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Jovens sabem da importância de seu consumo para o meio ambiente, mas ao comprar não pensam nisso

Quando a consciência não se traduz em ação – Os jovens estão conscientes de que podem influenciar a sociedade comprando produtos a partir de critérios éticos, sociais e ambientais. A maioria considera que os cidadãos têm responsabilidade pessoal na escolha de produtos e serviços. Apesar disso, o preço ainda aparece em primeiro lugar como critério de escolha. O fato de o produto ser amigável ao meio ambiente está relegado ao oitavo lugar entre as preocupações desses consumidores. Esse é o retrato traçado pela pesquisa Juventude, Consumo e Cidadania, realizada pelo Centro de Altos Estudos da ESPM (CAEPM), que entrevistou 457 jovens paulistanos e cariocas com idades de 16 a 24 anos. Reportagem de Luciana Casemiro, em O Globo.

O levantamento, que replica pesquisas realizadas com jovens de Bélgica, Suécia e Canadá, deve ser estendido a todo país no próximo ano, incluindo consumidores acima dos 25 anos, segundo Fátima Portilho, uma das autoras do trabalho. O que se pode dizer até aqui, diz Fátima, mestre em Psicossociologia das Comunidades e Ecologia Social e doutora em Ciências Sociais, é que as entrevistas refletem o fato de haver uma representação da importância do consumo como atitude política:

No Brasil existem indícios que apontam para a politização do consumo. A maioria dos entrevistados concorda que o consumo é uma forma de influenciar para um mundo melhor. No entanto, há uma grande diferença entre atitude e comportamento. Considerar importante uma empresa ou produto ser ambiental e socialmente responsável não necessariamente quer dizer que os jovens pensem nisso na hora de comprar.

Fátima destaca que nesse aspecto os jovens europeus e canadenses têm o discurso mais alinhado à prática, adotam atitudes mais concretas. Naqueles países, o consumo como ação política, ressalta a especialista, está mais consolidado do que no Brasil:

A cultura da política reivindicatória ainda está mais vinculada aos direitos básicos. Nosso processo de construção da cidadania ainda é recente, e a esfera do consumo como direito fundamental ainda não foi despertada em todo seu potencial. Prova disso é que para a maioria dos jovens o voto é, disparado, a sua principal ação política.

Ação consciente pode ser retardada pela demora em sair de casa

A diferença de comportamento entre os jovens europeus e canadenses e os brasileiros está ligada à família, avalia Lívia Barbosa, diretora do CAEPM e autora da pesquisa:

“Na Europa e nos Estados Unidos, os jovens costumam sair mais cedo de casa, aos 17, 18 anos. Aqui, aos 24, 25 anos. Isso não quer dizer que nossos jovens não estejam informados corretamente, mas a ação é relegada porque é da família a responsabilidade pelo abastecimento. A pesquisa mostra que quanto mais velho, mais atuante é o jovem politicamente. A estrutura familiar brasileira exige pouco a participação do jovem em casa. O jovem não tem ideia de quanto custa se manter.

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade de Chicago e doutora em Antropologia Social pela UFRJ, Lívia destaca que, atualmente, o grande impacto ambiental não está relacionado ao consumo de supérfluos, mas a hábitos cotidianos como uso de carro, estilo de alimentação, tempo de banho etc.

“O desafio a partir dessa pesquisa é entender por que o jovem não age da maneira que pensa” antecipa a antropóloga, que tem uma visão otimista para o futuro. ? Provavelmente, teremos uma geração de adultos mais atuantes do que a atual. Precisamos pensar uma economia verde que gere trabalho, mudar a cultura, não caminhar para o autoritarismo de querer definir para todos o que é ou não supérfluo para seu consumo.

Gabriela Hemosilla, estudante de Direito, de 18 anos, e Victor Machado, no segundo período de Comunicação, de 19 anos, encaixam-se no perfil traçado pelo levantamento. Exemplares da geração Y, dos jovens conectados, ambos são membros do conselho editorial da revista “Megazine” e, apesar de conscientes da importância de suas ações como consumidores, admitem: ainda fazem muito pouco pelo meio ambiente.

“Costumo ver nas embalagens se o produto é biodegradável, se a matéria-prima é de reflorestamento, mas não chego a entrar na internet para saber informações sobre a empresa. Por outro lado, acho errado cobrarem mais caro pelos produtos corretos. Tentar reverter os malefícios que a indústria provoca deveria ser uma obrigação. Gostaria de consumir verduras sem agrotóxico, por exemplo, mas é muito mais caro. Fica difícil” queixa-se Gabriela, alinhada aos 45% dos jovens entrevistados pelo levantamento que relataram o preço mais alto como a maior dificuldade em consumir produtos “corretos”.

Victor, por sua vez, já adotou o uso de cadernos com papel reciclável e afirma que o consumo sustentável entre os amigos pode, sim, influenciar a compra da “galera”.

“As pessoas estão mais ligadas no lado individual do que preocupadas com o bem estar coletivo. A questão da saúde já está mais incorporada às preocupações cotidianas, mas o meio ambiente e a responsabilidade social ainda não. Mas acredito que há potencial para desenvolver essa sensibilidade com campanhas nesse sentido” diz o estudante.

O discurso do estudante reforça outro dado do levantamento que mostra os benefícios à saúde dos produtos como uma preocupação de 43% dos pesquisados. Já o impacto ambiental e social mereceu atenção de apenas 10% dos jovens. Aliás, 81% dos entrevistados admitiram que sequer se informam sobre essas questões antes de fazer a compra.

A pesquisa foi feita pelo CAEPM, em parceria com o Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, da UFRRJ, e financiamento do Santander. Além de Lívia e Fátima, o estudo é assinado por John Wilkinson e Veranise Dubeux.

Lei a pesquisa, no formato, PDF, clicando aqui.

EcoDebate, 07/12/2010

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