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Projeto educacional anti-palmadas, artigo de Américo Canhoto

[EcoDebate] Ainda bem que com o passar do tempo esse bordão está indo para o beleléu – ao menos, frente á lei, a truculência está com os dias contados – será? A dúvida é pertinente; pois, temos o péssimo hábito de não cumprir de forma justa e igualitária boas leis na letra; e cumprir ao pé da letra outras defasadas da realidade.

Para começo de conversa; não usar de castigos físicos nada tem a ver com boa ou má educação; representa apenas um mínimo de civilidade e dignidade humana.

Vamos à notícia; e, esperamos que na sua esteira o assunto educação seja mais abordado pela mídia e que mais pessoas se engajem no tema.


14/07/2010 – 09h00 – Projeto deve proibir que pais usem “palmadas” para castigar filhos

LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA
Palmadas, beliscões e outros castigos físicos aplicados a crianças e adolescentes poderão ficar proibidos, caso seja aprovado um projeto de lei a ser encaminhado nesta quarta-feira ao Congresso Nacional.

Você concorda com a proibição de palmadas contra crianças?

Lula defende projeto contra palmadas e diz que “beliscão dói”

A proposta inclui “castigo corporal” e “tratamento cruel e degradante” como violações dos direitos na infância e adolescência. Hoje, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) fala em “maus tratos”, mas não especifica os tipos de castigo que não podem ser usados por pais, mães e responsáveis.
O governo diz que, com isso, quer acabar com a banalização da violência dentro de casa, de onde sai boa parte das denúncias.

“Nossa preocupação não é com a palmada. Nossa preocupação é com as palmadas reiteradas, e a tendência de que a palmada evolua para surras, queimaduras, fraturas, ameaças de morte”, disse subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, da Secretaria de Direitos Humanos.
Para Carmen Oliveira, o Brasil deve cumprir a recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que orientou a “adoção de medidas legislativas que proíbam de forma explícita o castigo corporal contra crianças e adolescentes”.

A proposta traz as mesmas penas já previstas no ECA para pais, mães e cuidadores de crianças e adolescentes. No caso das palmadas, as medidas vão desde encaminhamento a programas de proteção à família e tratamento psicológico a advertência e até perda da guarda.

O castigo corporal poderá ser denunciado por pessoas que convivem com a família, como vizinhos e parentes, ao conselho tutelar.

O projeto propõe campanhas permanentes de conscientização dos pais e o ensino dos direitos humanos no currículo escolar.

A proposta foi levada ao governo pela rede “Não bata, eduque”, que reúne ONGs e entidades que defendem os direitos de crianças e jovens. Para Angélica Goulart, uma das articuladoras do movimento, é preciso acabar com a “cultura das palmadas”.

“É importante que pais e mães não banalizem mais esse comportamento, que prejudica o desenvolvimento das crianças. Há outras formas de educar”, afirmou.
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Nada contra a absurda proposta. Antes que alguém se ofenda; sou claro; absurda pelo seguinte viés: hoje, quem precisa agredir para se fazer ouvir; é uma pessoa agressiva e pouco competente para lidar com as dificuldades do dia a dia.

Começamos a discussão e convidamos quem dela quiser participar.

Pouca gente se interessa pela educação real e não mera instrução – mas, já temos uma ajuda de peso moral neste divertido game educacional: Ana Evechenguá – advogada ambientalista; daí uma educadora de mão cheia – bater na natureza; destruir a própria casa que nos abriga é crime tão ou mais grave do que dar umas chineladas nos filhos.

