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Artigo

Quando a burguesia chora! artigo de Raimundo Gomes da Cruz Neto

Toda vez que a situação econômica parece mudar de padrão e que a burguesia é afetada, deixando de ganhar mais do que o suficiente para suas orgias, a choradeira é geral. Quem primeiro reclama são os mais parasitários, que não vivem sem os benefícios concedidos pelo Estado: terra, financiamento, isenção de impostos e apoio jurídico para usar e abusar da força de trabalho dos desfavorecidos, excluídos e marginalizados.

Estou falando da burguesia agrária ou latifundiária deste país, que tem formação e sua história, caracterizada pelo uso da escravidão imposta aos negros trazidos e comercializados da África, do regime de servidão imposto aos índios que aqui já habitavam quando da chegada dos portugueses e da escravidão contemporânea.

“A intenção da Metrópole (Portugal) era realizar o que efetivamente foi cumprido: pôr nas mãos da fidalguia o monopólio de grandes tratos de terreno, enfeudá-los segundo as suas mais puras tradições jurídicas e, ao lado disso, associar na empresa os “homens grossos”, os mais diletos filhos da classe burguesa enriquecida na mercancia”.(Quatro Séculos de Latifúndio, Guimarães, 1977).

Na mesma obra, Guimarães reafirma esta situação já em outra época: “O engenho havia de ser, muito mais que a fazenda, uma unidade produtora autônoma e forte. Sua força residia menos na sua riqueza econômica do que nos privilégios que lhe eram conferidos: as tôrres, as armas, o monopólio feudal da terra, o domínio sobre as coisas e sobre os homens”.

Então, esta é uma herança maldita, do Brasil colônia de Portugual, que perdura até hoje. E estes latifundiários não são capazes de perceber e aceitar que movimentos sociais como o MST tem um papel importante na luta para alterar a correlação de força no campo e tirar o Brasil da situação de colônia, e os trabalhadores da situação de colonizados e subordinados. Condenam, como se lutar não fosse um direito.

E não satisfeitos com as lutas por mudanças, esta burguesia atrasada e reacionária, se põe a soltar rajadas. As últimas foram da senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura – CNA, motivada pelas manifestações do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, contra o MST e o governo.

O que ela fala: “MST é uma entidade ilegal que pratica crimes em série”. “seus líderes comandam grupos que seqüestram, vandalizam, torturam e matam”. “Lamentavelmente, o MST conta com uma complacência de autoridades do governo federal e recebe financiamento público para suas ações ilegais.” (Jornal Opinião, 28/02 a 02/03, 2009)

Ora, se existe opressão seria das águas que batem contra as ribanceiras ou das ribanceiras que limitam o trajeto das águas?(lembrando Bertold Brecht). Se existe crime seria de quem luta pela democratização do acesso a terra ou por quem a concentra sob garantia de aparato de milícias e um judiciário originário da burguesia agrária, industrial e financeira?

É preciso compreender que o padrão de poder mundial, o capitalismo, está se destruindo, a realidade aponta para um momento de desintegração deste sistema histórico, fenômeno que muitos estão chamando de crise. Portanto, não será isto que os movimentos querem dizer: que não há mais lugar para expropriação, dominação, escravidão, servidão e colonização, sem reação?

Marabá, 02 de março de 2009.

Raimundo Gomes da Cruz Neto rgc.neto{at}yahoo.com.br

* Artigo enviado por Rogério Almeida, do Blog Furo, colaborador e articulista do EcoDebate

[EcoDebate, 03/03/2009]

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