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Seca no norte de Minas Gerais: À beira do rio, lavadeiras buscam sustento das famílias


Nova Porteirinha (MG) – Sob o sol forte, mulheres e meninas lavam roupa nas águas do Rio Gorutuba, que divide as cidades de Nova Porteinha e Janaúba, para ajudar no sustento da família Foto: Valter Campanato/ABr

Janaúba e Nova Porteirinha (MG) – Sob uma ponte no Rio Gorutuba – que separa os municípios mineiros de Janaúba e Nova Porteirinha, distantes de Belo Horizonte quase 600 quilômetros – chama a atenção de quem passa a presença de dezenas de mulheres que se dedicam à lavagem de um amontoado de roupas.

Elas ficam dentro do rio e há até mesinhas de cimento para facilitar o trabalho, fixadas no chão, segundo informaram, pelo bispo Dom Mauro.

Senhoras, mulheres de meia idade e crianças aproveitam a água de um dos poucos rios não afetados pela seca prolongada na região para tirar o sustento da família. Recebem de R$ 20 a R$ 25 para lavar e passar uma trouxa com 60 a 80 peças. “A gente lava para fora e se for gastar água e energia de casa não compensa”, contou à Agência Brasil Ângela Maria, de apenas 13 anos. Ela sente a necessidade de ajudar em casa e garante que o trabalho não atrapalha os estudos.

Sueli Alves, 38 anos, disse que seria impossível sua família sobreviver se apenas o marido trabalhasse. “Lá em casa são seis pessoas e não dá para um pedreiro dar conta de tudo.”

Segundo Heloísa das Dores, 42 anos, 80% das mulheres de Nova Porteirinha são lavadeiras por falta de opção e trabalham para pessoas de Janaúba. O espaço para a lavagem no rio fica congestionado pela demanda em alguns dias, mas tudo se resolve sem briga. “A gente vai se ajeitando. Em cada pedra lavam duas ou três”, disse das Dores.

Sueli lembrou que as clientes não reajustam os valores pagos há muito tempo. “Elas ainda ficam assustadas quando a gente pede aumento de R$ 10”.

Muitas dessas mulheres são, na prática, chefes de família, pois recebem para cada trouxa de roupa lavada mais do que os R$ 12 a R$15 diários dos maridos nos trabalhos como pedreiro ou no roçado.

Sem interromper a atividade por um minuto sequer, sob sol intenso, elas demonstraram simpatia e bom-humor durante a conversa. Antes da despedida, Heloísa das Dores quis saber “em que lugar essa pesquisa ia aparecer”. Depois de saber que se tratava de uma reportagem, ela demonstrou satisfação e desabafou sobre as dificuldades da profissão.

“Acho bom, porque talvez só assim os governantes olhem para as lavadeiras. Nós lavamos roupa para um pessoa por 10, 20 anos, e não temos direito a nada. Na idade que a gente tá, firma nenhuma pega”, lamentou.

Matéria de Marco Antônio Soalheiro, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 17/11/2008

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