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Depressão e pânico afetam cada vez mais quem trabalha como operador de teleatendimento

Doenças como depressão e síndrome do pânico têm se tornado recorrentes entre os que trabalham como operadores de teleatendimento, afirmam especialistas

A pressão por resultados e cumprimento de metas têm tornado doenças como depressão e síndrome do pânico recorrentes em quem trabalha como operador de teleatendimento. A constatação é de dois especialistas ouvidos pela Agência Brasil.

De acordo com a pesquisadora de sociologia do trabalho da Universidade de Campinas (Unicamp), Selma Venco, não há registros precisos sobre a quantidade de teleatendentes afetados por doenças psicológicas causadas pelo estresse do trabalho. No entanto, a socióloga afirma que, nas empresas pesquisadas por ela, de cada dez trabalhadores do setor de teleatendimento, sete apresentam algum distúrbio de natureza psíquica.

“As doenças aparecem exatamente por conta da pressão a que são submetidos”, explicou. “Existem relatos de supervisores que usam martelo de plástico, aquele de carnaval, para bater na cabeça dos supervisionados. Outros, que usam uma varinha de madeira, sem contar a questão verbal dessa pressão, que chega no limite da agressão”.

O médico do trabalho Airton Marinho, que desenvolveu uma pesquisa de pós-graduação na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre o setor, constatou que os operadores de teleatendimento pesquisados chegavam a ter “intimidade” com medicamentos contra doenças como a depressão. Os profissionais analisados apresentaram um conhecimento grande, e incomum, dos nomes de medicamentos antidepressivos. Os teleatendentes também declararam que se consultam, com frequência, com psiquiatras e psicólogos.

“É muito estranho que essas pessoas, jovens, ainda em uma fase da vida que deveria ser boa, procurem atendimento psicológico, psiquiátrico e tomem muitos remédios controlados, antidepressivos e remédio para dormir”, disse Marinho.

O presidente executivo do Sindicato Paulista das Empresas de Telemarketing, Marketing Direto e Conexos (Sintelmark), Stan Braz, afirmou que a pressão imposta aos empregados não é exclusividade do setor. “O que a gente precisa entender é que tem algumas coisas que não são do setor, é da sociedade moderna. E pelo número grande de trabalhadores no setor, os números aparecem mais. Hoje, na sociedade moderna, quem não tem estresse? Quem não tem meta? Quem não tem depressão?”.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing (Sintratel), os transtornos psíquicos são responsáveis por 27% dos casos de adoecimento no setor, os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort) respondem por 39%, problemas de audição e de voz, 25%; outros, 9%.

De acordo com o Sintratel, o setor de teleatendimento cresceu 550% na última década e hoje emprega mais de um milhão de pessoas em todo o país. O setor emprega, na maioria (70%), jovens com idade entre 18 e 26 anos e que recebem, em média, R$ 750 por mês de salário.

Reportagem de Bruno Bocchini, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 14/10/2010

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