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Conflito palestino-israelense bloqueia o acordo sobre recursos hídricos entre os países às margens do Mediterrâneo

Efeitos da seca no reservatório María Cristina, em L'Ancora (Castellón), Espanha
Efeitos da seca no reservatório María Cristina, em L’Ancora (Castellón), Espanha.- Foto de ÁNGEL SÁNCHEZ/EL PAÍS

Água será escassa para 290 milhões de habitantes do Mediterrâneo

A água -um bem cada vez mais escasso em torno do qual gira de forma crescente a geopolítica- pôs novamente em evidência na terça-feira (12) o obstáculo que representa o conflito palestino-israelense para qualquer tentativa de articular políticas comuns entre os países às margens do Mediterrâneo. Os 43 membros da União pelo Mediterrâneo (UpM) – os países da União Europeia e os das margens sul e leste do Mediterrâneo -, reunidos em Barcelona na 4ª Conferência Ministerial Euromediterrânea, não conseguiram aprovar o documento sobre a gestão da água.

Tudo devido a uma simples questão semântica, a que separa o termo “territórios ocupados” de “territórios sob ocupação”. Israel insistia na segunda formulação e os países árabes, na primeira. Para desespero dos especialistas que haviam trabalhado no projeto, minuciosamente elaborado, longamente preparado e praticamente consensual, não houve acordo. Como explicou o secretário de Estado do Meio Rural e da Água da Espanha, Josep Puxeu, os 43 países chegaram a um acordo sobre 99% da declaração e da estratégia. Reportagem de J. M. Martí Font, El País.

A importância do documento era dupla. De um lado, devido ao alcance do tema: a água, cada vez mais escassa, especialmente na bacia mediterrânea. Por outro, porque se tratava da primeira grande estratégia da UpM, cuja sede em Barcelona foi inaugurada há poucas semanas.

Os recursos hídricos da bacia do Mediterrâneo são escassos, sofrem variações imprevisíveis e são, em grande parte, muito mal administrados. Condições que a mudança climática só faz acentuar. O último relatório da ONU indica que antes de 15 anos 290 milhões de pessoas que vivem nos países ribeirinhos terão seu acesso a água limitado, o que provocará conflitos sociais e territoriais de consequências imprevisíveis.

Outro grande desafio que o documento contemplava é o da depuração das águas. Atualmente, 47 milhões de pessoas de países mediterrâneos não têm acesso à água depurada, e embora a metade dos habitantes do “mar interior” vivam em cidades uma em cada três urbes da bacia não dispõe de usinas de depuração.

O crescimento demográfico, a atividade turística nas costas e os usos agrícolas vão fazer disparar a demanda em 30% nas próximas décadas, enquanto as reservas hídricas poderão se reduzir em uma porcentagem idêntica por causa da mudança climática.

O documento estratégico que deveria ser aprovado na terça-feira incluía promover uma economia de 25% do total da água que se consumiu em 2005, tendo como meta 2025, assim como uma série de desafios em torno da preservação dos recursos, a melhora da gestão ou a salvaguarda da saúde pública.

A ministra do Meio Ambiente e Meio Rural da Espanha, Elena Spinosa, que presidiu à inauguração da conferência, salientou que o Mediterrâneo é uma bacia hidrológica desequilibrada, com fenômenos extremos de seca e inundações cíclicas, e alertou os países que formam a UpM sobre a necessidade de dotar-se de uma “estratégia comum sobre um recurso escasso”, para disporem de água em médio e longo prazo.

A realidade, porém, é que enquanto os países do norte – concretamente os da UE, que devem se ater aos critérios comunitários – há tempo administram seus recursos hídricos em sua globalidade, aplicando critérios econômicos sobre os custos de recuperação e o impacto do uso dos recursos, os países do sul e do leste ainda não têm planos de intervenção.

Apesar do fracasso político de terça-feira, os especialistas quiseram ver o copo meio cheio e não meio vazio, nas palavras de Josep Puxeu. O secretário-geral da UpM, Ahmad Masadeh, apesar de lamentar o ocorrido, lembrou que neste momento já estão em curso até meia centena de projetos sobre a água, e pediu à ONU, à Liga Árabe e ao Conselho de Ministros Africanos que se envolvam no tema. “É necessária uma nova cultura da água que permita criar mecanismos capazes de gerar prosperidade”, disse.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Reportagem [El agua escaseará para 290 millones de habitantes del Mediterráneo] de El País, no UOL Notícias.

EcoDebate, 16/04/2010

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