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Estudos referendam as propriedades medicinais dos chás

chá
Imagem: iStockphoto

A cada dia, mais estudos referendam as propriedades medicinais dos chás. Plantas ajudam a combater de dores de cabeça a doenças hepáticas, passando por úlceras e diabetes

A confirmação da sabedoria popular – Parte fundamental da cultura de boa parte dos países orientais, o hábito de beber chá conquista cada dia mais o paladar e a atenção dos brasileiros. É bem verdade que a evolução da indústria farmacêutica nos anos 1950 desacelerou o consumo por um tempo. No entanto, a partir da década de 1980, o interesse pelas plantas com propriedades medicinais voltou a crescer, dessa vez com o incentivo de pesquisas em todos os cantos do mundo. Hoje, os chás, quentes ou gelados, são apreciados em qualquer estação. Reportagem de Márcia Neri, no Correio Braziliense.

Quem nunca ouviu falar dos benefícios do chá quebra-pedra para quem sofre de cálculo renal? Usadas como preventivas ou terapêuticas, as infusões à base de plantas medicinais têm propriedades digestivas, diuréticas, antirreumáticas, antiestressantes e cicatrizantes, e não são mais vistas como remédios populares. “A ciência, pouco a pouco, vem confirmando a ação dos fitoterápicos. Um estudo recente da Escola Paulista de Medicina, por exemplo, prova o efeito benéfico da espinheira-santa (Maytenus illicifolia). Seu princípio ativo combate bactérias e cura úlceras do aparelho digestivo, principalmente no estômago”, afirma a farmacêutica Andrea Saboya.

No Brasil, há diversidade para todos os gostos — e necessidades. As ervas mais usadas no preparo de chás são a espinheira-santa, a camomila, a carqueja, a cidreira, a São João, o boldo e o alecrim. A nutricionista Jamile Freire lembra que as propriedades medicinais das espécies já são reconhecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Atualmente, a população tem acesso a derivados de espinheira-santa, para gastrites e úlceras, e de guaco, para tosses e gripes”, diz.

A administradora de empresas Meire Trindade, 42 anos, mantém o hábito de tomar chá desde criança. Mesmo criada em uma fazenda de café no interior de São Paulo, foram as ervas medicinais que conquistaram a sua preferência. “As plantas fitoterápicas lembram a minha infância. Minha avó cuidava do pomar com muito zelo, e eu a auxiliava. Aprendi a gostar delas e a prevenir doenças com os chazinhos. Hoje, tomo pelo menos quatro xícaras por dia”, conta. “Tomo chá de camomila todos os dias antes de dormir, e não dispenso o chá verde na época da TPM. Na semana passada, estava com dor na garganta e o chazinho de gengibre me socorreu. Quando viajo, as caixinhas vão comigo”, assegura.

Atualmente, os chás branco, verde e vermelho ganharam espaço entre consumidores do mundo ocidental por proporcionarem benefícios à saúde e à beleza, prevenindo doenças, reduzindo peso e até retardando o envelhecimento. Os três são produtos da mesma erva, a Camellia sinensis. O que os diferencia são o estágio de maturação e a forma de processar a folha da planta. “O branco e o vermelho são fontes de substâncias funcionais, que combatem os radicais livres e células cancerígenas. Eles também são diuréticos e melhoram a saúde cardiovascular. Os dois, assim como o verde, podem emagrecer se associados à alimentação saudável e aos exercícios”, garante a nutricionista. Estudos recentes publicados na revista científica American Journal of Clinical Nutrition comprovam que o chá verde também combate a angústia e a depressão.

Cuidados

É preciso cautela, entretanto. Quem faz o alerta é o coordenador da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Unicamp, João Ernesto de Carvalho. Segundo ele, o uso indiscriminado de algumas plantas traz efeitos nocivos ao organismo, porque os chás têm propriedades farmacológicas semelhantes às dos remédios sintéticos. “Eles são benéficos, mas podem provocar danos colaterais ou serem tóxicos se ingeridos exageradamente. Algumas substâncias presentes em determinadas plantas também interagem negativamente com medicamentos receitados para o tratamento de doenças crônico-degenerativas”, pondera.

O farmacêutico da Unicamp explica que é fundamental obter orientação médica para a ingestão dos chás. “O grande problema é que as faculdades de medicina não abordam os fitoterápicos. Os médicos nem sempre conhecem os efeitos das plantas no organismo”, acrescenta.

