mais específica, com prognósticos diferentes para áreas pequenas. De acordo com Seluchi, a máquina estará em pleno funcionamento a partir do segundo semestre deste ano.

Segundo Nobre, os primeiros alertas de enchentes ou deslizamentos poderão ser dados no final deste ano, pois a região da Grande São Paulo já tem dados geológicos, radares e pluviômetros para fornecer dados ao software que irá gerenciar o sistema. “Estamos fazendo testes na Grande São Paulo com radares da Aeronáutica em São Roque”, conta o pesquisador.

A partir do alerta emitido, contudo, o trabalho passa para as defesas civis, que precisarão trabalhar em conjunto com o MCT. “Não é responsabilidade do sistema fazer a ponta final. O sistema vai municiar a defesa civil com informações”, diz Nobre.

Os custos do sistema não estão descritos no projeto, e o pesquisador não quis falar em números ao G1, pois o gasto seria dividido entre várias instituições e isso ainda estaria em discussão no governo federal.

Para o diretor estadual da Defesa Civil de Santa Catarina, o major Márcio Luiz Alves, a população e os órgãos públicos têm que ser treinados para receber alertas. “Não basta dizer que vai chover forte, chover muito, se quem vai receber essa informação não tem o hábito de reagir a essas previsões”.

Segundo o major, é necessário construir uma relação de confiança entre os moradores e o órgão que vai dar o alerta do desastre, para que as pessoas sejam convencidas a tomar medidas de segurança. Para Alves, esse é um trabalho difícil, pois é não é raro acontecer de o alerta ser dado e o desastre não ocorrer. “Temos que explicar às pessoas que a previsão é uma probabilidade”, diz.

Para o diretor da Defesa Civil, os meios de comunicação também precisam ser treinados para comunicar desastres. Em Santa Catarina, a cartilha distribuída pelo órgão nas escolas indica o rádio como principal meio para obter informações antes e durante as catástrofes. Ao contrário da internet e do telefone, ele não precisa de energia elétrica e continua funcionando quando cabos de comunicação são derrubados nas tempestades.

EcoDebate, 24/01/2011


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