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Artigo

Transposição da pobreza para o Ceará, artigo de João Abner Guimarães Jr.

[EcoDebate] Quanto mais o tempo passa o verdadeiro projeto de transposição do rio São Francisco aparece, revelado, algumas vezes, por seus próprios defensores que não conseguem esconder às contradições decorrentes dos múltiplos interesses atrelados a defesa do projeto, como é o caso da questão do abastecimento humano, principal justificativa expressa no EIA/RIMA do projeto e alardeada pelo Governo Federal atual, que, em sua defesa, alega enfaticamente que 12 milhões de pessoas da Região deverão ser beneficiadas, dos quais, principalmente, se incluem os moradores da Região Metropolitana de Fortaleza que correspondem a ¼ da população pretensamente atendida.

Dessa forma, me surpreendi quando li a seguinte matéria assinada e postada pelo engenheiro cearense Cássio Borges no jornal o Povo online de Fortaleza em 08/12/09. O citado engenheiro é um aguerrido defensor do projeto de transposição do Rio São Francisco para o seu Estado, tendo participado nos últimos anos de debates técnicos e escreve periodicamente artigos nos principais jornais do Ceará sobre o tema, como é o caso da matéria em tela. Entretanto, o interessante é que, a partir da referida matéria, pode-se revelar as incongruências do projeto de transposição para o CE, fato esse denunciado há bastante tempo por todos nós críticos do projeto.

Segue a matéria, na íntegra, assinada pelo Dr. Cássio Borges intitulada “O Açude e a Cidade”.

Sou leitor assíduo dos artigos do Dr. Antônio Mourão Cavalcante. No intitulado “O sertão vai virar mar“, publicado, neste jornal, no dia 24/10 passado, o desfecho do mesmo coincide com o que sempre considerei em relação à atenção exagerada dos governantes à capital, em detrimento da população interiorana. Ele escreveu: “No concreto, uma Fortaleza cada vez mais inchada, para aonde tudo converge e um sertão entregue à própria sorte“. E mais adiante: “O sufoco na Capital e o abandono do Interior“.”

“Permitam-me os leitores deste jornal tomar o mote desse artigo do Dr. Antônio Mourão e ele próprio, para retomar a questão da construção da barragem do Castanhão, assunto que demandou mais de 12 anos de acirradas discussões, que as agências governamentais, na atualidade, se esforçam para fazê-las cair no esquecimento, ou, simplesmente ignorá-las. Tenho ouvido falar que o açude Castanhão “está abastecendo Fortaleza“, o que não é verdade. Em outras oportunidades, afirmam que o referido reservatório é uma “alternativa“ para o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Ora, se o açude Orós, através do Canal do Trabalhador, salvou Fortaleza do caos no ano de 1993 (não existia o açude Castanhão), é evidente que ele continua sendo, com seus 12 metros cúbicos/segundo de vazão regularizada, uma “alternativa“ válida para uma idêntica eventualidade. Outra “alternativa“ é o Projeto São Francisco, cuja vazão destinada aos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte é de 18 m3/s, cabendo ao Estado do Ceará 8 m3/s.”

“Também não tem fundamento a afirmação de que o açude Castanhão é o “pulmão“ do Projeto de Interligação da Bacia do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional. Qualquer pessoa que tenha um mínimo de conhecimento de topografia conclui esta verdade, pois aquele reservatório está a apenas a 150 quilômetros do mar, construído na cota 55 metros do leito do rio Jaguaribe.”

“Na realidade, até hoje, após mais de seis anos da barragem do Castanhão ter sido construída, nenhuma das alternativas, acima citadas, foi necessária. Ou, mais precisamente, de 1998 para o atual ano de 2009, já decorridos 13 anos, sem que nenhuma das alternativas referidas tivesse sido acionada. A própria transposição de vazões do rio São Francisco estaria ociosa nesse período. Portanto, o açude Orós socorreu a RMF em duas oportunidades, em 1993 e 1998. “

“Outrossim, considero pouco provável a projeção, ou prognóstico, de que as águas do açude Castanhão poderão ser demandadas para reforçar o abastecimento da RMF até o ano 2015. Para que tal fato possa acontecer, seria necessário que a população fortalezense e adjacências, dentro de cinco anos, no mínimo, dobrasse. Ou seja, que os atuais 7 m3/s consumidos pela RMF passasse, digamos, para 14 m3/s. E mesmo se isto pudesse acontecer, que é improvável, o açude Orós, mais uma vez, poderia contribuir com seus 12 m3/s de sua vazão regularizada, mais do que suficiente para atender a uma situação eventual deste tipo. E, consequentemente, o açude Castanhão e o Projeto São Francisco continuariam ociosos em relação ao suprimento de água para a RMF.”

