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Não estamos tão sós, artigo de Maurício Gomide Martins

[EcoDebate] O relatório do IPCC de fevereiro de 2007 foi um documento muito suave sobre a verdadeira situação ambiental do planeta. O rascunho, elaborado com base nos estudos de 2.500 cientistas, sofreu alterações bastante significativas por representantes de diversos países. Alguns estranharão a presença e força desses países na intromissão de um assunto exclusivamente científico. É que a reunião foi proporcionada pela ONU – clube internacional destinado a legitimar ações políticas e militares dos interesses econômicos mundiais – tendo os governos respectivos o direito de se representarem nas decisões dos cientistas.

É preciso que se entenda que os homens de ciência estão inseridos no sistema econômico. Cada um deles tem algum emprego, família, filhos e nenhum vai querer bancar herói quixotesco. As conseqüências para eles seriam lamentáveis. Os heróis de hoje são “sepultados” vivos.

[Leia na íntegra]Todo o rascunho do relatório passou pelo crivo dessa corporação de “oniscientes” governamentais. Como os governos são representantes da estrutura econômica, quem ditou os termos finais e definitivos foi o sistema vigente, sustentado pelos “donos do mundo”. Os países que mais interferiram no assunto, foram os EE. UU., a Arábia Saudita e a Índia. Daí é fácil calcular que alguns termos realísticos do relatório foram banidos. Naturalmente que os cientistas argumentaram, pediram, imploraram, mas o “punho de ferro”, a autoridade dos que sabem mais que os cientistas, é que deu a última palavra.

Assim, por concessão bilateral, o foco do relatório passou a ser o “aquecimento global”, termo brando e suscetível de ser discutido e refutado por “cientistas” de encomenda, fáceis de ser encontrados e seduzíveis pelo metal sonante.

A realidade histórico-ambiental em que nos encontramos é extremamente séria, muito mais incisiva do que ficou transpirado no citado documento. Aquecimento global é apenas uma das conseqüências; a mais imediata, a mais visível, a mais discutível, a mais maleável. A que aparece primeiro.

O meio ambiente do planeta não foi simplesmente construído; foi o resultado do embate de forças cósmicas e locais. É, portanto, um sistema vivencial estabelecido pela atuação de forças naturais. Está em equilíbrio, sofrendo contínuas ações circunstanciais de alteração que, em conseqüência, produzem as reações adequadas de adaptação, gerando evoluções. Evolução não significa necessariamente melhorar, mas adequar-se. As qualificações “melhorar” ou “piorar” são avaliações antropocêntricas. Meio ambiente é, portanto, o ponto oscilante do equilíbrio necessário à Vida. Pode ser pontual, regional ou geral. As condições gerais são as essenciais, básicas, que abarcam toda a biosfera. E esta é tênue, cheia de limites, mas que se mantém graças aos fatores atuantes de correção do desequilíbrio. Eis a pedra de toque: equilíbrio. Isso não precisa ser explicado; todos sabem que sua perturbação produz o desequilíbrio, situação em que os elementos energéticos de um sistema quebram a estabilidade, estabelecendo o predomínio de forças caóticas.

O relatório do IPCC, se de livre manifestação, teria posto a situação sob o enfoque do equilíbrio vivencial e, como conseqüência, que as medidas a ser tomadas deveriam ter o caráter de urgência. Mesmo assim, aquele relatório lavrou um tento quando identificou o causador desse mal: a estrutura econômica, mas foi obrigado a suavizar seu nome, chamando-o de “causa antropogênica”. Com isso, distribuiu a culpa para todos, indistintamente. Até o mendigo miserável e alheio ao mundo tornou-se responsável pelos crimes ambientais.

Visto dessa forma, fica explicito que a situação histórica por que passa a humanidade é gravíssima. O sistema civilizatório atual, calcado numa estrutura socioeconômica degenerativa, está desequilibrando todas as condições de vivência. E o desequilíbrio leva a Natureza a procurar outras condições para voltar à estabilidade, estabelecendo situações diferentes, completamente adversas à vida conhecida atualmente. Afinal, os interesses cósmicos que obedecem a leis categóricas se sobrepõem aos do “homo sapiens”.

Não há gratuidade nas considerações acima. Recentemente, tomamos conhecimento de diversas declarações que corroboram a visão externada de desequilíbrio e urgência. Segundo relatório da London School of Economics, por encomenda da ONG britânica Optimum Population Trust, o controle de natalidade para redução gradual da população mundial deve ser considerado pelas autoridades. O presidente daquela ONG Roger Martin, acompanhado de personalidades importantes, como o naturalista Richard Attenborough e o cientista James Lovelock, declarou à imprensa que esse assunto não é amplamente discutido porque é considerado, pelas esferas religiosas mundiais e pela ética social, um tabu, algo inteiramente irracional neste período histórico de decisões.

Informa ainda o relatório que, em termos de carbono, o mundo recebe, pelos nascimentos de humanos, 1,5 milhão por dia, ou 80 milhões por ano de novos emissores. Se a gravidez mundial for reduzida em 40%, isso equivale, até 2050, a 34 bilhões de toneladas de CO2 a menos.

Falar de antropogenia começa por referir ao seu ninho produtor: natalidade humana. Mas isso não atende aos interesses do sistema econômico; diminuiria muito o potencial consumidor.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 07/10/2010

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