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Estudo avalia os impactos de longo prazo dos incendios florestais

Durante décadas os cientistas reconhecem que os incêndios florestais afetam os solos florestais, em parte evidente pela erosão, que freqüentemente ocorre após um incêndio que “mata” e destrói vegetação da estrutura do solo. Mas, a falta de conhecimento detalhado dos solos florestais, antes de serem queimados pelo fogo, tem dificultado os esforços para compreender efeitos do fogo sobre a fertilidade do solo e ecologia florestal. Por Henrique Cortez*, do EcoDebate.

Um novo estudo conduzido pela Pacific Northwest Research Station, (PNW) aborda esta lacuna crítica da informação e representa a primeira evidência direta de que o fogo em floresta pode ter camadas. Inspira-se em dados de 2002, no incêndio conhecido como Biscuit Fire, que queimou 500 mil hectares no sudoeste da Oregon, incluindo metade de uma área de estudo, pré-existente, que tinha sido estudada extensivamente antes do incêndio. O resultado foi uma oportunidade sem precedentes de examinar diretamente as alterações do solo, por amostragem dos solos antes e depois do um intenso incêndio. O estudo foi publicado no Canadian Journal of Forest Research [Intense forest wildfire sharply reduces mineral soil C and N: the first direct evidence].

Os pesquisadores avaliaram 400 pontos de amostragem de solo em uma área de 300 hectares. Eles descobriram que a combustão da camada orgânica na superfície do solo, pode atingir mais de 700°C de temperatura, o que, por sua vez, emite quantidades consideráveis de carbono e nitrogênio mineral do solo, surpreendendo os pesquisadores pela quantidade de materiais orgânicos que foram perdidos.

“No total, foram documentadas perdas de mais de 10 mil toneladas de carbono por acre (0,4 Hectare) e entre 450 a 620 quilos por hectare de nitrogênio”, disse Bernard Bormann, pesquisador que coordenou o estudo. “A perda do solo e a combustão de materiais orgânicos, em conjunto, levou a perdas que são maiores do que a maioria das estimativas anteriores.”

A perda de carbono do solo arável pode afetar negativamente uma série de processos, diz Bormann, incluindo a retenção de nutrientes e a infiltração de água . Na ausência de instalações especiais para fixação de nitrogênio, que são capazes de converter nitrogênio atmosférico em compostos nitrogenados para o crescimento, as perdas de nitrogênio, na forma que ele e seus colegas documentaram, exigiria pelo menos um século para ser revertida.

Igualmente desconcertante é o papel que estes materiais orgânicos podem ter quando liberados na atmosfera, especialmente em face do aquecimento climático. A queima do solo pelo fogo pode contribuir para o aquecimento global, a curto prazo, através da libertação de carbono como um gás com efeito de estufa e, a longo prazo, reduzindo a produtividade do solo através de perdas de matéria orgânica e nutrientes. Com solos menos produtivos, Bormann diz que uma floresta não vai crescer tão depressa nem reabsorver tanto quanto antes da queima e este é um processo crítico para atenuar a acumulação de carbono atmosférico.

“Nossos achados sugerem que os gestores florestais devem considerar cuidadosamente os efeitos do fogo sobre os solos e reprimir futuros incêndios, perdas de árvores e de habitats, bem como ajudar a recuperar depois de um incêndio”, disse Bormann.

A pesquisa reforça as recorrentes preocupações dos ambientalistas brasileiros em relação às queimadas. O inventário nacional de emissões de gases de efeito estufa coloca que, em termos de emissão de CO2, as queimadas são responsáveis por 75% das emissões de CO2 no Brasil.

A ONG ambiental Global Canopy Programme, afirma que as queimadas de áreas florestais são a 2ª maior fonte de emissões de gases do efeito estufa, tornando o combate ao desmatamento a forma mais fácil e barata de mitigar a ação do aquecimento global.

Este novo estudo demonstra que, alem da maciça emissão de CO2, as queimadas são terrivelmente prejudiciais ao solo, o que, ao longo prazo, também é prejudicial à agricultura. Talvez esta seja uma das explicações para termos um estoque superior a 6 milhões de hectares de áreas degradadas, abandonadas por esgotamento.

Para ler o artigo online [Intense forest wildfire sharply reduces mineral soil C and N: the first direct evidence] clique aqui.

[EcoDebate, 22/10/2008]

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