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Notícia

Acidentes e traumas são a principal causa da morte de crianças e adolescentes no Brasil

Travessuras arriscadas - A adoção de medidas preventivas por parte dos pais e dos responsáveis poderia evitar 90% dos casos

O pequeno Luís Felipe Alasmar Freddi, 7 anos, não se lembra mais do dia em que escorregou em um piso molhado e deu um grande susto nos pais. Mas as marcas do acidente, que aconteceu há mais de dois anos, ainda perduram e não deixam a empresária Ana Paula Alasmar, mãe do menino, se esquecer da travessura. A criança perdeu dois dentes, teve um terceiro comprometido e precisa de acompanhamento odontológico constante para garantir que a dentição permanente, que ainda não apontou, seja sadia e perfeita. A queda poderia ter sido evitada. “Foi um grande susto, sangrou muito e tive uma única certeza: seria preciso levá-lo imediatamente a um dentista. Me culpo todos os dias pelo ocorrido. Se o chão estava molhado e escorregadio, eu jamais poderia ter permitido que ele brincasse no local”, admite Paula.

Dados do Ministério da Saúde revelam que as quedas são a principal causa de internação por acidentes entre crianças e adolescentes de 1 a 14 anos no Brasil. A prevenção ainda é um grande desafio no país. Segundo Alessandra Françoia, coordenadora nacional da organização não governamental Criança Segura, 90% dos acidentes seriam evitados, caso as medidas preventivas fossem observadas. “Não temos a cultura da prevenção. Os responsáveis ainda acham que acidentes com crianças são inevitáveis. Não é verdade. Podemos e devemos avaliar locais que oferecem risco dentro de casa ou na rua. O ambiente seguro, a educação e a observação constante podem, sim, evitar o pior”, garante. Reportagem de Márcia Neri, no Correio Braziliense.

Na infância, a coordenação motora e os reflexos ainda são vulneráveis. Ao cair, a garotada não consegue se defender ou proteger as partes mais sensíveis, como a região da face. A maioria das pancadas na boca provoca inchaços imediatos e muito sangramento devido à vascularização dessa área. Dependendo do tipo e da intensidade do trauma, as lesões afetam os dentes permanentes, que já estão em formação. “O choque pode promover a fratura da coroa, provocar a intrusão, que é quando o dentinho entra parcial ou totalmente na gengiva, ou ainda a extrusão, quando ele cai com raiz e tudo. O ideal é levar o paciente imediatamente ao dentista. A radiografia deve ser providenciada o mais rápido possível, tanto para que o profissional decida como proceder quanto para o acompanhamento do caso”, explica a periodontista Juliana Cintra.

Restauração
Um dos dentes de Luís Felipe caiu na hora da queda. O outro ficou intruso na gengiva superior. A especialista em dentística Karina Dornas afirma que, em caso de quebra ou extrusão, o ideal é que o dente seja conservado em leite até a chegada ao especialista para uma possível restauração. “Se a criança for maior e conseguir manter o fragmento na boca, melhor ainda, pois a saliva conserva as células dentárias. Às vezes, o dano na arcada não é registrado na primeira imagem radiográfica, mas depois de um ou dois meses. Por isso, é preciso acompanhar a evolução do caso e as consequências da pancada”, pontua.

Os implantes em crianças não são recomendados para não comprometer a formação da dentição permanente, e a falta de um dos dentes por período prolongado pode causar a inclinação dos vizinhos ou a extrusão dos antagonistas. “É comum também que, na ausência de um dentinho, a gengiva fique fibrosada pela mastigação. Quando isso ocorre, o dente permanente pode não ter força para romper a gengiva, que precisa ser cortada em um procedimento simples no consultório”, esclarece Juliana.

As duas especialistas contam que os meninos costumam machucar mais a boca do que as meninas. “O mais importante é que os pais saibam que existem protetores bucais que previnem lesões. A meninada que adora andar de patins ou bicicleta, jogar bola e fazer esportes pode e deve usá-los. Pesquisas americanas revelam que a placa bucal reduz em até 80% o risco de trauma dental”, enfatiza Juliana.

Primeiros socorros
Os dentes não são os únicos a sofrer com as travessuras. Braços, pernas, joelhos e até calcanhares dificilmente saem ilesos à infância. Não raro, um descuido acaba em tragédia. Os acidentes ou lesões não intencionais representam a principal causa de morte de crianças no Brasil — cerca de 7 mil por ano. “Os pais e responsáveis precisam estar preparados para prestarem os primeiros socorros. Quando uma intervenção adequada é realizada no momento, antes do atendimento especializado, o risco de morte ou sequela é minimizado. Buscar esse aprendizado é importante, é uma prevenção também”, lembra a coordenadora da ONG Criança Segura.

