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Artigo

Os perigos da ‘ração humana’, artigo de Américo Canhoto

ração humana
Foto: Reprodução / TV Globo / pe360graus

[EcoDebate] Perigosamente somos a sociedade dos modismos – a moda da hora é a tal de ração humana – já tem até especialista pós-graduado em ração humana – breve vai virar matéria curricular das escolas de nutrição. Feito mineiro, eu sou meio desconfiado dessas novidades.

Um casal amigo meu aderiu a essa prática alimentar. Claro que a idéia foi da mulher dele, televisiva e revisteira superantenada em todas as novidades da hora. Ela comprou a idéia sem titubear; e caiu na pegadinha do emagrecer sem fazer força só na base da ração. Esqueceram de dizer prá ela que a maioria das marcas de ração engorda prá caramba, ela tá parecendo um “salsichinha” já meio estilo linguiça toscana – sei não; muquirana do jeito que ela é deve ter comprado dessas a granel ou feita em fundo de quintal. Não prestou atenção e imagina que toda ração serve prá qualquer tipo de bicho humano, com pêlo, sem pêlo, com pena sem pena…

Sobrou para o eu, o ouvido marmitão conselheiro estilo beagle.

[Leia na íntegra]– Meu, a coisa tá braba; depois que a ração entrou lá em casa!

Achei que ia virar um gato esbelto tratado a ração de grife; mas, tô me sentindo um buldogue.

O pior é que meu pêlo tá caindo mais do que antes; daqui a pouco não vai ter um fio de pêlo; mas, até os pêlos do corpo estão caindo; ela falou que meus cabelos iam parar de cair com essa ração balanceada e vitaminada; acho que ela não leu direito deve estar escrito: vitamina nada.

Tô comendo escondido – que saudades da comidinha da mamãe e da nona. Aquilo não me tira a fome; pior que pareço o “cido” nosso cachorro; escondi comida pela casa toda; ainda bem que não enterrei.

Me dá uma vontade louca de fazer xixi sempre que passo perto de um poste; outro dia á noite dei uma mijadinha num; ainda bem que não levantei a perna; e, ninguém viu.

Uma vantagem foi que o cocô dá até prá pegar com a pázinha; a economia de papel está grande.

A vida sexual degringolou não agüento mais a posição cachorrinho; o pior é que faz tempo que ela não entra no cio. E prá danar as coisas, passei a sentir por aí quando a mulherada está matando cachorro a grito.

Nossa relação complicou; ela anda me tratando feito cachorro; outro dia me ameaçou de dormir na casinha do cido – ainda não mordo nem dou latidos; mas, estou rosnando prá caramba; qualquer contrariedade eu rosno.

Ainda bem que quando estou feliz não balanço o rabinho; mas, outro dia gritaram na rua: vem cá totó! E eu atendi; que vergonha!

Disse prá ele:
– Cara; faz greve de fome!
– Acho que não adianta; ela disse que foi a invenção mais prática que já fizeram; que é o futuro da alimentação da humanidade – e que, está pensando em doar o fogão e as tralhas da cozinha.
– Sei lá; foge de casa; vira cachorro de rua!
– Não vai funcionar!
– Fala que ela está a cada dia, mais gorda!
– Pior, ela vai querer que eu a leve para passear todo dia!
– Põe laxante na ração dela!
– Pior, ela vai adorar e vai dizer que a ração melhorou seu intestino!
– Tem sabor esse troço?
– Já tem sim; e a sofisticação já entrou até nos consultórios; você tira sangue e eles montam uma ração especial prá você – na minha já tem até carne desidratada.
– Meu amigo; desisto, não tem jeito; se vocês aparecerem por aqui, eu vou chamar a carrocinha – vai que essa moda pega… Passa lulú!

A maioria das pessoas que comem ração humana vai engordar – não é praga de urubu, não; nós mais comemos do que nos alimentamos; como seqüela da educação; nós ainda permanecemos na fase oral; e com TOC, tamanho o valor dado para a comida durante nossa infância; a maioria das sociedades valorizam demais uma mesa farta e variada, e isso é reforçado pelos conceitos da sociedade consumista, que apregoa o “quanto mais; melhor”, para que vende, claro, e como a maioria dos consumidores é constituída por avessos ao ato de pensar e refletir firmou-se o conceito: quanto mais se come mais saúde se tem ou estes primores: “Desta vida só se leva o que se come, e o que se bebe!, Graças a Deus não perco jamais o apetite!”

Em época de ansiedade á toda; as pessoas vão comer o que já comiam e mais a ração ou vão abusar da ração – o que serve de consolo é que serão pessoas com sobrepeso bem mais saudáveis…

Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.

* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 30/09/2010

Nota do EcoDebate: sobre o mesmo tema sugerimos que leiam, ainda, a matéria “‘Ração Humana’: Mistura para emagrecer atrai consumidores, mas especialistas alertam para risco no uso

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