A matéria em questão, por si só, é bastante reveladora, antevendo a transposição da pobreza para o litoral do Ceará, e principalmente, fazendo cair por terra o principal argumento alardeado pelo Deputado Ciro Gomes e outros da necessidade premente de água da Transposição para suprir o abastecimento humano do litoral, apesar de um balanço hídrico comprovadamente bastante superavitário do Ceará, principalmente na bacia do Jaguaribe receptora das águas da transposição, como é apresentado em vários e sucessivos estudos desenvolvido pelo Governo do Estado. Nesse contexto e dado que as águas do rio São Francisco entrarão pelo Sul do CE, região hidrologicamente mais favorável do Estado que, além disso, dispõe de um grande manancial de águas subterrâneas, passarão a centenas de quilômetros das regiões mais secas, rio abaixo do açude Orós  chegando ao Castanhão próximo do litoral, o maior reservatório do NE setentrional bastante ocioso, como afirma Cassio Borges. Então, cabe perguntar-se, qual a real necessidade de água externa do CE? Para que?  Para quem?  Quem pagará a conta da água transporta?

João Abner Guimarães Jr., Prof. da UFRN, é colaborador e articulista do EcoDebate

EcoDebate, 10/12/2009

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4 thoughts on “Transposição da pobreza para o Ceará, artigo de João Abner Guimarães Jr.

