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Bairro nobre de Brasília detém o recorde mundial de desperdício de água por habitante


Além de cartão postal, o Lago Paranoá é um dos principais reservatórios hídricos do Distrito Federal Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr

O Brasil detém o recorde de desperdício de água por habitante no mundo. Ele foi detectado no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, onde o gasto médio diário por pessoa é de mil litros. Enquanto isso, em países da Àfrica, como a Namíbia, por exemplo, as pessoas têm menos de um litro de água por dia. As informações são do engenheiro Paulo Costa, especialista em programas de racionalização do uso de água.

Ainda de acordo com Costa, da consultoria paulista H2C, que já desenvolveu mais mil projetos em empresas, hospitais e condomínios comerciais e residenciais, o consumo diário médio de água por pessoa nos grandes centros urbanos brasileiros oscila entre 250 a 400 litros do recurso natural. O volume é mais que o dobro do considerado ideal pela Organização das Nações Unidas (ONU) fixado em 110 litros/dia.

Segundo ele, só cinco países no mundo apresentam um nível de consumo de água per capita previsto pela ONU: Alemanha, Bélgica, República Tcheca, Hungria e Portugal.

Em entrevista ontem (22) à Agência Brasil, o especialista explicou que os resultados alcançados por esses países são fruto da conjugação de tecnologia com informação, educação ambiental e reeducação da população adulta. Esse caminho, assinalou, também deve ser seguido pelo Brasil para reverter o alto nível de desperdício de água.

Em primeiro lugar, ele destacou a necessidade de os brasileiros adotarem uma nova postura diante do consumo de água. “Isso diz respeito à reeducação ambiental, que deve ser difundida entre os adultos”.

Costa defende ainda a introdução da disciplina de educação ambiental nos currículos das escolas de ensino fundamental para fazer com que as crianças recebam noções sobre o consumo racional de água. “Isso possibilita uma vantagem em termos de atitude em relação ao consumo”.

Para reduzir o desperdício, o especialista lembrou uma série de dicas, como os banhos mais curtos, uma vez que o chuveiro responde por 46% do consumo de água dentro de uma casa. Ele recomendou também que, ao fazer a limpeza de utensílios de cozinha, deve-se usar pouca água e muito sabão e bucha, lembrando que as torneiras e misturadores respondem por 14% do consumo domiciliar. Outra dica é escovar os dentes com a torneira fechada.“São cuidados básicos em relação ao que nós já temos quanto ao consumo.”.

Costa criticou a preocupação geral da sociedade e dos governos com a ampliação da produção de água, em vez de buscar reduzir o consumo. “O que tínhamos de água disponível em 1950 é o mesmo que temos hoje, mas temos alguns bilhões a mais de seres humanos. Então, se não pensarmos em controlar a demanda, estamos completamente errados, porque o trabalho que as concessionárias de água e a população vêm fazendo é de apressar o término dos estoques. A água é a mesma, precisamos é controlar a forma como usá-la”, defendeu.

Dados da ONU apontam que mais de 4 bilhões de pessoas vão ter problemas com escassez de água em 2050.

Segundo o engenheiro, existe tecnologia de sobra no Brasil para gerir a demanda da água, que é um bem finito, não renovável e tem um custo elevado de tratamento. “É a atitude que nos falta”, afirmou.

De acordo com Costa, a conjugação de tecnologia e educação ambiental pode levar condomínios residenciais a terem 30% a 40% de economia por mês em seus gastos com água. Já nos condomínios comerciais, empresas e indústrias, a redução do gasto mensal com água pode chegar a 60%. “Ou seja, o que vemos como despesa no balanço de uma empresa pode se transformar em receita, por meio da adoção de programas de racionalização de consumo de água”, disse o engenheiro.

Matéria de Alana Gandra, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate,23/03/2009.

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