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Dinâmica das massas de água na Antártica sofre mudanças

degelo

Exportação de gelo na Antártica fez com que várias camadas de água se deslocassem

O gelo formado no Mar de Ross (localizado na Antártica) aumentou, mas foi exportado para baixas latitudes — em direção ao Equador — durante os séculos XX e XXI. Segundo pesquisa desenvolvida no Instituto Oceanográfico (IO) da USP, houve pequena modificação na dinâmica das massas de água da região Antártica, já que o aumento na formação e exportação do gelo para longe do continente fez com que várias camadas de água do oceano austral, que circunda o continente Antártico, se deslocassem.

Por meio de um modelo numérico desenvolvido pelo National Center for Atmospheric Research (NCAR), dos Estados Unidos, o oceanógrafo Marcos Tonelli comparou dados relativos à salinidade, temperatura e pressão, entre outros, para analisar se houve variação nas águas profundas do oceano austral durante os séculos XX e XXI. “A água da plataforma de gelo que optei por estudar é uma das mais importantes do globo, pois ‘ventila’ o oceano profundo e participa do sistema de distribuição de calor dos trópicos para os pólos. É difícil conseguir dados da Antártica, ainda mais em grandes profundidades e embaixo do gelo. Por isso, usamos informações coletadas por pesquisadores do mundo inteiro para desenvolver a pesquisa”, afirma.

O interesse inicial do estudo era buscar os possíveis efeitos do aquecimento global nos oceanos. Há um sistema de circulação global — chamado de circulação termohalina global — em que diversas massas de água atuam juntas para transportar calor dos trópicos para os pólos controlando o clima do planeta. Segundo Tonelli, “uma parcela importante desse sistema de circulação acontece na Antártica, onde se formam algumas das massas de água mais densas do oceano. O estudo concentra-se nesse ponto: se houve ou não variações nas camadas mais profundas do oceano austral durante esse período”, explica o pesquisador.

Foi verificado no estudo que houve diminuição da camada de gelo nas bordas da Antártica. Segundo Tonelli, “não podemos associar essa diminuição diretamente ao aquecimento global, mas é provável que modificações nos processos atmosféricos possam refletir nas transformações, por menores que sejam, na dinâmica das massas de água na região, uma vez que a interação ar-gelo-mar é um mecanismo-chave para a formação de massas de água nos pólos.”

Modificações na dinâmica
Tal qual um organismo, o sistema de massas de água funciona em uma dinâmica: se um dos elementos sofre modificação é bastante provável que todos os outros elementos do sistema tenham reflexos e se transformem de alguma forma. No caso dessa massa de água da Antártica, a camada que já era profunda sofreu modificações, ficou mais densa e passou a ocupar uma parte mais inferior do oceano.

“Para exemplificar o que aconteceu é como se imaginássemos um aquário: se tirarmos uma parcela de água de um lugar não aparecerá um buraco, mas a água que estava em volta ocupará aquele espaço. Então quando falamos que a água se tornou mais profunda, é por que outra ‘água’ ocupou seu lugar. O que podemos observar nesse sentido é que a dinâmica local — todo o sistema de massas de água que atua na região — pode ficar um pouco alterada”, descreve Tonelli.

Apesar de ter havido modificações na dinâmica das massas de água, o pesquisador afirma que não são suficientes para que o sistema entre em colapso. “A transformação foi pequena e não pode ser considerada drástica. Não existe a possibilidade desse sistema de transporte de calor pelos oceanos parar a curto prazo. O que observamos é que, realmente, vem ocorrendo mudanças desde o início do século XX, que podem ou não ser reflexo do aquecimento global, por exemplo, mas por enquanto não é nada que preocupe a sociedade em um futuro próximo”, afirma Tonelli.

A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Oceanografia Física, Clima e Criosfera, coordenado pela professora Ilana Wainer, do IO. O estudo contou com apoio do Programa Antártico Brasileiro – Proantar, que é uma iniciativa do governo federal para incentivar estudos na Antártica.

Reportagem de Ana Carolina Athanásio, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 29/03/2010

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