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Exigência ambiental é embargo econômico a Mato Grosso, diz Blairo Maggi

Um “embargo econômico”, que vai gerar “quebradeira” no Estado do Mato Grosso, aumento no preço dos alimentos e desequilíbrio na balança comercial brasileira. Esse é o panorama que o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), em entrevista ao UOL, vê caso o governo federal mantenha as exigências para conceder crédito rural aos produtores que descumprirem as leis ambientais. Por Diogo Pinheiro, em São Paulo, para o UOL Notícias, 28/05/2008 – 14h13.

Resolução do Conselho Monetário Nacional exige que os produtores rurais da Amazônia estejam com a posse da terra regularizada e com 80% da propriedade preservada para liberar empréstimos. O prazo para os produtores se adequarem às exigências expira em 1º de julho.

“Eu considero isso um embargo econômico ao Estado do Mato Grosso. Vai gerar uma quebradeira geral no Estado e para o Estado. Talvez mais de 20 milhões de toneladas de grãos, carnes e fibras deixarão de ser produzidas, caso nós não obtivermos os financiamentos. Eu creio que isso fará uma diferença muito grande na balança comercial brasileira e no bolso dos brasileiros porque os alimentos ficarão mais caros”, disse Maggi.

“Nós não podemos simplesmente parar de fazer as atividades econômicas porque nós temos irregularidades ambientais”, afirmou.

O Estado do Mato Grosso é o maior produtor de soja do país, o segundo maior produtor de grãos, atrás do Paraná, e também um dos que mais desmatam a Floresta Amazônica. Segundo o governador, apenas 8% do território do Estado é utilizado para produção de alimentos.

“Não dá para a sociedade condenar apenas um Estado, o Estado do Mato Grosso, por usar 8% do seu território para a produção de alimentos. Esta discussão tem que ser feita. Ou nós vamos produzir alimentos para sustentar as pessoas ou vamos parar de produzir para que o meio ambiente fique como era antes”, afirmou.

Vilão
Considerado o maior produtor de soja do mundo e criticado por ambientalistas, Maggi refuta o “rótulo” de vilão do meio ambiente.

“Eu sou bisneto de agricultor, neto de agricultor, filho de agricultor, agricultor e espero que meu filho seja agricultor. Se tem uma profissão no mundo que é talvez uma das mais dignas que tem, é alguém que produz alimentos. Eu não me considero vilão. Não tem ninguém na face desta terra que se alimente no seu dia-a-dia sem que esses alimentos venham de algum lugar que um dia foi floresta ou bioma. Não existe vida sobre a terra sem o uso da terra, portanto, eu não sou vilão”, disse.

Encontro com Lula
Na próxima sexta-feira, Maggi e outros governantes dos Estados que integram a Amazônia Legal se reúnem em Belém (PA) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir o tema.

O governador elogiou a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e disse que espera ter um bom relacionamento com Carlos Minc, que assumiu a pasta.

“É isso que nós esperamos. Nós queremos criar uma alternativa de um novo pacto, um novo arranjo nesta região para continuar produzindo aquilo que nós produzimos. A produção feita no Mato Grosso é importante para o Estado, para o Brasil e para as pessoas. Nós não podemos simplesmente parar de fazer as atividades econômicas porque nós temos irregularidades ambientais ou ainda não temos a legalidade que temos que perseguir. Como o ministro Minc esta discussão poderá ser mais fácil.”

Interesse econômico
Maggi é favorável à idéia proposta por Minc de criar um fundo para ajudar na preservação da Amazônia. Pequenos produtores receberiam para preservar sua propriedade. “No fundo, tudo é interesse econômico. Ninguém faz ocupação de uma floresta pelo prazer de fazer”, disse.

O governador ainda defendeu a criação de uma guarda nacional para ajudar na preservação, mas disse que seu Estado não tem condições de disponibilizar homens e dinheiro. “De nós, tudo é cobrado e, a nós, nada é dado. Todos cobram a preservação, todos cobram posições firmes do governo, todos cobram isso e aquilo. E nós nunca recebemos nada aqui”, afirmou, cobrando mais investimentos por parte do governo federal.