  • Paulo Afonso da Mata Machado

    Confesso que tive um pouco de dificuldade para entender o artigo do Prof. João Abner, porque ele se refere a outro artigo, que, por sua vez, se refere a um terceiro, ao qual, nós, leitores do EcoDebate, não tivemos acesso.
    Polêmicas à parte, o certo é que precisamos levar em conta o seguinte:
    A transposição de águas do rio São Francisco já está adiantada. Querer interrompê-la agora será fazer mais uma obra inacabada para o Nordeste, como tantas que ocorreram no passado e que caracterizaram o que se convencionou chamar de indústria da seca.
    Como interromper as obras agora é fora de questão, podemos, no entanto, aprimorar o projeto.
    Os canais de transposição, levando água para os diversos açudes da região, entre eles o Castanhão, no Ceará, passará por uma região bastante carente, que se assenta sobre solo cristalino, de baixa permeabilidade. O projeto básico para o eixo Norte afirma que, nesse eixo, não são esperados solos expansivos ou colapsíveis, mas que o solo sobre o qual os canais se assentarão tem capa superficial pouco espessa, com espessura média de 2 m, sendo que os cortes e os aterros serão executados, em grande parte, em rocha.
    Isso significa que não haverá a menor necessidade de se usar membranas impermeabilizantes. De acordo com o próprio texto do projeto, eventual rompimento de membrana efetivará a passagem de água que, comprimida com a rocha do leito, fará subpressão sobre o concreto, o qual, não sendo revestido por armadura, certamente se romperá.
    Como os remendos nas membranas deverão ser feitos com o transpasse mínimo exigido, isso acarretará nova quebra de concreto e, obviamente, para a recomposição de ambos, será necessário parar o bombeamento de água. Além dos prejuízos econômicos inerentes a essa paralisação, até o reinício do bombeamento, a água de chuva empoçada será um criadouro do Aedes egyptyae, ou seja, um foco de transmissão de dengue. A propósito, o risco de proliferação do mosquito da dengue já está acontecendo durante as obras de construção dos canais de concreto.
    Que fazer para solucionar essa questão? Basta copiar o que faz a natureza. Nos rios naturais, a água passa pelo solo sem nenhuma impermeabilização artificial e a vazão de infiltração é muito baixa, mesmo quando não se trata de solo rochoso. A solução será abandonar a construção de canais com membrana impermeabilizante revestida de concreto e executar rios artificiais no eixo Norte. Nesse caso, poderemos listar algumas das vantagens que advirão dessa medida:
    i) Aumentarão o nível do lençol freático nas cercanias, pois, num rio natural, pelo princípio dos vasos comunicantes, os níveis do lençol e do rio tendem a ficar constantes. Haverá, portanto, não apenas a transferência de água do rio artificial para o lençol, mas, também, deste para aquele, que ocorrerá sempre que o volume de água em Sobradinho não permitir vazão superior à mínima de projeto, pois, nesse caso, o nível do lençol deverá estar superior ao nível da água no rio artificial.
    ii) A plantação de mata ciliar ao lado de um canal de concreto não terá nenhum efeito prático. Por outro lado, será possível manter uma mata exuberante nas duas margens dos rios artificiais, devido ao nível aproximadamente constante do lençol freático. Essa mata reterá a água de chuva e a devolverá à atmosfera por meio da evapotranspiração, aumentando a umidade do ar e com efeito no aumento da precipitação ao longo do ano.
    iii) A elevação do nível do lençol freático permitirá a perfuração de poços na bacia do eixo Norte. Como se sabe, os poços perfurados no semi-árido, em geral, somente fornecem água durante o período chuvoso. Com o lençol freático mantendo-se em um nível aproximadamente constante, poços com vazões entre 2 e 6 m3/s poderão funcionar durante todo o ano.
    iv) Rios artificiais, em que a água tenha menor velocidade, permitirão que os alevinos que vierem juntamente com a água do São Francisco possam crescer e se tornar adultos. Além disso, as lagoas marginais que se formarão durante o período chuvoso, serão excelentes berçários para a reprodução dos peixes. No caso de canal de concreto, essas lagoas não serão reincorporadas ao leito, deixando os peixes à mercê dos predadores. Portanto, caso sejam executados rios artificiais no eixo Norte, haverá grande probabilidade de transferência de novas espécies de peixe para o Nordeste Setentrional, ampliando a ictiofauna de suas bacias.
    v) Será desnecessária a construção de aquedutos, os quais estão previstos nos trechos em que o canal cortar bacias de drenagem com vazão de drenagem de pelo menos 60 m3/s para a chuva centenária. Em caso de rios artificiais, em que seu leito seja o escoadouro natural do escoamento provocado por tais chuvas, os aquedutos se tornarão desnecessários. Observe-se que a não incorporação da água de chuva aos canais de concreto poderá ocorrer em toda a extensão desses canais, pois o escoamento superficial provoca erosão e, eventualmente, o nível da água escoada poderá estar inferior ao nível máximo da parede do canal, forçando o alagamento. O Incra precisa ser avisado da possibilidade de alagamento das culturas antes de distribuir os lotes desapropriados às margens dos canais. Num rio artificial, essa água será incorporada a seu leito, poupando energia com a transposição de água do rio São Francisco.
    vi) O custo do projeto ficará muito reduzido, pois não somente se economizará com a exclusão dos aquedutos, mas, também, com a exclusão de membranas e de material para concreto e na execução dos próprios canais.
    A construção de rios artificiais propiciará, no entanto, a infiltração de uma pequena parcela de água em direção ao lençol freático. Será isso ruim, considerando os benefícios que advirão?

  • Paulo Afonso da Mata Machado

    Aos integrantes do Instituto Zequinha Barreto:
    Penso que os reais objetivos do projeto de transposição não são conhecidos da maioria da população pelo que estou inserindo artigo elaborado pelo Ministério da Integração Nacional para melhor esclarecer a população nesse sentido:

    Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional

    O que é o Projeto?

    O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF) é um empreendimento do Governo Federal, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, destinado a assegurar a oferta de água, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e grandes cidades da região semi-árida dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

    A integração do rio São Francisco às bacias dos rios temporários do Semi-árido será possível com a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o equivalente a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s) no trecho do rio onde se dará a captação. Este montante hídrico será destinado ao consumo da população urbana de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatro estados do Nordeste Setentrional. Nos anos em que o reservatório de Sobradinho estiver vertendo, o volume captado poderá ser ampliado para até 127 m³/s, contribuindo para o aumento da garantia da oferta de água para múltiplos usos.

    Bacias da integração

    A Região Nordeste que possui apenas 3% da disponibilidade de água e 28% da população brasileira, apresenta, internamente, uma grande irregularidade na distribuição dos seus recursos hídricos, uma vez que o rio São Francisco representa 70% de toda a oferta regional.

