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Artigo

Sustentabilidade nos empreendimentos da construção civil, artigo Carol Salsa

construção civil
Foto: arquivo ABr

“O homem percebe os espaços de forma multisensorial e essa vivência fica registrada nas áreas do subconsciente da mente, as quais não podem ser desprezadas. Construções atuais que negam parte dos sentidos humanos, neutralizando estímulos orgânicos, devem ser evitadas.” (Papaneck,1995)

[EcoDebate] A sustentabilidade da construção civil transpôs o meio acadêmico e se instalou nos canteiros de obra do Brasil. “ O homem constrói para criar espaços onde determinadas necessidades possam ser satisfeitas, certas funções possam ser cumpridas , e determinadas atividades domésticas, sociais, econômicas , etc. , possam ser realizadas ao abrigo das ações voltadas ao meio ambiente.” ( Rosso, 1998).

Lideranças mundiais disseminam fundamentos da construção sustentável, respeito ao meio ambiente, responsabilidade social e viabilidade econômica dos empreendimentos. Soluções que harmonizem o ambiente natural com a interferência ocasionada por um novo projeto, confirmam ser menos impactantes se o conjunto atender aos princípios da ecologia , estabelecendo uma simbiose entre a natureza, a construção e o homem. Por isso, construir de forma sustentável deixou de ser uma tendência para ser um compromisso assumido com o meio ambiente.

Para os estudiosos do ambiente, a construção civil deve ser marcada de forma multidisciplinar atendendo aos vários níveis de sustentabilidade, quais sejam : ambiental, ecológica, espacial, cultural, política, relacional, social, técnica e temporal. Com esses pré-requisitos, a concepção do projeto, sua execução e monitoramento passam pela eficiência dos recursos mobilizados e princípios ecológicos, nomeadamente :

1- práticas sustentáveis de construção (salubridade, etc. );
2- proteção à biodiversidade ( uso dos condicionantes naturais: sol e vento) ;
3- controle de erosão e sedimentação ;
4- separação do lixo e reciclagem de entulhos da construção ( este último representa 61% de todo o lixo produzido no país );
5- uso de materiais sustentáveis ( telhas fabricadas com fibras vegetais, bambu, tijolo ecológico, etc. );
6- qualidade ambiental interna e na logística ( uso de indicadores de desempenho ambiental das construções civis).

“ A casa serve como uma terceira pele, regulando trocas de calor, iluminando os espaços, abrindo visuais, protegendo, confortando. As paredes constituem a envoltória humana e conformam espaços urbanos, seus acabamentos instigam os sentidos, suas formas criam usos, visuais e sensações, suas modulações criam ritmos e facilitam a compreensão do espaço ”. ( Mariano Bueno, 1995)

A ciência potencializa a acumulação de conhecimentos e criação de produtos, serviços e soluções inovadoras e criativas complementares entre si, e replicáveis em determinados locais, induzindo o desenvolvimento urbano a emergência de novas funções. Assim, o futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas o lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído; o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quanto o próprio destino.

Certa vez, referindo-se aos problemas ambientais, o físico Fritjof Capra argumentou que “ existem soluções para os principais problemas da contemporaneidade, mas que para solucioná-los se faz necessário uma mudança radical na percepção, no pensamento e nos valores que o ser humano atribui às coisas, acreditando que a humanidade está no limiar de uma mudança tão radical quanto foi o da Revolução Copernicana ”. Esta transferia para o Sol, as características que tinham sido atribuídos à Terra, durante mais de 12 séculos.

A sociedade contemporânea demonstra que a solução está na transformação lenta, abrangente e profunda da mudança do paradigma mecanicista para o paradigma ecológico onde se assenta a ótica de diferenciadas soluções, inexoravelmente, ecologicamente sustentáveis.

Concluindo: delineia-se ou esboça-se, hoje, a construção do amanhã.

Carol Salsa, engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.

[EcoDebate, 20/03/2009]

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