Quero ver como a maioria dos pais vai sair dessa saia justa; sem jamais partir para a ignorância. As crianças de hoje não são nem um pouco parecidas com as de ontem – e poucas pessoas se prepararam para receber estas novas safras de seres humanos; sendo criados em regime de confinamento e engorda pelo mau uso do espaço público – elas mal nasceram e já são prisioneiros do estresse crônico gerado pela neurose de competição – e, inevitavelmente, o resultado começa a aparecer:

Atualmente repetem-se diariamente as notícias sobre evasão escolar causada pelo cansaço, pelo estresse e pela doença; aumenta a cada dia a violência nas escolas e a delinqüência juvenil; nunca houve tanto consumo de drogas, bebidas alcóolicas, fumo, gravidez e aborto na adolescência; também tornou-se corriqueira a luta entre gangues rivais; e já é comum a depressão, o pânico e o suicídio de crianças e adolescentes. E, em todos os lugares e, a todo momento, pais e professores reclamam que perderam o controle. “Que não podem mais com a vida deles”…

Em todas as camadas da população; pais e filhos se entendem cada vez menos e ninguém tem tempo para ninguém.

Discutir palmadas, beliscões e outras agressões perpetradas pelas famílias é saudável; mas, não resolve as questões principais: O que é ser um bom pai? O que é ser uma boa mãe? Quais as qualidades de um bom pai? E de uma boa mãe? E, o que é ser um bom filho?

Quantos de nós que hoje nos achamos bons pais e mães e até bons educadores constataremos, dia menos dia, nossa pouca capacidade e falta de qualidade para essa tarefa. Quando pensamos estar ajudando, atrapalhamos; quando imaginamos evitar sofrimento; criamos o sofrer futuro.

Quanto mais facilidades oferecemos neste momento, mais dificuldades criamos para eles no futuro próximo ou distante.

Será que viver é estar permanentemente se educando? A vida em si, não será um fato educativo?

A principal tarefa dos pais com relação aos filhos é com certeza ajudar ativa e efetivamente a educá-los para a vida. O problema maior é que a maioria dos pais ainda são analfabetos no aprender com a vida. Pouco maduros desistem de aprender e de ensinar. Daí terceirizaram os filhos, atiraram todas as responsabilidades formativas no ombro dos professores das escolas, cuja função principal é a de informar.

Esperamos que esse assunto renda boas discussões e dê pano para muitas mangas.

Mas, que vai ser engraçado; vai – assistir a um catatauzinho apontando para o pai e a mãe: vou acionar a ECA – se você me bater ou colocar de castigo vai para a cadeia – Não mexa comigo sou di menor! – Ou um vizinho que não vai com sua cara usando o disk denúncia só prá te atormentar.

Leis para que sejam realmente boas devem vir acompanhadas de dispositivos auxiliares e complementares para que possam ser devidamente aplicados.

Castigos físicos nunca educaram ninguém, ao contrário – Mas, quem garante que criminalizá-los vai melhorar a qualidade da educação?

Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.

* Colaboração de Américo Canhoto para o EcoDebate, 23/07/2010


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4 thoughts on “Projeto educacional anti-palmadas, artigo de Américo Canhoto

  • Provérbio: 29 – 15: “Vara e
    disciplina dão sabedoria, mas jovem abandonado a si mesmo envergonha sua
    mãe”. MÃO DE MÃE NÃO MALTRATA, educa. CHINELA DE BOM PAI é objeto santo,
    pois educa. Sem ordem em casa tudo o mais será possível. Nos velhos tempos
    afirma-se: “Quem mente rouba amanhã. Uma boa surra ensina a não mentir e
    educa para não roubar.

  • O dia da justiça.