    Esta irregularidade na distribuição interna dos recursos hídricos, associada a uma discrepância nas densidades demográficas (cerca de 10 hab/km2 na maior parte da bacia do rio São Francisco e aproximadamente 50 hab/km2 no Nordeste Setentrional) faz com que, do ponto de vista da sua oferta hídrica, o Semi-árido Brasileiro seja dividido em dois: o Semi-árido da Bacia do São Francisco, com 2.000 a 10.000 m3/hab/ano de água disponível em rio permanente, e o Semi-árido do Nordeste Setentrional, compreendendo parte do estado de Pernambuco e os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, com pouco mais de 400 m3/hab/ano, disponibilizados através de açudes construídos em rios intermitentes e em aqüíferos com limitações quanto à qualidade e/ou quanto à quantidade de suas águas.

    Diante desta realidade, tendo por base a disponibilidade hídrica de 1500 m3/hab/ano, estabelecida pela ONU como sendo a mínima necessária para garantir a uma sociedade o suprimento de água para os seus diversos usos, o Projeto de Integração estabelece a interligação da bacia hidrográfica do rio São Francisco, que apresenta relativa abundância de água (1850 m³/s de vazão garantida pelo reservatório de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste Setentrional com quantidades de água disponível que estabelecem limitações ao desenvolvimento sócio-econômico da região.

    As bacias que receberão a água do rio São Francisco são: Brígida, Terra Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e Metropolitanas no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte; Paraíba e Piranhas na Paraíba.

    Eixos do projeto

    O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte, que levará água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, e o Eixo Leste, que beneficiará parte do sertão e as regiões agrestes de Pernambuco e da Paraíba.

    O Eixo Norte, a partir da captação no rio São Francisco próximo à cidade de Cabrobó – PE, percorrerá cerca de 400 km, conduzindo água aos rios Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte. Ao cruzar o estado de Pernambuco, esse eixo disponibilizará água para atender às demandas de municípios inseridos em 3 sub-bacias do rio São Francisco: Brígida, Terra Nova e Pajeú. Para atender à região do Brígida, no oeste de Pernambuco, foi concebido um ramal de 110km de comprimento, que derivará parte da vazão do Eixo Norte para os açudes Entre Montes e Chapéu.

    Projetado para uma capacidade máxima de 99 m³/s, o Eixo Norte operará com uma vazão contínua de 16,4 m³/s, destinados ao consumo humano. Em períodos recorrentes de escassez de água nas bacias receptoras e de abundância na bacia do São Francisco (Sobradinho vertendo), as vazões transferidas poderão atingir a capacidade máxima estabelecida. Os volumes excedentes transferidos serão armazenados em reservatórios estratégicos existentes nas bacias receptoras: Atalho e Castanhão, no Ceará; Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz e Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte; Engenheiro Ávidos e São Gonçalo, na Paraíba; e Chapéu e Entre Montes, em Pernambuco.

    O Eixo Leste, que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no município de Floresta – PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220 km até o rio Paraíba – PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um ramal de 70 km que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca.

    Previsto para uma capacidade máxima de 28 m³/s, o Eixo Leste funcionará com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano. Periodicamente, em caso de sobras de água em Sobradinho e de necessidade nas regiões beneficiadas, o canal poderá funcionar com a vazão máxima, transferindo este excedente hídrico para reservatórios existentes nas bacias receptoras: Poço da Cruz, em Pernambuco, e Epitácio Pessoa (Boqueirão), na Paraíba.

    Os eixos de integração foram concebidos na forma de canais de terra, com seção trapezoidal, revestidos internamente por membrana plástica impermeável, com recobrimento de concreto. Nos trechos de travessia de rios e riachos serão construídos aquedutos, sendo previstos túneis para a ultrapassagem de áreas com altitude mais elevada. Para vencer o desnível do terreno entre os pontos mais altos do relevo, ao longo dos percursos dos canais, e os locais de captação no rio São Francisco, serão implantadas 9 estações de bombeamento: 3 no Eixo Norte, com elevação total de 180m, e 6 no Eixo Leste, elevando a uma altura total de 300m. Ao longo dos eixos principais e de seus ramais, serão construídas 30 barragens para desempenharem a função de reservatórios de compensação, permitindo o fluxo de água nos canais mesmo durante as horas do dia em que as estações de bombeamento estejam desligadas (as bombas ficarão de 3 a 4 horas por dia desligadas para reduzir os custos com energia).

    Distribuição de Água

    Com o Projeto de Integração do Rio São Francisco, os grandes açudes (Castanhão – CE, Armando Ribeiro Gonçalves – RN, Epitácio Pessoa – PB, Poço da Cruz – PE e outros) do Nordeste Setentrional passarão a oferecer uma maior garantia para o fornecimento de água aos diversos usos das populações. Nos estados beneficiados com o projeto, vários sistemas de distribuição estão operando, encontram-se em obras ou estão em fase de estudos, com o objetivo de levar água destes reservatórios estratégicos para suprir cidades e perímetros de irrigação.

