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Artigo

A ‘rês-pública’ – A vaca das divinas tetas, artigo de Júlio Wandam

"Ideologia, eu quero uma para viver" - Cazuza

[EcoDebate] O Político, Filósofo e Estadista Marcus Tullius, em 55 antes de Cristo, nos ensinou em suas sábias palavras, que o Orçamento Nacional, assim como as contas públicas deveriam ser equilibradas e reduzidas, mas que também a arrogância das autoridades deveria ser moderada e controlada. Dizendo-nos que os pagamentos a Governos deveriam ser reduzidos, ‘se a nação não quiser ir à falência’.

Para ele, as pessoas deveriam aprender a trabalhar, em vez de viver pela conta pública. Naquela época, já era praxis a ‘boquinha’, a velha ‘teta pública’.

Milênios depois e toda a história da Democracia e República invertidas e sem o principio norteador bem definido, encontramos diversas formas de falar da mesma situação: o povo brasileiro precisa aprender a voltar a trabalhar e deixar de esperar a Bolsa-Família, deixando de esperar o ‘ranchinho’ a cada eleição, ou o copo de cachaça, o ‘brasilit’ para sua casinha, uns “dez pila”; – um ‘empreguinho’ para meu filho, típicos contratos de risco feito a cada pleito eleitoral, onde o risco é de todos, até para aqueles que não votam em ninguém.

Nossa realidade, conforme nos ensinou Getúlio Vargas no século passado é a mesma, quando ele sentencia uma lei que ficou na história do Estadista gaúcho, que se vivo fosse, iria ‘se matar’ várias vezes caso soubesse das coligações “supra-ideológicas” do momento, ou das propinas recheando malas, malinhas e malões, bolsas, cuecas, aviões; meias em geral, tudo em nome da estabilidade política.

Dizia ele décadas atrás, que “Os ministérios se compõem de dois grupos. Um formado por gente incapaz e outro por gente capaz de tudo”.

Pois bem, assim como os Ministérios, as Secretarias de Estado e dos Municípios brasileiros estão repletas desta gente que Getúlio conheceu bem, podendo inclusive ser estes “os que agem nas sobras, nos governos por detrás dos bastidores”, uma suposição apenas, pois suas capacidades são limitadas.

Então a Coisa-Pública é uma ‘coisa’ na acepção da palavra, quando encontramos uma verdadeira máquina que cresce a cada mandato, a cada partido que assume o comando do país, a cada contrato com empreiteiras.

E a cada partido no comando, encontramos um Governo que deveria por lógica atender os interesses da população, mas que em verdade ajudam despudoradamente aqueles que antes se manifestava repúdio ‘pela exploração da mão-de-obra dos brasileiros’. Nunca antes neste país, os banqueiros ganharam tanto dinheiro, só para exemplificar.

Segundo Platão, o mesmo que escreveu ‘A República’, a democracia é uma das maneiras de Governar. Hoje em dia democracia é onde os pobres e políticos corruptos encontram ‘seu nirvana’ pessoal, individual. Platão afirmava isso há milênios, desconhecendo as mazelas e fatos de nosso cotidiano.

A República não é mais uma opção de sociedade, de viver juntos e em harmonia, com leis, direitos e deveres cumpridos por todos – ética como base de se fazer a ação política para os demais cidadãos de suas comunidades.

Faz tempo que a ‘rês-pública’ foi dividida em cortes ‘cirúrgicos’, uma vaca de divinas tetas para todos os gostos e ideologias partidárias, num guarda-chuva de benesses e favores políticos para os “novos Companheiros” da direita, do centro, da esquerda, dos sindicatos, das escolas de samba, da imprensa, enfim…

O que precisamos, conforme Tullius ensinou-nos milênios atrás, é acabar com a arrogância dos políticos, até mesmo porque manifestam com suas ousadas atitudes anti-eleitorais e anti-democráticas, que estão preocupados com uma possível “perda do poder”, que poderá nos mostrar outra faceta na ‘Terra Brasilis’, quando a população brasileira começar a pensar por sua conta própria (pela cabeça) e não pela “barriga”, como em 2000 afirmava o candidato Petista. “Lamentavelmente no Brasil, o voto não é ideológico; lamentavelmente as pessoas não votam partidariamente; lamentavelmente você tem uma parte da sociedade, que pelo alto grau de empobrecimento, ela é conduzida a pensar pelo estomago e não pela cabeça”. Desta forma, se manteve a direita no poder muito tempo, dando ao povo os “bolsa isso, ticket aquilo”, o ‘Panis et Circus’ de sempre, as mesmas miçangas e espelhinhos de Cabral para os índios.

Hoje, sabemos que o Programa Bolsa-Família é o carro-chefe da esquerda ‘modificada ideologicamente’ para amealhar votos nos rincões perdidos deste Brasil, na continuidade do mesmo sistema podre, com o povo pensando pelo estômago e não pela cabeça, sem consciência alguma de cidadania. Acreditam em piadas e riem de sua própria desgraça, da falta de ideologia, cidadania, consciência proba e ética dos que lhes roubam até a esperança.

Se voltarmos ao passado não muito distante de nossa história política e democrática, 30 anos apenas nos separam, encontraremos diversas afirmações que com o tempo se desmerecem, se alteram, sendo as atuais coligações políticas e partidárias de fato um escárnio a nossa inteligência, um deboche ao povo brasileiro, sem argumentos que possam explicar ao povo que partido e político são tudo iguais. Só mudam as cores das bandeiras.

E o produto ‘ideologia’ está fora das prateleiras do Senhor Mercado, faz tempo!

Júlio Wandam é Ambientalista e membro da REDE do Movimento Ambientalista Os Verdes de Tapes/RS.

EcoDebate, 06/09/2010

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