    Em 1961, eu contava com 9 anos de idade e, já havia apanhado de meu pai, minha mãe e minha avó. Eu reconheço que por vezes mereci e por outras não, pois foram injustas. As vezes, depois de apanhar, olhava para o meu pai e não sentia raiva, mas sentia pena. Nesse mesmo ano estávamos numa VENDA que ficava na fazenda e a margem da estrada principal quando escutei um estrondo estrada acima. Segui naquela direção e lá encontrei um motorista trocando o pneu de um caminhão que era conhecido popularmente por FENEMÊ (FNM). Depois que o pneu foi trocado o motorista perguntou se eu queria o pneu para brincar; eu respondi que sim. O motorista foi embora e eu tentei levar o pneu, porém não consegui – o pneu era maior que eu. Deixei o pneu ali mesmo na estrada e fui até a venda buscar ajuda de colegas e consegui. Ao retornar ao local, não encontramos o pneu. Mas, descobrimos que alguém o havia rodado; seguimos o rastro do pneu que fora escondido mais ou menos a 50 metros numa lavoura de café. Encontrado o pneu, meus colegas perguntaram: como você vai levar o pneu, se alguém o escondeu aqui? Respondi: vou levar por que o pneu é meu; e o levamos para minha casa e obvio o rodamos pela estrada afora. O problema é que ao passar de fronte a VENDA, quem havia escondido o pneu viu que eu o levava embora. Depois de mais ou menos 2 horas e já cansado de brincar, percebo que meu pai chega em casa furioso com o cinto nas mãos e logo esbravejando a pergunta: você roubou o pneu do “fulano”? Eu disse: não, eu não roubei de ninguém, na verdade, eu ganhei do motorista do caminhão. Mas o fulano está dizendo lá na VENDA que foi você quem roubou dele. E disse também que encontrou o pneu na margem da estrada e que o havia guardado dentro da lavoura de café. Respondi: é verdade estava escondido, mas o fulano não sabia que eu havia ganhado o pneu do motorista, se o senhor quiser me bater, pode bater, mas estou falando a verdade. Nesse dia, eu fui salvo pela prudência e pelo senso de justiça. Destarte, o fulano também era dono de outra verdade, vez que ele não conhecia a minha versão sobre o pneu. Mas, eu tinha as testemunhas, as quais me acompanharam para buscar o pneu na margem da estrada e que lá não estava por que alguém o escondeu. Bem nesse dia, eu não apanhei nem de cinto, palmadas ou varadas.

  • caro Jorge.

    Acredito que, se em todas as outras vezes que apanhou; tivesse havido um diálogo franco e verdadeiro como no caso do pneu; o amigo teria escapado de toda sova que levou.

  • Palmadas
    Um dos assuntos mais polêmicos nesse mês de julho em relação a Educação é a aprovação no Congresso Nacional da lei que veta as palmadas. Há de se ter cuidados ao refletir sobre a legitimidade desta lei; do que realmente se trata e o quer atingir? O estatuto da Criança e do Adolescente – ECA é bem claro quando protege a criança em suas leis.
    Penso que a questão a ser discutida nesse caso é: como seguir o ECA sem que para isso fira-se a autoridade indelegável dos pais? Nossa sociedade por mais que sofra efeitos da modernidade ainda é estruturada na educação familiar e essa estrutura precisa ser preservada. O que talvez necessite ser reavaliado é qual o perfil dos pais que necessitam dar palmadas nos filhos como forma de educar. Onde perderam sua hierarquia ao necessitar usar a palmada como norteadora da boa educação? Muito mais preocupante e instigante do que as palmadas são os puxões de orelhas, as torturas emocionais e verbais que as crianças sofrem ou presenciam no silêncio de seus domicílios, pelo stress elevado, pela falta de prática, ou até mesmo a falta de comprometimento de alguns adultos ao educar. A campanha ideal seria um programa de conscientização e orientação aos pais sobre o significado de cada choro, cada birra, e as reais necessidades das crianças em cada fase de sua vida para que os pais não recorram à palma como recurso ideal ao educar uma criança. A criança necessita de escuta e de uma escolta coerente para que se sinta segura e satisfeita em suas necessidades básicas. Aos pais cabe o entendimento de que educar é algo de muita responsabilidade e que o limite é necessário para que a criança vá aprendendo a lidar com o mundo externo e sua vastidão, até aprender a processar as frustrações e atingir uma maturidade ao assumir sua autonomia.
    Para essas questões, o papel da Psicopedagogia que tem como objeto de estudo o Ser em desenvolvimento e sua forma de aprender e interpretar o mundo vêm como uma ciência que pode muito bem auxiliar os educadores – pais/professores nessa jornada, ao mostrar que a educação pode ser estruturada numa comunicação baseada no diálogo e não no duelo.
    Albertina de Mattos Chraim
    Psicopedagoga Clinica

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