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Dentes radioativos

Ativistas do Greenpeace coletam amostra de água contaminada em poço de Juazeiro, Caetité

Ativistas do Greenpeace coletam amostra de água contaminada em poço de Juazeiro, Caetité (BA). Foto do Greenpeace,

Muitos baianos têm um sorriso “brilhante” mas mortal. A causa é a mineração de urânio no Município de Caetité e Lagoa Real no sudoeste da Bahia que está poluindo o meio ambiente, especialmente as águas, com este elemento radioativo. Por Norbert Suchanek, para o EcoDebate.

No dia 15 de outubro, o Greenpeace publicou o relatório “Ciclo do perigo – impactos da produção de combustível nuclear no Brasil” e denuciou a contaminação da água por urânio em Caetité. E também com a mesma importância foi defendida em fevereiro deste ano a Dissertação de Mestrado em Física da pesquisadora GEORGIA REIS PRADO, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus), intitulada: Estudo de contaminação ambiental por urânio no município de Caetité-Ba, utilizando dentes de humanos como bioindicadores.

Este trabalho tem como objetivo principal um estudo da contaminação ambiental à qual estão expostos os moradores do município de Caetité-Ba (sudoeste da Bahia, 757 km de Salvador) e regiões vizinhas (Lagoa Real e Igaporã), onde se localiza a maior jazida de urânio do país. Caetité, em particular, enfrenta problemas ambientais decorrentes de atividades antrópicas de mineradoras de urânio, bem como os conseqüentes efeitos à saúde da população.

Neste estudo, o grau de contaminação ambiental por urânio foi inferido a partir dos níveis de incorporação desse radionuclídeo pelos habitantes da região, utilizando-se dentes como bioindicadores. Para tanto, foram coletados dentes extraídos por motivos ortodônticos em indivíduos pertencentes a uma ampla faixa etária, de 5 a 87 anos.

Dentes de habitantes da região da Represa de Guarapiranga, região sul de São Paulo (onde não se tem registro de presença de urânio) foram utilizados como controle. Para a quantificação do urânio foi utilizada a técnica de Espectrometria de Massa Acoplada ao Plasma de Argônio (ICP-MS). Uma vez que a concentração de urânio em dentes é muito similar àquela verificada no esqueleto (dentro de uma incerteza inferior a 10%), nossos resultados para dentes também expressam o conteúdo de urânio (por unidade de massa) no esqueleto como um todo.

No caso de Caetité medimos uma incorporação média de urânio igual 52,3 ppb (?g/L), cerca de 2 vezes maior do que em Lagoa Real, quase uma ordem de grandeza maior do que foi medido em Igaporã, 25 vezes maior do que na região controle, a Represa de Guarapiranga, e ainda cerca de 100 vezes maior do que a média mundial. Portanto, as populações dessas localidades, e de Caetité em particular, estão sujeitas a riscos radiobiológicos muito superiores aos de populações de outras regiões, tanto no país como no restante do mundo. Essa circunstância pode levar a sérios problemas de saúde como a ocorrência de neoplasias. Paralelamente, este trabalho oferece subsídios para estudos voltados à identificação de fatores causadores de poluição ambiental associados aos possíveis riscos à saúde pública.

Mais informações:

www.uesc.br/cursos/pos_graduacao/mestrado/mdrma/teses/dissertacao_georgia.pdf –
http://www.greenpeace.org/brasil/documentos/nuclear/ciclo-do-perigo

Norbert Suchanek, Rio de Janeiro, Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, colaborador e articulista do EcoDebate.

[EcoDebate, 20/10/2008]

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