EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Dia Mundial de Combate ao Câncer, 27/11: Casos de câncer crescem mais que a população

Inca calcula que 2010 terá 490 mil novos casos, 4,9% a mais do que os previstos para este ano. O IBGE, porém, estima que o número de brasileiros crescerá cerca de 1%

Embora 2009 ainda não tenha acabado, um triste recorde já está previsto para 2010. Entre janeiro e dezembro do próximo ano, quase meio milhão de novas vítimas de câncer surgirão no Brasil. A estimativa foi divulgada ontem pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), e revela um aumento de 4,9% na incidência da doença, o que corresponde a 23,2 mil casos a mais em relação ao previsto para 2009. Nesse mesmo período, o crescimento relativo da população não deve alcançar 1%, evidenciando que muito ainda precisa ser feito para controlar o mal. Reportagem de Márcia Neri, no Correio Braziliense.

Apesar dos constantes alertas sobre o perigo da exposição solar, o câncer de pele não melanoma (menos agressivo) continua como o mais frequente entre os brasileiros, e atingirá pelo menos 114 mil pessoas no próximo ano, totalizando 23% dos casos estimados. É uma triste estimativa, que reforça a importância do Dia Mundial de Combate ao Câncer, que ocorre na próxima sexta-feira.

De acordo com o Inca, os homens morrem mais do que as mulheres com o mal, mas, na Estimativa 2010: Incidência de Câncer no Brasil, o número de casos novos de câncer é ligeiramente maior entre elas (51,3%). A doença cresce progressivamente a cada ano. É um fenômeno que acompanha o envelhecimento da população, segundo o médico epidemiologista e coordenador da Prevenção e Vigilância do Inca, Claúdio Noronha. “Além da longevidade, a doença está relacionada ao estilo de vida adotado de algumas décadas para cá. Estudos recentes reforçam que fatores genéticos correspondem apenas a 10% dos casos de câncer. Tabagismo, alimentação inadequada, sedentarismo e exposição ao sol são os grandes responsáveis pelo mal”, observa.

Depois do câncer de pele não melanoma, campeão de incidência — e que apresenta alto índice de cura quando o diagnóstico é feito precocemente —, o de mama, entre a mulheres, e o de próstata, entre os homens, são os mais comuns no país. Algumas particularidades, entretanto, comprovam a observação do coordenador do Inca. Em geral, o câncer é mais frequente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, justamente onde se concentra a maioria dos idosos brasileiros. Na Região Norte, no entanto, um dado chama a atenção: o número de casos de câncer de colo do útero supera o de mama. Ainda no Norte, e também no Nordeste, depois do câncer de próstata, o de estômago é o mais incidente entre os homens, destoando do resto da nação, já que, nas outras regiões, o de pulmão é o terceiro mais ocorrente entre eles.

“Sucateamento”

Na Região Amazônica, a falta de informação, de medidas preventivas e de acesso aos serviços de saúde e ao exame de Papanicolau determina a discrepância. “A alta incidência de câncer de estômago no Norte e Nordeste está relacionada a precárias condição de vida e de conservação de alimentos e excesso de consumo de bebida alcoólica, assim como o tabagismo no Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Ainda temos um grande desafio em algumas localidades em relação ao diagnóstico e tratamento”, explica Noronha.

Cancerologistas e oncologistas clínicos brasileiros se dizem frustrados com o tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Enaldo Lima, afirma que o SUS deixa enormes lacunas em relação às opções terapêuticas para a doença, impossibilitando os profissionais de utilizarem procedimentos e drogas incorporadas à prática médica há muito tempo. “São limitações inaceitáveis. Devido ao sucateamento do setor oncológico, ocorre uma demanda reprimida. Muitos pacientes morrem a espera de radioterapia e cirurgias”, reclama.

