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7 argumentos contra energia nuclear, artigo de David Fig

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7 argumentos contra energia nuclear, artigo de David Fig

[EcoDebate] Nem só no Brasil, mas também em Portugal e em outros países lusofônicos, existem políticos que favorecem a energia nuclear. No momento, por exemplo, o website de um bloco de partidos de esquerda português colocou em debate público o uso da energia nuclear como proposta de programa de governo, a ser apresentada nas próximas eleições, em outubro de 2009.

Tendo em vista a escassez de informação sobre o tema na língua portuguesa, o Dr. David Fig, economista político e sociólogo ambiental da África do Sul, autor do livro “Uranium Road”, apresentou 7 argumentos porque a Energia Nuclear não vale! E o socialista Mike Kantey, Presidente da Coalizão Contra a Energia Nuclear da África do Sul, chamou a atenção para que as ações da esquerda não entre no caminho do urânio e do stalinismo.

* Energia nuclear é cara demais

Energia nuclear é extremamente subvencionada pelo Estado. A energia nuclear tem altíssimos custos (na construção) e no processo de enriquecer o urânio. Também altos custos para o depósito do lixo atômico, além dos custos de descontaminação e demolição (decommissioning) dos reatores velhos que não são declarados. Energias renováveis (energia solar e eólica) tem algum custos iniciais – muito menos do que da energia nuclear – e no final, o sol, o vento e as ondas do mar são de graça e para sempre. Também os custos de fiscalização da indústria nuclear são enormes e um custo extra para o Estado e o seu financiador, o povo!

* Energia Nuclear esquenta o clima global

Ainda existe o mito de que a energia nuclear não produz dióxido de carbono. Mas a realidade é que o ciclo da energia nuclear é um processo intensivo com alta produção de dióxido de carbono: mineração, moagem, produção de yellow cake (oxido de urânio concentrado), enriquecimento, construção dos reatores e usinas nucleares com milhares de toneladas de concreto, o transporte dos materiais radioativos a longas distâncias, depósito de lixo nuclear, descontaminação dos reatores velhos, etc.

* Segurança Energética

Com a opção de Energia Nuclear, Portugal vai ficar dependente dos países produtores da tecnologia e dos componentes das usinas nucleares. Portugal tem muito sol e vento, portanto possui melhores opções e com mais segurança para criar energia.

* Pouco emprego

Em comparação com a tecnologia eólica ou solar, a energia nuclear criar poucos empregos. Energias renováveis precisam de trabalhadores locais para a construção local e manutenção. Os empregos são criados localmente e ficam no local, por isso os comunidades ganham.

* Os riscos de contaminação

Sempre há um risco de contaminação com radiação, independente se a usina nuclear funciona perfeitamente com um bom sistema de segurança (“good” safety record). Emissão de isótopos radiativos de césio e estrôncio sempre acontecem, isso é uma contaminação “normal”, conhecida na linguagem internacional como contaminação “standard” das usinas nucleares. Acidentes com vazamento de radioatividade já aconteceram em várias usinas nucleares no mundo. Trabalhadores sofrem mais tarde de doenças graves como leucemia. E mais: o lixo nuclear precisa ser depositado de forma totalmente isolada do meio ambiente para um tempo de 244 mil anos! E até agora a tecnologia para garantir isso de forma perfeita ainda não existe.

* Energia nuclear significa produção de eletricidade centralizada

A opção de energia nuclear está relacionada com a produção de eletricidade centralizada. Isso significa que quando uma coisa dá errado, milhares de pessoas ficam sem energia no mesmo momento. Energias renováveis e descentrais não tem este risco!

* Energia nuclear é antidemocrática

A indústria nuclear é por sua natureza secreta e sem transparência. Em alguns países, foi criada uma polícia especializada para cuidar dos materiais radioativos contra o roubo pelos “terroristas”. Com este argumento, a indústria nuclear contribui para a diminuição dos direitos democráticos da sociedade, porque cria um “Estado de Segurança”, um tipo de Estado que o população portuguesa combateu durante a sua Revolução de 1974.

David Fig, davidfig{at}iafrica.com

David Fig é socioambientalista e economista político da África do Sul. Possui doutorado em relações Sul-Sul pela London School of Economics e se especializou em questões de energia, comérico, biodiversidade e responsabilidade corporativa. Os seus livros mais recentes são “Uranium Road: Questioning South Africa’s Nuclear Direction (Jacana, 2005)” e “Staking their Claims: Corporate Social and Environmental Responsibility in South Africa (UKZN Press, 2007)”

Nota do EcoDebate: Mike Kantey, Presidente da Coalizão Contra a Energia Nuclear da África do Sul (Coalition Against Nuclear Energy of South Africa) concorda com os argumentos do Dr. David Fig e completa: “Para mim, como apoiador dos princípios socialistas e como um ex-membro do Congresso Sul-Africano (African National Congress), os fatos são muito claros: Uma economia centralizada e planificada sempre favorece a produção de energia centralizada e capital intensivo sem respeitar o povo. O contrário é a “people-friendly” – produção descentralizada da energia”. Essa forma de produção descentralizada é muito mais barata, muito mais limpa e cria inovação, favorece pequenos produtores, cria muito mais trabalho e combina melhor com as ecologias locais.

Mike Kantey completa: “Esperamos que os socialistas portugueses incorporem uma visão eco-socialista do século 21 à lá Andre Gorz e Murray Bookchin e não a miopia anti-democrática e homicida ao modo de Joseph Stalin do século 19.”

** Colaboração especial e tradução de Norbert Suchanek, Jornalista e Márcia Gomes de Oliveira, Socióloga.

[EcoDebate, 06/07/2009]

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