    No estado do Ceará, o sistema de reservatórios que abastece a Região Metropolitana de Fortaleza – RMF (açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião) já está interligado ao rio Jaguaribe através do Canal do Trabalhador (capacidade de 5 m³/s). Em função da necessidade de se levar mais água da bacia do Jaguaribe para a RMF, o Governo do Estado está construindo o Canal da Integração (capacidade de 22 m³/s), interligando o açude Castanhão às bacias do Banabuiú (maior afluente do rio Jaguaribe) e Metropolitanas.

    No estado do Rio Grande do Norte, o açude Armando Ribeiro Gonçalves é responsável pelo abastecimento de uma grande quantidade de municípios das bacias do Piranhas-Açu, Apodi e Ceará-Mirim, através de 4 grandes sistemas adutores que estão em operação: Adutora de Mossoró, Adutora Sertão Central / Cabugi, Adutora Serra de Santana, Adutora do Médio Oeste. Encontra-se em fase de projeto a Adutora do Alto Oeste, que atenderá à maior parte dos municípios da bacia do Apodi, captando água no açude Santa Cruz, outro reservatório de recepção das transferências hídricas do Projeto São Francisco.

    No estado da Paraíba, o Eixo Leste do Projeto São Francisco permitirá o aumento da garantia da oferta de água para os vários municípios da bacia do Paraíba, atendidos pelas adutoras do Congo, do Cariri, Boqueirão e Acauã. O Eixo Norte possibilitará o abastecimento seguro de diversos municípios da bacia do Piranhas, atendidos por sistemas adutores tais como Adutora Coremas / Sabugi e Canal Coremas / Souza.

    No estado de Pernambuco, os Eixos Norte e Leste, ao atravessarem o seu território, servirão de fonte hídrica para sistemas adutores existentes ou em projeto, responsáveis pelo abastecimento de populações do Sertão e do Agreste: Adutora do Oeste, Adutora do Pajeú, Adutora Frei Damião e Adutora de Salgueiro.

    Benefícios

    O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é a mais importante ação estruturante, no âmbito da política nacional de recursos hídricos, tendo por objetivo a garantia de água para o desenvolvimento sócio-econômico dos estados mais vulneráveis às secas (Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco). Nesse sentido, ao mesmo tempo em que garante o abastecimento por longo prazo de grandes centros urbanos da região (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João Pessoa) e de centenas de pequenas e médias cidades inseridas no Semi-árido, o projeto beneficia áreas do interior do Nordeste com razoável potencial econômico, estratégicas no âmbito de uma política de desconcentração do desenvolvimento, polarizado até hoje, quase exclusivamente, pelas capitais dos estados.

    Ao interligar os açudes estratégicos do Nordeste Setentrional com o rio São Francisco, o projeto irá permitir:

    No Estado do Ceará:

    o aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos maiores reservatórios estaduais (Castanhão, Orós e Banabuiú) que, operados de forma integrada com os açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião, fornecem água para os diversos usos da maior parte da população das bacias do Jaguaribe e Metropolitanas (5 milhões de habitantes de 56 municípios, em 2025);

    a redução do conflito existente entre a bacia do Jaguaribe e as bacias Metropolitanas, em função do progressivo aumento das transferências de água para o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza, que possui uma disponibilidade hídrica per capita de apenas 90 m3/hab/ano;

    uma melhor e mais justa distribuição espacial da água ofertada pelos açudes Orós e Banabuiú, beneficiando populações do Sertão Cearense, uma vez que, com o Projeto de Integração do São Francisco, esses reservatórios estariam aliviados do atendimento de parte das demandas do Médio e Baixo Jaguaribe e da Região Metropolitana de Fortaleza;

    a perenização do rio Salgado, estabelecendo uma fonte hídrica permanente para o abastecimento da segunda região mais povoada do Estado, o Cariri Cearense (cerca de 500 mil habitantes).

