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Artigo

Sustentabilidade empresarial e ambientalismo de mercado versus clima, artigo de Marcelo Calazanz

[Ecodebate] No turbilhão discurso da catástrofe climática como destino do planeta, a equação petróleo + árvores = clima busca passar uma mensagem simples, linear e otimista. Afinal, ainda que Copenhague tenha sido apenas mais um fracasso previsto COP após COP, desde Kyoto, o argumento climático é uma unanimidade. Corridas de automóveis, cartões de crédito, petroleiras, corais, siderúrgicas, olimpíadas, copas de futebol, o apelo ao “carbono neutro” é um universal. Quem seria contra a estabilização do clima? Quem se oporia a plantar árvores?

Na gramática da sustentabilidade empresarial e do ambientalismo de mercado, a fórmula petróleo + árvores = clima, lato senso, significa: a extração e a queima de combustíveis fósseis, seja petróleo ou carvão, podem reduzir-se pouco, podem se manter nos atuais níveis, ou mesmo aumentarem sua escala, porque poderão ser neutralizadas, com a conservação, o adensamento, plantio e manejo “sustentável” de florestas.

O mercado de carbono sempre parte desse pressuposto, de que alguém, em algum lugar, vai receber para limpar as emissões do poluidor-pagador, onde quer que esse esteja. Sem nenhum questionamento mais profundo do modelo de desenvolvimento, sem qualquer problematização do padrão produtivo e consumista, o mercado de carbono promete a reprodução e mesmo a intensificação da lógica do retorno dos investimentos, em uma nova fronteira de mercantilização do clima, onde os gases do efeito estufa são as principais commodities.

A métrica do Carbono ainda é polêmica e gera acirrada disputa metodológica entre os setores corporativos interessados neste mercado como regulador das emissões e das mitigações (petróleo, cana, eucalipto, hidroelétricas etc). De qualquer forma, o cálculo do Carbono mobiliza boa parte dos investimentos em pesquisas e inventários, seja em laboratórios empresariais, seja em universidades públicas, com a intenção de construir equações de emissão/compensação que permitam conectar sociedades, processos e territórios os mais distantes. Bancos e Bolsas de Valores se responsabilizam pela cotação do carbono. O controle do Carbono estabelece o link de mediação monetária, permitindo a manutenção da assimetria Norte-Sul: o Norte paga para poder continuar poluindo. O Sul recebe por seus serviços de sumidouros ambientais.

Na esteira dos argumentos florestais e ambientais, os grandes setores monocultores de árvores buscam agora o álibi climático, através de projetos de MDL (mecanismos de desenvolvimento limpo) e REDD (redução das emissões por desmatamento e degradação florestal), pensados como instrumentos de mercado. Sob o argumento de que plantam florestas e seqüestram CO2, as grandes corporações, os bancos de investimento e instituições financeiras vêem no mercado de carbono um novo boom para expansão dos monocultivos no Sul e do consumo de ferro e celulose no Norte.

Marcelo Calazanz é coordenador da Fase no Espírito Santo. É membro do Grupo Durban para Justiça Climática, coletivo criado África do Sul, em 2004, para discutir possibilidades realistas para enfrentar a mudança climática. Estará presente na oficina de Justiça Ambiental no Nordeste, realizada no Ceará entre os dias 25 e 28 de agosto.

* Colaboração de Bianca Pyl, para o EcoDebate, 20/08/2010

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