EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Estudo sugere que ‘efeito placebo’ pode funcionar mesmo quando informado ao paciente

Para a maioria das pessoas, o “efeito placebo” é associado ao poder do pensamento positivo. Ele funciona pois o indivíduo acredita que está tomando uma droga real. Mas um novo estudo coloca em xeque a suposição.

Pesquisadores do Centro de Pesquisa Osher da Escola de Medicina de Harvard e do Centro Médico Beth Israel Deaconess (BIDMC) descobriram que os placebos funcionam, mesmo quando administrados sem o engodo aparentemente necessário. O estudo [Placebos without Deception: A Randomized Controlled Trial in Irritable Bowel Syndrome] foi publicado nesta quarta-feira na revista “PLoS ONE”. Da Folha.com, com informações complementares do EcoDebate.

As pílulas de placebo normalmente são usadas em ensaios clínicos como controle para potenciais novos medicamentos. Mesmo que não contenham ingredientes ativos, os pacientes costumam responder a elas. De fato, os dados sobre os placebos são tão convincentes que muitos médicos americanos –um estudo estima 50%– secretamente receitam placebos aos mais desavisados.

Como o “engano” é eticamente questionável, o professor de medicina Ted Kaptchuk uniu-se a colegas do BIDMC para averiguar se o poder de placebos pode ser aproveitado de forma honesta e respeitosa.

Para isso, 80 pacientes que sofrem de síndrome do intestino irritável foram divididos em dois grupos: um não recebeu nenhum tratamento, enquanto o outro recebeu placebos, descritos como “pílulas de açúcar”. Eles foram instruídos a tomar duas vezes ao dia.

“Não só deixamos absolutamente claro que essas pílulas não tinham ingrediente ativo e eram feitas com substâncias inertes, como realmente estampamos ‘placebo’ na embalagem”, contou Kaptchuk. “Dissemos aos pacientes que eles não tinham sequer que acreditar no efeito placebo. Bastava tomar os comprimidos.”

Eles foram monitorados por um período de três semanas. Até o final do estudo, quase o dobro dos pacientes tratados com o placebo relatou alívio dos sintomas, em comparação ao grupo que não recebeu tratamento –59% contra 35%.

Os pacientes que tomaram placebo ainda duplicaram as taxas de melhoria em um grau mais ou menos equivalente ao efeito dos medicamentos mais poderosos contra a síndrome.

‘Eu não achei que iria funcionar’, disse um dos autores da pesquisa Anthony Lembo. “Eu me senti estranho ao receitar placebo aos pacientes. Mas, para minha surpresa, parece que funcionou para a maioria deles.”

Os autores advertem que o estudo é pequeno e limitado, e apenas abre portas para a noção de que os placebos são eficazes, mesmo para os devidamente informados. A hipótese ainda deve ser confirmada em estudos maiores.

O estudo “Placebos without Deception: A Randomized Controlled Trial in Irritable Bowel Syndrome”, publicado na PLoS ONE, está disponível para acesso integral, no formato HTML. Para acessar o estudo clique aqui.

Para maiores informações transcrevemo, abaixo, o abstract:

Placebos without Deception: A Randomized Controlled Trial in Irritable Bowel Syndrome
Abstract Top
Background

Placebo treatment can significantly influence subjective symptoms. However, it is widely believed that response to placebo requires concealment or deception. We tested whether open-label placebo (non-deceptive and non-concealed administration) is superior to a no-treatment control with matched patient-provider interactions in the treatment of irritable bowel syndrome (IBS).
Methods

Two-group, randomized, controlled three week trial (August 2009-April 2010) conducted at a single academic center, involving 80 primarily female (70%) patients, mean age 47±18 with IBS diagnosed by Rome III criteria and with a score ?150 on the IBS Symptom Severity Scale (IBS-SSS). Patients were randomized to either open-label placebo pills presented as “placebo pills made of an inert substance, like sugar pills, that have been shown in clinical studies to produce significant improvement in IBS symptoms through mind-body self-healing processes” or no-treatment controls with the same quality of interaction with providers. The primary outcome was IBS Global Improvement Scale (IBS-GIS). Secondary measures were IBS Symptom Severity Scale (IBS-SSS), IBS Adequate Relief (IBS-AR) and IBS Quality of Life (IBS-QoL).
Findings

Open-label placebo produced significantly higher mean (±SD) global improvement scores (IBS-GIS) at both 11-day midpoint (5.2±1.0 vs. 4.0±1.1, p< .001) and at 21-day endpoint (5.0±1.5 vs. 3.9±1.3, p = .002). Significant results were also observed at both time points for reduced symptom severity (IBS-SSS, p = .008 and p = .03) and adequate relief (IBS-AR, p = .02 and p = .03); and a trend favoring open-label placebo was observed for quality of life (IBS-QoL) at the 21-day endpoint (p = .08). Conclusion Placebos administered without deception may be an effective treatment for IBS. Further research is warranted in IBS, and perhaps other conditions, to elucidate whether physicians can benefit patients using placebos consistent with informed consent. Trial Registration ClinicalTrials.gov NCT01010191 Citation: Kaptchuk TJ, Friedlander E, Kelley JM, Sanchez MN, Kokkotou E, et al. (2010) Placebos without Deception: A Randomized Controlled Trial in Irritable Bowel Syndrome. PLoS ONE 5(12): e15591. doi:10.1371/journal.pone.0015591 Editor: Isabelle Boutron, University Paris Descartes, France Received: August 24, 2010; Accepted: November 13, 2010; Published: December 22, 2010 This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Public Domain declaration which stipulates that, once placed in the public domain, this work may be freely reproduced, distributed, transmitted, modified, built upon, or otherwise used by anyone for any lawful purpose. Funding: This study was partially supported by grant K24 AT004095, R01 AT00402-01 and R01AT004662 from National Center for Complementary and Alternative Medicine-NIH and in part from a gift from The Bernard Osher Foundation. The opinions expressed by the authors are their views alone and do not reflect the official views or policy of the National Center for Complementary and Alternative Medicine, National Institutes of Health, Public Health Service or the U.S. Department of Health and Human Services. The funders had no role in study design, data collection and analysis, decision to publish, or preparation of the manuscript. Competing interests: AJL has worked as a consultant for Ironwood, GSK, Salix, Alkermes, and Ardelyx. These companies have had no relationship to this study. All other authors report no competing interest or appearance of competing interest. * E-mail: ted_kaptchuk@hms.harvard.edu EcoDebate, 28/12/2010

[T][TT]


Compartilhar

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

One thought on “Estudo sugere que ‘efeito placebo’ pode funcionar mesmo quando informado ao paciente

  • O efeito placebo merece mais estudos quando se trata de medicamentos químicos, hoje monopolizados pelas Bigs Farmas, a multibilionária indústria farmacêutica.
    Porquê? Pelo fato de que seus ensaios clínicos simplesmente sumam com o efeito placebo dos medicamentos vendidos a peso de ouro ,muitos para tratar nosografias (doenças) inventadas por esta mesma indústria,a exemplo da hipertensão e da hiperatividade…

Fechado para comentários.