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Pesquisador alerta para os riscos do consumo mundial

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Imagem: Stockxpert

O aumento da população pode causar um colapso de abastecimento e agravar os danos ao ambiente. O alerta é do escritor belga e consultor da Organização Mundial do Comércio (OMC) Luc Vankrunkelsven. Autor de livros com análises envolvendo sobretudo a monocultura da soja, ele foi um dos convidados da palestra Monocultivo, alimentação e desenvolvimento, realizada na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).

Ao longo de 30 anos o belga observou o comportamento de diferentes regiões do Brasil e da Europa quanto ao consumo de grãos para a produção de ração animal. Durante esse tempo verificou que a maior parte da soja produzida no mundo é destinada a essa finalidade e não para alimentar o homem. “Em si a soja não é um problema, está consagrada há cinco mil anos. O sistema internacional desse produto é um problema”, diz. Matéria do jornal Gazeta do Sul, RS, 10/04/2009.

Segundo o escritor, no Brasil 1% da população tem 44% da terra, o que mostra disparidades envolvendo a produção. “Existem dois modelos conflitantes para a agricultura. Os fazendeiros com grandes extensões e exportadores e a agricultura familiar, que tem em média 10 hectares. Esses últimos fazem rotação e diversificam”, constata. Uma das maiores concentrações de terra em lavoura está em Cuiabá, onde o maior produtor de soja tem 100 mil hectares. “É uma prática bem diferente da dos pequenos. Por meio desse sistema a produção é grande e os preços, muito baixos, o que favorece a exportação para a Europa, que é problemática. O mundo tem um bilhão de pessoas com fome e 90% do farelo de soja é para alimentação animal”, impressiona-se.

Embora não defenda que a alimentação humana seja modificada e a oleaginosa passe a ser usada em maior quantidade, Luc Vankrunkelsven aponta que seria possível reduzir os danos ambientais com essa mudança de comportamento. Em suas análises, ele defende que o uso de água para a produção de rações reduziria significativamente, assim como a poluição gerada pelas indústrias de beneficiamento do grão. “Com a produção atual seria possível viver até com 9 bilhões de pessoas no mundo”, complementa.

Danos ambientais devem crescer
Nas publicações, o escritor faz uma relação entre o aumento da produção e os impactos que podem ser causados no ambiente. Segundo ele, para produzir um hectare de soja são perdidas 20 toneladas de soja. “Podemos dizer ainda que são necessários dez quilos de terra para colher um quilo de soja. Também se precisa de muita água tanto na agricultura quanto na pecuária. Por exemplo, para um quilo de trigo você precisa 550 litros de água. Para um quilo de bife você precisa 19 mil litros de água”, estima.

Para o consultor da OMC, à medida que for aumentando a população, o consumo também tende a crescer e, na mesma escala, os danos ambientais podem ser ainda maiores. Uma mudança nos hábitos alimentares é apontada como a saída mais segura. “Um dos desafios para o século 21 é como vamos nos relacionar com as proteínas. Vamos comer mais carne, como já acontece aqui no Sul, por exemplo. O povo, quanto mais poder econômico, mais come carne. Os chineses (20% da população), que há 20 anos comiam 15 quilos ao ano, agora consomem 38 quilos. Lá já se pode observar os impactos disso porque eles não têm tanta terra e água doce como aqui”, observa.

Conforme o consultor, a população do mundo dobrou nos últimos 50 anos, e o consumo de carne e peixe quintuplicou e vai dobrar de novo em 20 anos. Para atender a essa demanda, disse, será necessário mais terra para o cultivo principalmente de soja, utilizada para a produção de ração necessária ao alimento dos animais.

Mudança de cenário é possível

“Não tem uma, mas muitas receitas”. Essa é a definição de Luc Vankrunkelsven ao falar sobre as possíveis opções para amenizar os danos que seriam causados ao ambiente. Uma delas envolve a adoção de novos hábitos de consumo. “Comer menos carne é uma alternativa. Para mim o mais importante é se todos pensassem em reduzir o impacto da natureza comendo menos carne, o que exigiria menos ração e, consequentemente, menos soja, que para ser produzida consome o solo e polui o ambiente com os agrotóxicos. Com isso também se reduziria a emissão de gases causadores do efeito estufa tanto por bois quanto por humanos”, afirma. Outra alternativa para evitar os danos envolve uma prática que vem sendo adotada no Vale do Rio Pardo pelos agricultores familiares. Trata-se do resgate de sementes crioulas.

[EcoDebate, 13/04/2009]

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