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Artigo

A ilusão de 2010, artigo de Maurício Gomide Martins

[EcoDebate] Já estamos em 2010. Parece que houve uma mudança, uma alteração de rumo. Mas é apenas ilusão. Soltaram foguetes, gastaram-se milhões com festas, consumos, bebidas e comemorações. Não atino com o festejar dessa data. Ainda estou com a cabeça balançando com a constatação de que a folhinha marca 2010. E esse balançar me leva a deixar solto o pensamento. Deixo-o navegar sem rumo, tocado pela brisa da liberdade, fornecendo-lhe apenas as energias da vitalidade.

Imagino que morri em 2009, exatamente como ocorreu no mundo com tantas pessoas que viajaram para a eternidade. Nessa condição, meu espírito observador fica pairando por mais algum tempo nesse planeta, naturalmente por atavismo da vivência. E vou percorrendo as ruas, as casas, visitando amigos e parentes. Noto que tudo se move sem alterações, como já se vinha procedendo no ano de 2009, numa perseguição louca do progresso. Tudo segue os hábitos, os costumes, as culturas estabelecidas, sem perturbações. As pessoas continuam em seus propósitos de conforto, desejos materiais e abandono de valores espirituais, deixando-se embalar pelas cantigas sedutoras das sereias comerciais. Os ambientalistas, esses idealistas iludidos, empedernidos, heróis perdidos na multidão, continuam desesperadamente sua luta inglória, falando e gritando para ouvidos obstruídos pelo deslumbramento da tecnologia.

As empresas industriais, com o apoio de seus representantes, equivocadamente chamados de governantes, continuam a imprimir aceleração às ações que provocam chagas no planeta. Esses governantes, que foram escolhidos para administrar a sociedade, não exercem essas funções, mas escolheram o caminho do cultivo de vaidades vazias e enriquecimento fácil da traição, colaborando fielmente com as corporações no afã de crescer, crescer, inchar, inchar. Não querem saber, ou não têm a capacidade de enxergar, que a bomba da Natureza já está com o pavio acesso.

Esse acontecer não é percebido porque se apresenta na velocidade do ponteiro das horas – imperceptível à visão – mas é tão forte que, ao se manifestar de supetão, o faz como a mudança de calendário de 2009 para 2010. Essa passagem se processou no último décimo de segundo do dia 31 de dezembro de 2009. Nem notamos e, milagrosamente, já estamos noutro ano. Ilusão de outro ano. Apenas o primeiro décimo de segundo de um ciclo temporal que nunca volta atrás.

Nesse átimo de segundo, pode-se perder a oportunidade de uma declaração de amor, alterando para sempre o roteiro de duas almas; pode-se escolher entre a luz e a escuridão; pode-se definir o rumo incerto da biodiversidade para o caminho irreversível do precipício. A diferença é de apenas um décimo de segundo.

“Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista colaborador e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 10/02/2010

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