O socorro imediato é fundamental para o salvamento de crianças que se afogam, sofrem sufocação ou intoxicações. Os afogamentos são responsáveis por cerca de 30% dos acidentes fatais com crianças no Brasil. De acordo com a pediatra Rosa Elisa Strong, o mais importante diante de emergências desse tipo é não perder tempo. “Se a criança é encontrada sem sentidos, leve-a rapidamente ao hospital, caso não saiba como proceder para reanimá-la. Jamais subestime a capacidade dos pequenos de se recuperar. Já atendi uma criança que chegou praticamente sem vida e conseguiu sobreviver sem sequelas. Mas, infelizmente, o contrário também acontece, e as marcas do acidente ficam para o resto da vida”, alerta.

A médica observa que em caso de fraturas também é importante agir rapidamente. “As rupturas graves, geralmente, causam deformação no membro atingido. Pegue a criança com o máximo de cuidado possível e a leve imediatamente ao hospital. O mesmo deve ser feito diante de traumas que não deformam, pois o membro pode estar fraturado ou fissurado e isso será constatado apenas com uma radiografia”, explica.

O adolescente Bernardo Carrara, 14 anos, não se esquece dos 15 dias que ficou sem pisar no chão, no verão passado. “Subi no telhado do ginásio do clube para pegar uma bola e despenquei de uma altura de três metros”, conta o adolescente. Na hora, ele conseguiu levantar e achou que não havia se machucado, mas as dores nas costas e no calcanhar não tardaram. “Ficamos assustados e levamos ao hospital. Um exame detectou fissuras nos dois calcanhares, um local que não se engessa. A recomendação do médico foi clara: ele não podia andar para não forçar a região comprometida. Imagine a dificuldade para conseguir manter um garoto deitado por duas semanas. Foi complicado, mas graças a Deus ele se recuperou e espero que não se aventure em outros telhados”, diz o funcionário público André Carrara, pai do menino.

A pediatra Rosa Elisa Strong lembra que os pais também devem redobrar cuidados quando os filhos batem a cabeça. Diante de sintomas como vômitos, desmaios e choro intermitente, não deixe a vítima dormir e procure auxílio médico. “Pancadas muito fortes podem provocar hemorragias, e os pequeninos entram em coma sem que se perceba, se estiverem dormindo. Outra ocorrência comum nessa idade é a intoxicação e o envenenamento. Os pais devem correr para o hospital imediatamente. É importante levar o produto que vitimou a criança para que a equipe médica saiba como proceder”, aconselha.

Os responsáveis ainda acham que os acidentes com crianças são inevitáveis. Não é verdade. Podemos e devemos avaliar os riscos
Alessandra Françoia, coordenadora da ONG Criança Segura

Ouça entrevista com Alessandra Françoia, coordenadora da ONG Criança Segura
http://www.correiobraziliense.com.br/page/215/podcast.shtml

Prevenção

Afogamento
# Esvazie baldes, banheiras e piscinas infantis depois do uso e conserve a tampa do vaso sanitário fechada.
# Piscinas devem ser protegidas com capas e cercas de no mínimo 1,5m, que não possam ser escaladas, além de portões com cadeados ou trava de segurança
# Enquanto a ajuda não chega, coloque a vítima deitada de barriga para cima. Não dobre ou vire o pescoço do afogado, nem tente retirar água dos pulmões. Se a criança não for capaz de respirar, inicie a respiração boca a boca e a massagem cardíaca

Bicicleta, skates e patins
# O uso de capacete pode reduzir o risco de lesões na cabeça, inclusive traumatismo craniano, em até 85%
# Os pés da criança devem alcançar o chão, e elas devem brincar em locais seguros, como parques, ciclovias e praças, fora do fluxo de carros e longe de piscinas e sacadas
# Em caso de fraturas, compressas de gelo auxiliam a reduzir o inchaço, a dor e a progressão do hematoma. Se houver hemorragia, estanque o sangue aplicando uma bandagem ou pano limpo sobre o ferimento

Intoxicação
# Produtos de higiene, limpeza e medicamentos devem ser mantidos trancados, fora da vista e do alcance das crianças. Remova ou deixe inacessíveis as plantas venenosas
# Em caso de intoxicação, entre em contato imediatamente com o pronto-socorro. Não deixe a vítima sozinha, não provoque vômitos nem ofereça água ou outras bebidas

Quedas
# Escadas, sacadas e lajes não são lugares para brincar. Instale portões de segurança no topo e no pé das escadas e grades ou redes em janelas e sacadas
# Se houver suspeita de fraturas no pescoço e nas costas, espere o socorro ser prestado por pessoas especializadas. A cabeça da pessoa deve ficar apoiada de forma a não cair para trás

Queimaduras
# Não deixe as crianças brincarem na cozinha, principalmente durante o preparo das refeições, nem carregue os pequenos no colo enquanto mexe panelas no fogão ou manipula líquidos muito quentes
# Nada de toalhas de mesa compridas. As mãozinhas curiosas podem puxá-las, causando escaldadura ou queimadura de contato
# O máximo que pode ser feito, antes de levar a criança ao hospital mais próximo, é colocar toalhas secas e muito limpas sobre a região afetada

Fonte: ONG Criança Segura

EcoDebate, 18/01/2010

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