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Artigo

A Vitória de Marina, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

Roberto Malvezzi (Gogó)
Roberto Malvezzi (Gogó)

[EcoDebate] Marina é a única vitoriosa nessa eleição. Lula e Dilma perderam – ainda que venham a ganhar – e o tucanato praticamente foi extinto. Necessariamente terá que haver uma nova formatação partidária no Brasil. Aqui na Bahia, toda descendência política de ACM foi eliminada. O que parecia insuperável há dez anos, hoje politicamente não existe mais.

Nesses últimos anos o PT e Lula deram-se ao luxo de jogar a ética no lixo, de desprezar amigos de caminhada, de eleger “os ambientalistas, índios, negros e ministério público” como “inimigos do desenvolvimento”. Ironizou “as pererecas e os bagres”. Violou os direitos coletivos de indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais em nome do desenvolvimento. Promoveu a volta das grandes obras como barragens, transposição e introduziu o Brasil no rol das energias sujas, como atômica, termoelétricas, daí por diante. O dialogo foi impossível e os protestos foram inúteis. Estavam seguros que não haveria reação, muito menos eleitoral.

[Leia na íntegra]Marina quebrou o plebiscito estabelecido por Lula e injetou a causa ambiental no cenário político. Estamos falando de questões essenciais, não de bobagens que podem ser ironizadas a qualquer preço.

Vai depender de Marina. Se ela quiser pensar mais fundo o modelo econômico e energético, se quiser ter mais proximidade com os movimentos sociais, com as bases, de onde ela veio. Se ela não se esquecer de sua causa, de seus aliados. Se for capaz de aglutinar, não permitindo que o rei cresça em sua barriga, imaginando que seja a melhor ou até mesmo a única. Até hoje tem sido simples, humilde e, fora as contradições que protagonizou no próprio governo Lula, tem sido coerente.

Marina e sua causa venceram e trás consigo 20 milhões de votos, sem máquina, como presença estranha no jogo. Tem méritos. Se mantiver sua coerência, diante dos desastres dantescos promovidos pelas questões ambientais, particularmente as mudanças climáticas, será presidente do Brasil. Os caminhos da história passarão por aí.

Nesse segundo turno a gente evita o pior dos piores.

Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do EcoDebate, é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT.

EcoDebate, 05/10/2010

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6 thoughts on “A Vitória de Marina, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • VLADIMIR SAFATLE

    Marina Silva em Wall Street
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    Com o programa econômico mais liberal entre todos, PV apresentou o novo centro, com roupagem “moderna”
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    “Wall Street” é, entre outras coisas, o nome do novo filme do cineasta norte-americano Oliver Stone. Ele conta a história da crise financeira de 2008 tendo como personagem central um jovem especulador financeiro que parece ter algo semelhante ao que um dia se chamou pudor.
    Sua grande preocupação é capitalizar uma empresa, que visa produzir energia ecologicamente limpa, dirigida por um professor de cabelos brancos e ar sábio. O jovem especulador é, muitas vezes, visto pelos seus pares como idealista. No entanto, ele sabe melhor que ninguém que, depois do estouro da bolha financeira, os mercados irão em direção à bolha verde. Mais do que idealista, ele sabe, antes dos outros, para onde o dinheiro corre. Enfim, seu pudor não precisa entrar em contradição com sua ganância.
    Neste sentido, “Wall Street” foi feliz em descrever esta nova rearticulação entre agenda ecológica e mundo financeiro. Ela talvez nos explique um fenômeno político mundial que apareceu com toda força no Brasil: a transformação dos partidos verdes em novos partidos de centro e o abandono de suas antigas pautas de esquerda.
    A tendência já tinha sido ditada na Europa. Hoje, o partido verde alemão prefere aliar-se aos conservadores da CDU (União Democrata-Cristã) do que fazer triangulações de esquerda com os sociais-democratas (SPD) e a esquerda (Die Linke). Quando estiveram no governo de Schroeder, eles abandonaram de bom grado a bandeira pacifista a fim de mandar tropas para o Afeganistão. Com o mesmo bom grado, eles ajudaram a desmontar o Estado do bem-estar social com leis de flexibilização do trabalho (como o pacote chamado de Hartz IV). Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes do partido verde francês, fez de tudo para viabilizar uma aliança com os centristas do Modem. Algo que soaria melhor para seus novos eleitores que frequentam as praças financeiras mundiais.
    No Brasil, vimos a candidatura de Marina Silva impor-se como terceira via na política. Ela foi capaz de pegar um partido composto por personalidades do calibre de Zequinha Sarney e fazer acreditar que, com eles, um novo modo de fazer política está em vias de aparecer. Cobrando os outros candidatos por não ter um programa, ela conseguiu esconder que, de todos, seu programa era o economicamente mais liberal. O que não devia nos surpreender. Afinal, os verdes conservaram o que talvez havia de pior em maio de 68: um antiestatismo muitas vezes simplista enunciado em nome da crença na espontaneidade da sociedade civil.
    Não é de se estranhar que este libertarianismo encontre, 40 anos depois, o liberalismo puro e duro. De fato, a ocupação do centro pelos verdes tem tudo para ficar. Ela vem a calhar para um eleitorado que um dia votou na esquerda, mas que gostaria de um discurso mais “moderno”. Um discurso menos centrado em conflitos de classe, problemas de redistribuição, precarização do trabalho e mais centrado em “nova aliança”, “visão integrada” e outros termos que parecem saídos de um manual de administrador de empresas zen. Alguns anos serão necessários para que a nova aliança se mostre como mais uma bolha.
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    VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.

