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Notícia

Calor faz aumentar deserto marinho

Oxigênio é sinônimo de vida até mesmo embaixo d’água. Por isso, a identificação de cinco zonas oceânicas com pouca quantidade desse gás, principalmente na faixa tropical do planeta, desvenda mais um elo que une o aquecimento global ao desequilíbrio ecológico. Em estudo publicado hoje na revista “Science”, os cientistas mostram como áreas pobres em oxigênio, numa faixa que varia de 300 metros a 700 metros de profundidade, sofreram uma expansão vertical expressiva nos últimos 50 anos. Por Eduardo Geraque, da Folha de S.Paulo, publicado pela Folha Online, 2/05/2008 – 09h16.

Somados, esses verdadeiros desertos oceânicos juntos representam uma área de aproximadamente mais de 1 milhão de quilômetros quadrados –um quinto da Amazônia.

O caso mais grave, segundo Lothar Stramma, autor principal do estudo e pesquisador da Universidade de Kiel, na Alemanha, é o do Atlântico tropical. Entre 1960 e 2006, nessa região, a camada de água com pouco oxigênio aumentou 85%.

Se nos anos 1960 ela tinha 370 metros de espessura, há dois anos ela cresceu para 690 metros. Todas as alterações do nível de oxigênio foram identificadas em zonas mais fundas, e não perto da superfície do mar.

“Existe uma grande chance de essa expansão [das zonas mortas] estar relacionada com as mudanças climáticas”, afirma Stramma à Folha. “Os modelos [matemáticos] apontam para isso”, diz. A confirmação virá nos próximos anos, explica o pesquisador. “Já começamos novos estudos.”

O período analisado pelo grupo de alemães e norte-americanos coincide com um aquecimento médio substancial dos oceanos. Resumidamente, com mais calor no sistema, a absorção de oxigênio pelos oceanos a partir da atmosfera fica prejudicada. “A redução dos níveis de oxigênio pode ter conseqüências dramáticas para os ecossistemas e as economias costeiras”, avalia o pesquisador da Alemanha.

De acordo com Stramma, além do Atlântico, outras expansões verticais importantes das áreas com pouco oxigênio ocorreram na zona equatorial do oceano Pacífico.

“A nossa série de dados mostra que o declínio na concentração de oxigênio tem sido mais intenso no oceano Atlântico”, explica o pesquisador.

O problema, segundo ele, é que nessa região as áreas mortas ainda são menores que as do Pacífico. “O que significa que existe um potencial maior de crescimento das zonas sem oxigênio para os próximos anos no Atlântico.”

Ventos fracos

Além do oxigênio, os organismos marinhos podem ficar também sem nutrientes, em algumas regiões, por causa do aquecimento global.

Outros estudos já publicados recentemente dão conta de que a mudança no padrão de distribuição dos ventos, associada ao aquecimento da atmosfera, está influenciado a vida dos microrganismos marinhos.

Isso ocorreu, por exemplo, na Costa Oeste dos Estados Unidos. Um simples atraso na chegada dos ventos da primavera, de 40 dias, alterou totalmente a disponibilidade de nutrientes, por exemplo, para alguns grupos de invertebrados.

A quantidade de moluscos capturados em áreas do litoral da Califórnia, por exemplo, durante um evento desses registrado em 2005, caiu 83%.