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Projeto de despoluição do rio Tietê pode perder financiamento do BID

A segunda fase do Projeto Tietê termina este mês com as reduções de 69% da poluição orgânica lançada nos rios pelas indústrias da região metropolitana de São Paulo e de 38,7% do despejo de resíduos inorgânicos (metais pesados).

Entretanto, esses resultados, apresentados em relatório pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), responsável pelo monitoramento dos trabalhos, são relativos à primeira fase do projeto. Não foram incluídas novas empresas ao acompanhamento, meta que consta no contrato de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Por Samantha Maia, do Valor Econômico, 14/07/2008.

De acordo com Richard Hiroshi, da diretoria de controle de poluição ambiental da Cetesb, está sendo preparado um documento para explicar ao BID por que a meta não foi atingida e mostrar que a agência não deixou de fiscalizar a emissão de efluentes pelas indústrias.

“Vamos mostrar que a fiscalização está sendo feita, por meio da renovação de licenças de operação e recolhimentos de amostras das empresas que consideramos mais poluidoras”, afirma.

Como não foi feito algo específico para o Projeto Tietê, porém, o técnico admite que há o risco do BID não considerar suficiente.

“Se não for a contento do BID, não vai ter o Tietê 3”, diz Hiroshi. Está em negociação com o banco o financiamento da terceira fase do projeto, algo em torno de US$ 1 bilhão, para início em 2009.

A Sabesp, por sua vez, diz que apresentará ao BID ainda este mês uma lista de empresas que aderiram nos últimos anos ao Sistema de Esgotamento Sanitário, o que permite o monitoramento dos efluentes. Com esses resultados, a companhia garante que a cláusula contratual será respeitada e que a negociação do financiamento do Tietê 3 não será prejudicada.

Apesar de não ter aumentado o total de empresas monitoradas para o projeto, Hiroshi, da Cetesb, defende que a emissão de efluentes industriais nos rios da região metropolitana de São Paulo está controlada. “Se pegarmos apenas os níveis de poluentes inorgânicos na parte do rio mais poluída, que é considerada classe 4, é possível ver que eles são compatíveis com a classe 3, menos poluída”, observa ele.

De acordo com o relatório da Cetesb, a redução da poluição emitida pelas 594 empresas monitoradas desde 1992, começo da fase 1 do Projeto Tietê, foi obtida graças à implantação de unidades de pré-tratamento nas empresas, que deixam os efluentes em condições de serem lançados na rede de coleta pública.

As estações de tratamento da rede pública não são preparadas para tratar poluentes inorgânicos. Do total das empresas monitoradas, 494 estão dentro das exigências para despejo no sistema de coleta. Cálculos realizados pela agência ambiental mostram que 89,8% da redução da carga orgânica e de 45,7% da inorgânica despejados nos rios desde o início do projeto em 1992 foram obtidos com o tratamento dos efluentes pelas empresas.

Parte da queda de poluentes, contudo, foi obtida graças ao encerramento das atividades de algumas companhias na região. O monitoramento, que em 1992 era feito com 1.250 indústrias, atualmente mantém-se com 594 instalações por conta de mudança ou fechamento de empresas. Esse fator foi responsável por 29,5% da redução da carga orgânica e por 45,7% da inorgânica desde o início do projeto.

A partir de 1992, a poluição orgânica das indústrias registrou uma redução de 93%. Se forem consideradas apenas as empresas que continuam ativas até hoje, a diminuição foi de 89%.

A diminuição da carga inorgânica foi mais forte. Comparado ao que era despejado há 16 anos, hoje são lançados 93% de metais pesados a menos – 88%, se consideradas apenas as indústrias que se mantêm no monitoramento.

A maior parte da carga orgânica que ainda é despejada vai para o sistema de esgoto ligado à estação de tratamento (ETE) de Suzano (39%), e para a estação de Barueri (22%). A carga inorgânica gerada está ainda mais concentrada em Suzano (62%), seguida pela região atendida pela ETE ABC (14%), locais com grande concentração industrial.

[EcoDebate, 15/07/2008]