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Os brasileiros estão crescendo. E ficando mais gordos. Artigo de José Graziano Da Silva

Os brasileiros estão crescendo. E ficando mais gordos.

[Correio Braziliense] A pesquisa Saúde Brasil 2008 revelou que os brasileiros estão ficando mais altos. E mais gordos. Na hora de comer, é difícil encontrar o equilíbrio, e agora o Brasil, como muitos outros países, precisa enfrentar a subnutrição e a obesidade simultaneamente.

Nas últimas seis décadas, o brasileiro cresceu, em média, um centímetro a cada 10 anos. Agora, cresce mais rapidamente. Entre 1989 e 2003, 3,3cm para as mulheres e 1,9cm para os homens.

Considerando a fantástica queda de mais de 75% entre 1974 e 2007 no deficit de altura para a idade (stunting) nas crianças menores de 5 anos, essa tendência deve continuar, porque a alimentação e a saúde das crianças — inclusive no útero materno — têm forte impacto no crescimento.

A estatura média da população de um país é um indicador do nível de saúde e de nutrição. Com uma alimentação adequada, bons serviços de saúde e de higiene, os homens podem chegar a uma estatura média de 1,82m e as mulheres a 1,72m.

Em 2003, os homens brasileiros mediam, em média, 1,69m e as mulheres 1,58m. Essas alturas correspondem àquelas da Inglaterra no período de 1850-1875. Hoje, os ingleses e as inglesas medem, em média, 1,77m e 1,63m. A julgar pelos dados recentes, os brasileiros precisarão de muito menos de 130 anos para alcançar a mesma estatura.

Estudos mostram que pessoas mais altas recebem salários maiores que as mais baixas. No Brasil, cada centímetro adicional corresponde a um aumento salarial de 1,4% para homens e 1,7% para mulheres. Presumidamente, o aumento se refere a uma maior capacidade de trabalho e sugere que investimentos em nutrição têm relação direta com a produtividade das pessoas.

No entanto, o melhor acesso à comida também pode causar problemas. Uma das ironias é que quando crianças que se alimentaram mal quando pequenas crescem, elas se tornam mais suscetíveis a, quando se alimentarem bem, tornarem-se obesas. Isso acontece porque quando há uma carência de alimentos, os organismos se tornam supereficientes no consumo de qualquer nutriente.

Parece que os humanos são programados para comer mais que o necessário. Alguns atribuem isso à gula. Outros defendem que isso acontece porque, historicamente, a humanidade enfrentou crises de abastecimento de alimentos frequentes, muitas vezes sazonais, e a acumulação de gordura cria reservas valiosas de energia que podem ser usadas pelo corpo quando falta comida.

O problema existe quando as pessoas comem mais que o necessário (estimuladas pela publicidade agressiva e preços relativamente baratos) mas não enfrentam mais momentos de desabastecimento. De fato, a pesquisa Saúde Brasil 2008 mostrou que 43,8% da população brasileira adulta que vive em cidades está acima do peso. No futuro, muitas delas enfrentarão problemas de saúde, incluindo diabetes e doenças cardiovasculares.

Não é apenas no Brasil que a obesidade é vista como uma bomba-relógio. Embora a taxa de obesidade seja mais alta em países desenvolvidos, muitos países em desenvolvimento agora enfrentam o desafio duplo da fome crônica e da obesidade. Peru e Bolívia, por exemplo, têm níveis de subnutrição de aproximadamente 30% e, ao mesmo tempo, 9% da sua população está com sobrepeso. No Chile e na Argentina essa proporção chega a quase 10%.

Estranhamente, pode ser mais fácil erradicar a fome — se o os países realmente quiserem fazê-lo — do que a obesidade. A experiência brasileira com o Fome Zero mostra que é possível avançar rapidamente na luta contra a fome, especialmente aumentando o poder de compra das famílias, como tem sido feito com o Bolsa Família. Os estudos disponíveis mostram que a maior parte do dinheiro é gasta com comida e isso se reflete na melhoria dos indicadores de saúde e de nutrição, principalmente entre crianças.

Reduzir a obesidade é mais complicado que criar programas de transferência de renda. Significa introduzir mudanças profundas no estilo de vida das pessoas, já que a obesidade é resultado de comer demasiadas calorias e uma vida sedentária.

Outros países estão constatando que programas de “aprender fazendo” orientados a famílias dão bons resultados. Esses programas ensinam crianças e adolescentes obesos sobre nutrição (inclusive a entender os rótulos de alimentos) e conseguem envolvê-los na preparação de comida saudável e na prática de esportes e incentivam-nos a assistir menos televisão.

Portanto, para que as pessoas possam crescer, mas não engordar demais, é preciso combinar ações de proteção social com um programa de educação nutricional efetivo.

José Graziano Da Silva é representante regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para América Latina e Caribe

Artigo originalmente publicado no Correio Braziliense.

EcoDebate, 05/01/2010

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