Ouça entrevista com o coordenador da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Unicamp, João Ernesto de Carvalho

Algumas ervas

Confira as propriedades de algumas das plantas mais usadas em chás:

Sabugueiro
Nome científico: Sambucus nigra L.
Partes utilizadas: folhas e flores (os frutos são tóxicos)
Indicações: gripes, resfriados, bronquite, asma, reumatismo, doenças renais, rubéola e sarampo. É também usado para baixar a febre

Camomila
Nome científico: Matricaria chamomilla
Parte utilizada: flor
Indicações: usada para aliviar cólicas intestinais e diarreias infantis, tem ação calmante, trata feridas na boca e enxaquecas

Capim santo
Nome científico: Cymbopogon citratus
Parte utilizada: folhas
Indicações: insônia, dores de cabeça, nervosismo e flatulência. É usado como analgésico suave

Carqueja
Nome científico: Baccharis trimera
Parte utilizada: toda a planta, principalmente a parte aérea
Indicação: gastrite, má digestão, azia, cálculos biliares e prisão de ventre. Age como diurético e protege o fígado

Espinheira-santa
Nome científico: Maytenus illicifolia
Parte utilizada: folhas
Indicações: problemas gástricos, principalmente úlcera. Externamente, é indicada para cicatrização de feridas

Erva cidreira
Nome científico: Melissa Officinalis L.
Partes utilizadas: folhas e sumidades floridas
Indicação: para aliviar o nervosismo, dores de cabeça, dores das vias digestivas, enjoos, gases, palpitações cardíacas e irregularidades menstruais. Também é eficaz como estimulante cutâneo e repelente contra picadas de insetos

Hortelã
Nome científico: Mentha piperita L.
Partes utilizadas: folhas e sumidades floridas.
Indicações: como digestivo, para alívio de cólicas, doenças hepáticas e diminuição dos gases. É usado em xaropes para tratamento de asma e bronquite (favorece a expectoração). Também é vermífugo

Alcachofra
Nome científico: Cynara scolymus
Parte utilizada: folhas
Indicações: doenças do fígado e da vesícula biliar, males gástricos e renais, redução da taxa de colesterol. É diurética, hipoglicemiante e ajuda nos regimes de emagrecimento

Pata de vaca
Nome científico: Bauhinia forficata link
Parte utilizada: folhas
Indicações: diabetes, elefantíase, taxa elevada de colesterol no sangue, insuficiência urinária

A promessa do chá verde

Tatiana Sabadini

O chá verde pode ser um grande aliado na prevenção do câncer de boca. O resultado consta em um estudo publicado pelo Cancer Prevention Research, na revista da American Association for Cancer Research. O texto mostra que continuam a crescer as evidências sobre os efeitos protetores da erva de origem chinesa. Os cientistas americanos afirmam estar cada vez mais perto de encontrar um resultado totalmente positivo. Nessa primeira fase, foi observada uma leve redução do câncer de boca em pacientes de risco.

O estudo foi feito para testar uma forma de prevenir a doença em pacientes com alto risco de desenvolver o mal. Todos os voluntários apresentavam lesões pré-malignas. “Fizemos testes durante anos e dados epidemiológicos apontaram que o chá verde pode sim ter efeitos preventivos em alguns tipos de câncer na área do pescoço e da cabeça’, contou ao Correio Vassiliki Papadimitrakopoulo, professora de medicina do Departamento de Oncologia da Universidade do Texas e chefe da pesquisa.

Foram ministradas, durante três meses, doses de 500, 750 e 1000 mg/m² — três vezes ao dia, depois das refeições, em cápsulas — em 41 voluntários. O que seria equivalente a tomar de oito a 10 copos do chá por dia. Alguns pacientes receberam doses de placebo. O resultado foi positivo para 18% dos pacientes que tomaram o placebo e para 50% dos pacientes que tomaram o extrato. “Nós observamos que a resposta foi melhor para aqueles que tomaram a dose mais alta do remédio”, afirma a especialista.

Segundo Vassiliki, na questão de prevenção de câncer não houve nenhuma diferença entre o placebo e o extrato do chá. O próximo passo para a equipe é continuar com a pesquisa com outra dosagem. “Os resultados podem ser usados em outros testes, nos quais indivíduos de alto risco podem ser expostos ao agente por períodos mais longos para alcançarmos efeitos preventivos do câncer”, diz a pesquisadora.

EcoDebate, 11/11/2009

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