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Artigo

‘Homemcídio’? artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] Entre os anos 2000 e 2007, foram assassinados no Brasil 355.612 homens. No mesmo período foram assassinadas 30.906 mulheres. Somente em 2007 foram assassinados 130 homens e 10 mulheres por dia, segundo o sistema de informações de mortalidade do DATASUS. Isto significa que a cada 2 horas uma mulher e onze homens foram assassinados no país.

Considerando apenas as vítimas do sexo masculino, foram assassinados cerca de 45 mil homens a cada ano, em média, entre 2000 e 2007, no Brasil. A dimensão desta trajédia é um problema epidemiológico sério, equivalente ao desaparecimeno de uma cidade de tamanho médio a cada ano.

[Leia na íntegra]Imaginem se entre os anos 2000 e 2007 as oito cidades seguintes tivessem sido vítimas de um terremoto ou de alguma epidemia e tivessem sido varidas do mapa: Cabelo, Paraíba (48 mil habitantes), Óbidos, Pará (48 mil habitantes), Aquidauana, Mato Grosso do Sul (46 mil habitantes), Diamantina, Minas Gerais (45 mil habitantes), Sorriso, Mato Grosso (44 mil habitantes), Rio das Ostras, Rio de Janeiro (44 mil habitantes), Presidente Dutra, Maranhão (41 mil habitantes) e Dracena, São Paulo (41 mil habitantes).

O desaparecimento de uma única cidade da lista acima provavelmente teria provocado um alarde geral. Entretanto, 45 mil homens tem sido mortos, em média, nos primeiros 8 anos da primeira década do século XXI no Brasil e muito pouco se fala e faz sobre isto, a despeito da campanha do desarmamento. No ano de 2003 morreram 47 mil homens por homicídio no país, mais do que todos os soldados americanos mortos nos 15 anos da guerra do Vietnã.

A sobremortalidade masculina que tem acontecido no Brasil é um verdadeiro genocídio, que atinge de maneira diferenciada os homens segundo a classe, a geração, a cor/raça e o local de residência. Os homens assassinados, em maior proporção são pobres, jovens (entre 15 e 39 anos), de cor preta e parda, vivendo em setores segregados ou vulneráveis das grandes cidades. Mas os homicídios atingem, em maior ou menor grau, toda a sociedade.

Infelizmente esta epidemia de assassinatos, que apresentou crescimento nos últimos 30 anos, não foi suficentemente debatido no pleito de 2010. Porém, o déficit de homens já fica evidente na população brasileira após os 20 anos de idade. A cada ano que se sobe na pirâmide demográfica maior é o superávit de mulheres. No total já são 5 milhões de mulheres a mais do que homens na população brasileira. A esperança de vida do sexo feminino supera a masculina em mais de 7 anos.

Tais desigualdades não contribuem para a equidade de gênero na sociedade. Nenhum país pode ignorar desequilíbrio de tão grande monta entre homens e mulheres na área de saúde, com reflexos em outras áreas sociais e demográficas. Quantas esposas ficam sem maridos e namoradas sem namorados? Quantas mães ficam sem filhos? Quantos filhos ficam sem pais? Quantos irmãs ficam sem irmãos?

Dezenas de milhares de vidas masculinas são ceifadas precocemente a cada ano no Brasil. Algo é preciso ser feito para interromper os assassinatos que são um grave problema de saúde pública. Tantas mortes, que poderiam ser evitadas, constituem um fenômeno que pode ser descrito como um verdadeiro “HOMEMCÍDIO” e que precisa entrar na agenda dos graves problemas nacionais a serem imediatamente enfrentados.

Referência:
ALVES, J.E.D. & CORREA, S. Violência letal e gênero: decifrando números obscenos?, CLAM, Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2010

José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

EcoDebate, 30/09/2010

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