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Gerais de Balsas, RIMA e Euclides de Carli: A defesa intransigente do meio ambiente da soja, artigo de Mayron Régis

Soja no Cerrado, foto da AE
Soja no Cerrado, foto da AE

[EcoDebate] O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para o desmatamento de mata nativa e de plantio de grãos em mais de 11.000 hectares, nos Gerais de Balsas, desentranhado pela Terra Consultoria Agropecuária e Industrial, incensa o senhor Euclides de Carli, pretenso proprietário das treze fazendas, municípios de Balsas, Tasso Fragoso e Alto Parnaiba, que constam neste relatório e de mais outras tantas que de nada se sabe, como só se vendo pra crer: “O proponente é detentor de vasta experiência tanto como técnico como agricultor…Este tem participação …na instalação do Projeto Batavo Nordeste, situado nos Gerais de Balsas…o mesmo possui um corpo técnico altamente capacitado…”. Aqui vemos o RIMA angariando fundos sentimentais através de uma peça publicitária do tipo que se vê em propaganda política – saiba onde ele nasceu, onde e com quem ele trabalhou e etc. Como o Rima fez o favor de apresentar o senhor Euclides de Carli para possíveis leitores do documento, seria bom emoldurá-lo com outras versões.

Entre o ano de 2007 e 2008, a engenheira-agrônoma Cristiane Macau, colaboradora do Fórum Carajás, prestava serviço para a Associação Camponesa num projeto de reflorestamento das margens do Rio Peixe, comunidade de Buritirana, município de Balsas, financiado pelo Programa de Pequenos Projetos do ISPN(Instituto Sociedade População e Natrueza) a partir de recursos do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Um projeto como esse, desperta pouca atenção para quem quer que seja por enfardar pouco recurso comparado com outros projetos que são diligenciados para a Amazônia e ainda por cima se convencionou os Gerais de Balsas como área propícia para a lavoura mecanizada de grandes extensões. Pode parecer pouco, mas para a comunidade de Buritirana que foi encalacrada pela monocultora da soja no baixão, esse pouco significou um novo cruzamento com a parte mais alta sem desmatamentos e agrotóxicos. Persiste nessa área uma confusão fundiária que se deve ao fato de que vários documentos transitam no cartório de Balsas sem que saiba exatamente de quem é a terra e isso mesmo em áreas com título do governo do Maranhão. O senhor Euclides de Carli se beneficia dessa situação e em certa data alguém comenta com a Cristiane Macau que as atividades dela na Buritirana eram de conhecimento de Euclides de Carli.

Numa outra conversa, entre o próprio e o Antonio Criolo, dirigente da Comissão Pastoral da Terra de Balsas e presidente do Fórum Carajás, ele propôs um acerto em que devolvia as áreas em que comunidades moravam e que elas tinham títulos do governo do estado desde o governo repusesse a sua perda com outras áreas. Só o fato dele querer afiançar um acerto desses com alguém da CPT corrobora a hipótese de que o senhor Euclides de Carli é um dos maiores especuladores de terra da região de Balsas. Outro caso que se ficou sabendo foi a partir de uma conversa em que um dito proprietário de terras em Alto Parnaiba denunciava a presença de pistoleiros do senhor Euclides de Carli os quais impediam a sua entrada.

No processo de licenciamento dos mais de onze mil hectares, a Comissão Pastoral da Terra de Balsas em articulação com outros movimentos impede que a audiência pública aconteça em Balsas pelas inúmeras falhas presentes no relatório de impacto ambiental e no processo de licenciamento. Uma das exigências feitas para que a audiência ocorra em um futuro incerto é que se faça a análise da cadeia dominial das fazendas.

Segundo o senhor João Fonseca, associado da ACA, a fazenda São Vicente que foi indicada como compensação de reserva legal para várias áreas que podem ser desmatadas é um assentamento.

Esse licenciamento como outros na bacia do rio Balsas e na bacia do rio Parnaíba demonstram a falta de política ambiental do governo do Maranhão, visto que mesmo que o empreendimento seja licito a secretaria do meio ambiente em nenhum momento pede como medidas compensatórias a criação de unidades de conservação e investimento em extrativismo. Os desmatamentos das Chapadas no cerrado sul-maranhense atingem principalmente o extrativismo de frutas praticado pelas comunidades.

Mayron Régis, assessor de comunicação Fórum Carajás, colaborador e articulista do EcoDebate.

[EcoDebate, 09/07/2009]

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