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Rio de Janeiro tem 21 mil moradias e 117 favelas em áreas com alto risco de deslizamento

O Rio de Janeiro tem cerca de 21 mil moradias localizadas em áreas de alto risco em 117 comunidades da cidade que foram mapeadas pela Prefeitura do Rio, num estudo inédito divulgado nesta quinta-feira (6) pelo prefeito Eduardo Paes. Este foi o primeiro diagnóstico detalhado feito no Brasil que aponta as áreas de alto risco de deslizamentos de encosta numa cidade.

“Não tem solução milagrosa para esse drama que o Rio de Janeiro vive há tantos anos. Esse tipo de levantamento nunca foi feito na história da cidade. Ele vai servir para que a gente faça uma previsão mais adequada nesse verão e permitir que a cidade possa daqui para frente estabelecer políticas públicas sérias na área de proteção de encostas”, disse hoje o prefeito Eduardo Paes, no Centro de Operações Rio, uma espécie de quartel-general da prefeitura que monitora a cidade e planeja atuações em casos de emergência. Reportagem de Fabíola Ortiz, especial para o UOL Notícias, no Rio de Janeiro.

O estudo foi feito em duas etapas, inicialmente, uma radiografia da suscetibilidade de escorregamentos de encostas a partir de análises geológicas da cidade. E, em seguida, foi realizado um inventário de risco para apurar a real possibilidade de que escorregamentos atinjam a população que ocupa morros e áreas de encosta.

A área analisada engloba uma região de 52 bairros cariocas e 196 comunidades, das quais 117 favelas foram identificadas como áreas de alto risco. O estudo mais apurado foi feito no Maciço da Tijuca e na Serra da Misericórdia, onde estão localizados os Complexos da Penha e do Alemão, áreas de maior concentração populacional.

“É possível que a cidade do Rio possa parar de sofrer todo ano aquilo que historicamente sofre, pessoas morrendo com qualquer chuvinha. A gente pode prevenir muito melhor e pode estabelecer políticas que minimizem a perda de vidas humanas”, enfatizou Paes.

O foco das autoridades de Defesa Civil é identificar “onde esse risco de escorregamento pode matar alguém”. Até hoje, destacou Paes, “isso sempre se deu no achismo”.
Alerta comunitário

Para cada área de risco da cidade, a Defesa Civil, preparou um sistema de alerta comunitário, um treinamento que já está em funcionamento e tem o objetivo de reforçar a colaboração da população em casos de emergência.

“O objetivo é esclarecer a informar as comunidades para reduzir os danos e torná-las participativas”, afirmou o subsecretário de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões.

Um grupo de cerca de 1.800 agentes comunitários capacitados pela Defesa Civil já atuam em 25 favelas atendendo a cerca de 40% de famílias situadas em áreas de risco.

Na manhã de hoje, representantes das 85 associações de moradores de todas as favelas identificadas como áreas de risco pela Geo-Rio foram convocados para receberem cartilhas, um telefone celular de comunicação com a rede da prefeitura, além de orientações de como proceder em casos de alerta.

“A informação foi muito esclarecedora. Não é a solução do problema, mas a gente tem que prevenir”, disse Roberta Ferreira, presidente da associação de moradores do Morro do Borel, na Tijuca, zona norte do Rio.

Em abril do ano passado, explica Roberta, “nós passamos perrengue com as chuvas, 200 famílias ficaram desabrigadas e três pessoas morreram”.

O Borel, onde vivem cerca de 20 mil pessoas, tem áreas altas de muito risco e o desafio será orientar a população de como se proteger.

“A gente vai começar a avisar os moradores para não gerar pânico. Agora isso dá maior segurança, vamos conversar com as lideranças locais para a gente se preparar e não ter mortes”, disse Roberta.

Para a liderança comunitária, não é fácil falar para os moradores que vivem em áreas de risco que devem deixar suas casas em momentos de muita chuva. “Mas a gente tem que conversar”.

A sensação de desamparo não existe mais, garante, “agora eles avisam a gente por telefone e a comunicação com a Defesa Civil vai ser mais fácil, a gente nunca teve isso”.

A possibilidade de remoção de famílias das áreas de risco também é levada em conta pelas autoridades, mas a prioridade, garante Eduardo Paes, é realizar obras de contenção de encostas e evitar retirar os moradores.

“Nem de longe quer dizer que a gente vai remover as 21 mil famílias. Agora inicia-se uma segunda fase do trabalho que é identificar as intervenções necessárias para que essas famílias permaneçam. Se eu puder resolver essa situação das famílias com obras de geotecnia e contenção de encostas resolveremos. Se não tiver jeito ou obra que resolva, aí sim a ordem é reassentamento. Esse estudo não significa remoção e reassentamento, ele vai servir para a Prefeitura identificar quais são aquelas áreas que precisam de obras de contenção”.

Em 2010, 47 comunidades já começaram a receber obras beneficiando cerca de três mil moradias. Já para este ano, a previsão é que mais 27 comunidades sejam atendidas, restando ainda 43 comunidades.

“Nós já temos obras em execução em cerca de 27 comunidades, significa que 2011 a gente vai tirar dessa situação de alto risco um total de 5.500 famílias”, destacou Paes.

“Se tiver uma área que tem risco e tiver que reassentar, vai reassentar, o nosso objetivo é preservar vidas. É fazer as obras necessárias para manter as pessoas onde elas moram em condições dignas e seguras”.

Eduardo Paes já adiantou que assim que tiver a oportunidade de se encontrar com a nova presidente eleita Dilma Rousseff, irá apresentar o estudo detalhado e solicitar a liberação de cerca de 170 milhões de reais captados pelo Rio de Janeiro dentro do Programa da Aceleração do Crescimento 2 (PAC2) para obras de contenção.

“A primeira reunião que eu tiver oportunidade com a presidente Dilma, vou buscar pleitear recursos para que a gente possa no prazo de até cinco anos resolver a situação da cidade do Rio”.

EcoDebate, 07/01/2011


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