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Hospedeiros do causador da esquistossomose se espalham pelo litoral de Pernambuco

O Schistosoma mansoni em forma de cercária (Foto: Sinclair Stammers/TDR/OMS)
O Schistosoma mansoni em forma de cercária (Foto: Sinclair Stammers/TDR/OMS)

A presença de caramujos hospedeiros do parasito causador da esquistossomose, doença popularmente conhecida por barriga d´água, está se espalhando ao longo da faixa litorânea de Pernambuco, incluindo o Recife. A situação é mais grave no litoral norte, onde foram encontradas as duas espécies de molusco hospedeiro, a Biomphalaria straminea e a B. glabrata. É o que revelou uma expedição científica feita por pesquisadores e técnicos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), da Fiocruz Pernambuco e da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp).

O objetivo da viagem dos pesquisadores foi compor um pré-diagnóstico epidemiológico da situação dos focos de transmissão da esquistossomose no litoral do estado. Os dados vão compor um projeto de pesquisa multidisciplinar, no qual serão identificadas as cidades com focos de transmissão da doença e o impacto que essa questão causa às populações locais. A equipe percorreu 780 quilômetros e esteve em 43 coleções hídricas (lagoas, riachos, córregos e valas d’água) de nove municípios. Em 26 (60,4%) delas foram encontrados criadouros dos caramujos. Um desses locais foi o Açude de Apipucos, na Zona Norte do Recife.

“Até a nossa penúltima expedição, feita em 2007, encontramos criadouros em oito localidades litorâneas. Agora constatamos que esse número triplicou. Dos 26 locais, 11 (42,4%) tinham criadouros de straminea e 15 (57,6%) de glabrata, este mais eficiente na transmissão da doença (ver mapa abaixo)”, afirma a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Constança Simões Barbosa, chefe da diligência. “Em Apipucos encontramos o straminea e vimos adultos e crianças pescando com os pés dentro d’água, desconhecendo os riscos que estão correndo”, afirma o pesquisador da Ensp, Reinaldo Souza-Santos.

No litoral sul foram pesquisadas localidades nas cidades de São José da Coroa Grande, Barreiros, Tamandaré, Sirinhaém, Ipojuca (Porto de Galinhas), Cabo de Santo Agostinho (Gaibu e Enseada dos Corais) e Jaboatão dos Guararapes (Lagoa das Garças). No litoral norte, Olinda, Paulista (Janga e Pau Amarelo), Igarassu (Mangue Seco), Itamaracá (Enseada dos Golfinhos e Forte Orange) e Goiana (Carne de Vaca e Ponta de Pedras). No Recife foi pesquisado o Açude de Apipucos (bairro de Apipucos).

Os 43 locais visitados pelos pesquisadores e técnicos foram escolhidos de acordo com dois critérios: pontos com infra-estrutura turística e de lazer e situados numa área compreendida entre dez metros e 1,5 quilômetros de distância da praia. Em todos eles foram coletadas informações sobre os aspectos da fauna dos moluscos e a botânica dos criadouros, a existência de contaminação fecal das águas via despejo de dejetos e os aspectos socioeconômicos das comunidades no entorno dos criadouros. A expedição ocorreu em setembro deste ano.

O tempo de coleta em cada criadouro variou de 20 minutos a duas horas, dependendo da extensão da coleção de água a ser pesquisada. Para o posicionamento exato dos criadouros, todos os locais foram marcados por GPS (global positioning system, do inglês sistema de posicionamento global). As amostras coletadas foram trazidas para os aquários do Laboratório de Esquistossomose do Departamento de Parasitologia da Fiocruz Pernambuco. As informações coletadas estão sendo analisadas detalhadamente e os resultados serão divulgados para as autoridades locais e publicados em artigo científico.

A esquistossomose é causada pelo parasito Schistosoma mansoni e a transmissão se dá pela contaminação dos caramujos, nas águas, com as fezes das pessoas infectadas pela doença. Esses produzem novas larvas que infestam as águas e posteriormente os homens.

Matéria de Fabíola Tavares, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 27/01/2009.

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