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Fogão Solar: uma riqueza dos pobres, por Pedro Miskalo

Fogão Solar

O flagelo das secas no sertão nordestino, e a inclemência do sol, têm levado fome e sofrimento ao sertanejo. Agora o sol começa a ser um aliado dos pobres. Vários projetos sobre o uso da energia solar penetram na caatinga e tiram proveito do sol abundante na região. Um deles é o fogão solar.

O fogão transforma a irradiação solar em calor para o preparo de alimentos. Concentradores de raios solares, dispostos em parábola, convergem a energia para um ponto central, que aquece.

A temperatura alcançada dependerá de dois fatores: a qualidade do material utilizado para revestir a parábola e sua correta posição em relação ao sol. A temperatura chega a mais de 350.° C, mais do que suficiente para o cozimento de alimentos ou aquecimento de água.

Seu aproveitamento máximo se dá entre 9 e 15 horas. Entre suas vantagens, destaca-se a disponibilidade de energia gratuita e abundante, além da ausência de chamas, fumaça, poluição atmosférica, incêndios e explosões. O preço da instalação não chega a duzentos reais e sua manutenção tem custo mínimo.

Evita desmatamentos em busca de lenha. O engenheiro Arnaldo Moura, um dos autores de um projeto, destaca: “30% da madeira retirada da caatinga transforma-se em lenha. Utilizando o fogão solar, será possível economizar até 55% dessa lenha”.

Ele não elimina o uso do fogão convencional, pois não pode ser utilizado em dias chuvosos ou à noite. Se houvesse coletores de energia, seu custo seria impraticável para o sertanejo. O tempo de cozimento é também maior no fogão solar. A maior dificuldade, porém, está na modificação de hábitos. É preciso cozinhar fora de casa e adaptar-se à sua aparência estranha, pois se parece com uma antena parabólica, dotada de um fogareiro no centro. O problema é, portanto, cultural.

O Projeto Pioneiro de Uiraúna (Pb)
O Projeto Pioneiro de Uiraúna (Pb)
Um projeto pioneiro foi implantado no povoado de Areias, a 3 km da matriz de Uiraúna, no estado da Paraíba.

Pe. Domingos Cleides Claudino, seu idealizador, explica o surgimento da idéia: Já padre, fiz uma experiência valiosa de trabalho profissional em fábrica e de trabalho pastoral nas paróquias de Tittmoning, Fridolfing e Burgkirchen, na Baviera e em Krefeld, no norte da Alemanha. Na convivência com as famílias e no engajamento com a juventude, procurei acender nossa vocação e a co-responsabilidade missionária de Igreja, com sua dinâmica, mística, parceria e serviço evangélico, no intercâmbio e partilha de experiência comunitária, numa conseqüente abertura para a missionariedade universal”. Mais tarde, já como pároco da Paróquia Sagrada Família, em Uiraúna, desenvolveu o projeto, ajudado pelos jovens alemães Gerhard Deser e Franzi Roider.

E explica as origens do mesmo: “No início, três jovens visitantes trouxeram o primeiro fogão solar e o confiaram a cinco famílias vizinhas, que assumiram o teste coletivo de cozinhar por um ano. Deu certo demais, foi uma coisa linda e santa”.

Pe. Domingos se empolga: “Daí, a comunidade construiu em mutirão o prédio da fábrica, com ambiente e espaço favorável, e acolheu seis jovens técnicos alemães, que trouxeram a maquinaria e as lâminas, o único material importado. Em 15 dias instalaram tudo e treinaram três jovens estudantes.

Foi uma experiência fraterna vital: os hóspedes se identificaram com o povo simples e humilde, abrindo-se a uma cultura de vida”.

Ele fala da inauguração: “Tudo pronto e aprovado, no Dia do Trabalho de 1995, numa encantadora manifestação de fé e vida, nós e uma considerável multidão, saímos de madrugada da igreja matriz, em peregrinação animada e festiva, ao toque de clarões e atabaques, para Areias. Lá chegamos pelas oito da manhã, num acolhimento comunitário bem animado e vibrante, debaixo do sol causticante, em ano de seca verde.

Após sugestiva e criativa celebração no patamar da capelinha, a multidão – aumentada – dirigiu-se à fábrica, ao lado, onde uma fileira de fogões cozinhava batata e milho verde. Tudo foi televisionado pela TV Cabo Branco, da Paraíba. Quantas expectativas e curiosidades, coisa nunca vista! Uma fábrica no campo, longe da cidade e com os camponeses!”.

O animado idealizador explica a expansão do projeto: “A Fábrica Alternativa Comunitária começou sua atividade. Para as comunidades, o fogão saía, com custo filantrópico, por R$ 120,00, pagos em módicas prestações, em dinheiro, em produtos agrícolas ou com pequenos animais. Os fogões se espalharam pela região e em alguns Estados do país.

Mas, com a reportagem feita pelo Jornal Nacional, da Globo, em março deste ano, a demanda se avolumou. Com o aumento do custo das lâminas, vindas da Alemanha, hoje, o preço de cada unidade chega a R$ 250,00. Além disso, o correio cobra entre quarenta e setenta reais para o transporte, conforme a distância de cada Estado”.

Completamente realizado com a experiência pioneira, o sacerdote completa: “Hoje o fogão solar já se encontra em quase todo o Brasil. É altamente ecológico, tecnológico e econômico. Inteiramente sadio, de fácil manuseio por qualquer pessoa; não tem componente eletrônico e é de infinda conservação: Cozinha igual a outro fogão, com o mesmo espaço de tempo e nem precisa de fósforo. Preserva o meio ambiente, combate o êxodo rural e educa as novas gerações para a vida plena. Resiste até a chuvas. Não provoca riscos domésticos como queimaduras, pois só aquece a grelha, no centro. É prático no uso familiar e nas comunidades, como as escolas, no preparo da merenda escolar”.

Fogão Solar

fogão solar

Há dois tipos fundamentais de Fogão Solar: de caixa quente e concentradores parabólicos (em forma de antena parabólica). Os de tipo caixa quente surgiram a partir de 1853. Os demais, são mais recentes.

Os fogões do tipo caixa quente operam com a radiação difusa (cujos raios refletem-se confusamente e não projetam sombras nítidas), ao contrário dos fogões com concentrador parabólico, que só são operacionais na presença da radiação direta.

Nesse tipo de fogão, as temperaturas obtidas são bem elevadas (350.° C), enquanto que os do tipo caixa quente só chegam, no máximo, a 150.° C. No Brasil, utilizam-se os fogões solares do tipo concentrador parabólico.

Contato:
Pe. Domingos Cleides Claudino
Casa Paroquial n.º 22 – 58915-000 – Uiraúna (PB)
Tel.: (83) 534-2206 ou em Areias (83) 534-2847 (orelhão)

* Artigo de Pedro Miskalo, na Revista Mundo e Missão.

** Colaboração de Paulo Afonso da Mata Machado, para EcoDebate, 29/04/2010

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