Segundo ele, as políticas adotadas pelo SUS também excluem o uso de drogas importantíssimas. “Anticorpos monoclonais, indicados em casos de câncer de mama e linfoma não Hodgkins, têm uso consagrado há vários anos, proporcionando aumento significativo da taxa de cura. Cerca de 80% dos casos de câncer no Brasil, porém, são tratados no âmbito do SUS, e esses remédios são negados aos pacientes”, declara. “Isso contribui para que 160 mil brasileiros morram por ano em decorrência do câncer”, lamenta.

O problema do “solzão” do DF

No Distrito Federal, oficialmente, os dados revelam que o câncer de próstata (45 casos para cada 100 mil homens) e de mama (50,17 casos para cada 100 mil mulheres) são mais frequentes do que os de pele não melanoma. “A maioria dos tumores cutâneos é diagnosticado e tratado em consultórios ou ambulatórios dermatológicos, e nem sempre notificado às autoridades em saúde; daí o falso registro. A incidência de câncer de pele não melanoma, porém, supera com certeza o de mama e de próstata”, garante o oncologista do Hospital Universitário de Brasília e do Centro de Câncer de Brasília João Nunes.

O especialista local pondera que o DF tem perfil socioeconômico e padrão de vida muito semelhante ao do Sul e Sudeste e de países desenvolvidos. “A população acaba se expondo aos mesmos fatores de risco da região mais rica do país, e adoece de forma muito parecida. Devemos lembrar, ainda, que atendemos muitos pacientes do Nordeste e de Minas Gerais em nossos hospitais públicos, o que muda um pouco o perfil de registro. De qualquer forma, a população daqui está envelhecendo, se mostra mais obesa, sedentária, tabagista e exposta ao sol. Isso já diz tudo”, completa.

O dermatologista Gilvan Alves garante: a população de Brasília e região não se protege do sol. Ele afirma que e o número de casos de câncer de pele será bem superior aos 1.060 previstos pelo Inca para o DF em 2010. “Tenho pacientes que argumentam precisar pegar um solzinho. Não é preciso. O sol nos pega muito mais do que os 10 minutos diários necessários para a síntese da vitamina D. E aqui não tem solzinho, somente ‘solzão’. Moramos em um país tropical, onde a incidência de raios solares se dá praticamente 365 dias por ano de forma intensa”, pontua.

Desprezo pelo perigo

O servidor público Mário Geraldo Abreu de Macedo, 53 anos, sabe muito bem dos danos provocados pela exposição solar. Ele lamenta que na sua infância os protetores solares praticamente não existiam. “Tenho descendência alemã e a pele muito branca. Perdi a conta de quantas vezes tive insolação quando criança”, lembra. O resultado dessa exposição tardou, mas chegou. “Tive carcinoma basocelular em mais de 20 pontos do meu corpo. Em mim, ele se manifesta na forma de pequenas feridas que não cicatrizam. Desde os 35 anos, preciso recorrer ao dermatologista para procedimentos de retirada do câncer, que já apareceu no rosto, nos braços, na pernas, nas costas e no peito.”

Mário confessa que, apesar dos apelos médicos, nem sempre se lembra de passar o protetor solar. “A minha geração cresceu cultuando o corpo bronzeado e desprezando os perigos da exposição. Como as queimaduras são cumulativas, sei que o câncer pode aparecer novamente. Felizmente, até hoje, o tipo que se manifestou é curável. Hoje, tenho o cuidado de ensinar meus filhos a se protegerem. Fico de olho e não os deixo expostos ao sol entre as 10h e as 16h. O protetor é um companheiro inseparável dos meninos”, assegura.

“Tive carcinoma basocelular em mais de 20 pontos do meu corpo. Em mim, ele se manifesta na forma de pequenas feridas que não cicatrizam” – Mário Geraldo Abreu de Macedo, servidor público

EcoDebate, 27/11/2009

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta utilizar o formulário abaixo. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

Participe do grupo Boletim diário EcoDebate
E-mail:
Visitar este grupo

Fechado para comentários.