  • A Marina é um cavalo de tróia que alcansou o objetivo da máfia verde usando de apoio a máfia evangélica. Que ingenuidade a sua Malvezi, o vice nem mora no Brasil, e além de tudo qual a experiência de administração da “eco heroina” Veja no vebsite e conheça mais, afinal $90.000.000,00, e mais o apoio da pig para invadir o governo e participar da pilhagem. Malvezi leia MÁFIA VERDE evite ser confundido com a prostituição que vive o nosso noticiário.

  • Parabéns ao Roberto Malvezzi pela sua luta pela formação das consciências e defesa dos Direitos Humanos. Parabéns à Marina Silva pela sua luta pelos Direitos Difusos, que são o novo èthos mundial em direção ao futuro, pois representam a luta pelos Direitos Humanos. Bravo para o Malvezzi! Bravo para a Marina, para o eleitor e para o Brasil!

  • Roberto Malvezzi

    Marina apresenta-se sim como um capitalismo verde, para quem gosta de rótulos. Mas, o da Dilma é da cor das carvoarias.Serra está fora de consideração.

    O que está em questão é chave: estão sendo solapados os bens naturais desse país; as populações indígenas não conseguem ver seus territórios respeitados, como os quilombolas, como as populações tadicionais. Questões como Belo Monte e Transposição não tem apenas impacto local. É uma questão de visão de mundo, de rumos de país, de futuro de planeta. Hoje o São Francisco, depois de 70 anos medindo seu volume, está com o nível mais baixo de sua história. Mas as grandes obras de saque de suas águas continuam. Eu me pergunto que país vamos deixar para os nossos filhos em bases naturais.
    O pensamento binário não consegue compreender a complexidade do momento e grande parte de nossas esquerdas está presa no pensamento binário. Marina, com todos seus paradoxos acima citados, “paradoxou” as eleições.

    Acredito na construção de uma sociedade mais justa para o século XXI, se quiser socialista, não baseado nas referências do século XIX ou XX. Se quisermos ter presença real, transformadora nesse Brasil que está sendo arrasado, temos que considerar as questões ambientais como de hoje, agora, sem rodeios.
    Por mais limitado que seja, Marina cumpriu esse papel paradoxal nesse momento.

    Se não fosse assim, não estaríamos aqui discutindo.

  • Concordo com sua análise e raciocínio, mas não sei se a sua conclusão é a mesma que a minha: se Dilma e Lula foram responsáveis pelo vale-tudo da maior devastação de nossa história, do maior lucro dos banqueiros de nossa história, da maior corrupção (com os maiores corruptos apoiando Dilma), se Belo Monstro e transposição foram empurrados desprezando todas as comunidades, a única saída é Serra. Alguém diante desse quadro quer a continuidade da degradação flagrante dos valores e princípios, o cerne do “projeto” de Dirceu? Não tenho vínculo partidário nem procuração para defender Serra, mas ao menos conhecemos os limites de sua competência e de suas falhas como governante que foi e é.

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