    No Estado do Rio Grande do Norte:

    o aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos dois maiores reservatórios estaduais (Santa Cruz e Armando Ribeiro Gonçalves) responsáveis pelo suprimento de água para os diversos usos da maior parte da população das bacias do Apodi, Piranhas-Açu, Ceará-Mirim e Faixa Litorânea Norte;

    a redução dos conflitos existentes na Bacia do Piranhas-Açu, entre usuários de água deste estado e do estado da Paraíba e entre os usos internos do próprio estado;

    a perenização dos maiores trechos dos rios Apodi e Piranhas-Açu, situados a montante dos açudes Santa Cruz e Armando Ribeiro Gonçalves, estabelecendo uma fonte hídrica permanente para as populações de mais de 60 municípios localizados nessas duas bacias hidrográficas;

    o abastecimento seguro para 95 municípios (1,2 milhão de habitantes em 2025), através do aumento da garantia da oferta de água dos açudes Santa Cruz e Armando Ribeiro Gonçalves, da perenização permanente de todos os trechos dos rios Apodi e Piranhas-Açu, em associação com uma rede de adutoras que vem sendo implantada há alguns anos (mais de 1000 km implantados).

    No Estado da Paraíba:

    o aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos maiores reservatórios estaduais (Epitácio Pessoa, Acauã, Engº Ávidos, Coremas e Mãe D’água) responsáveis pelo suprimento de água para os diversos usos da maior parte da população das bacias do Paraíba e Piranhas;

    a redução dos conflitos existentes na Bacia do Piranhas-Açu, entre usuários de água deste estado e do estado do Rio Grande do Norte e entre os usos internos do próprio estado;

    a redução dos conflitos existentes na Bacia do Paraíba, fundamentalmente sobre as águas do Açude Epitácio Pessoa, insuficientes para os seus diversos usos e tendo como umas das conseqüências o estrangulamento do desenvolvimento sócio-econômico de Campina Grande, um dos maiores centros urbanos do interior do Nordeste (cerca de 400 mil habitantes);

    uma melhor e mais justa distribuição espacial da água ofertada pelos açudes Coremas e Mãe D’Água, beneficiando populações da região do Painço, uma vez que, com o Projeto de Integração do São Francisco, estariam aliviados do atendimento de demandas dos trechos do rio Piranhas, situados a jusante destes reservatórios;

    o abastecimento seguro para 127 municípios (2,5 milhões de pessoas em 2025), através do aumento da garantia da oferta de água dos açudes Epitácio Pessoa, Acauã, Engº Ávidos, Coremas e Mãe D’água, da perenização permanente de todos os trechos dos rios Paraíba e Piranhas, em associação com uma rede de adutoras que vem sendo implantada há alguns anos (mais de 600 km implantados).

    No Estado de Pernambuco:

    uma melhor distribuição espacial dos seus recursos hídricos, pois além da disponibilidade de água do rio São Francisco em cerca de metade da sua fronteira sul, o Estado contará com dois grandes canais (Eixo Norte e Eixo Leste), cortando transversalmente o seu território, a partir dos quais uma rede de adutoras e/ou canais irá, de forma sustentável, garantir o abastecimento das regiões do Agreste e do Sertão, situadas em cotas elevadas e distantes daquele rio;

    a divisão com os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, de parte dos custos de oferta hídrica para as regiões do Agreste e do Sertão, tornando a água, distribuída a partir dos canais do Projeto de Integração, mais barata do que aquela captada diretamente do rio São Francisco por meio de adutoras isoladas (os custos de operação e manutenção da infra-estrutura dos Eixos Norte e Leste serão rateados entre os estados beneficiados, gerando uma economia de escala);

    o aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada por dois dos maiores reservatórios do Estado (Entre Montes e Poço da Cruz), estrategicamente situados para permitir o atendimento de demandas atuais e futuras das bacias dos rios Brígida e Moxotó;

    o abastecimento seguro para 113 municípios (2,9 milhões de pessoas em 2025) do Sertão (bacias do Brígida, Terra Nova, Pajeú e Moxotó) e do Agreste, através da disponibilidade hídrica proporcionada diretamente pelos Eixos Norte e Leste, pelos seus ramais (Ramal de Entre Montes e Ramal do Agreste), pelos Açudes Entre Montes e Poço da Cruz, pelos leitos de rios perenizados, em associação com uma rede de adutoras que poderá ser conectada aos canais do Projeto de Integração.

    O Projeto de Integração, também, terá um grande alcance no abastecimento da população rural, quer seja através de centenas de quilômetros de canais e de leitos de rios perenizados, quer seja por intermédio de adutoras para o atendimento de um conjunto de localidades.

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