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RS: Sangas de Tapes aguardam socorro das autoridades e da população

“Sangas – Apesar das promessas e justificativas, continuamos com as sangas poluídas e “fedorentas”, aguardando verbas do céu, sem tentar amenizar a situação com medidas que demonstrem interesse em resolver efetivamente o grave problema. Neste ano eleitoral, o odor das sangas deverá causar muita dor de cabeça.” (A Folha-2ª Quinz. Janeiro/2000 Pág. 2/Coluna Sem Censura)

Como bem disse o escritor Millôr Fernandes, “errar é humano, botar a culpa nos outros também”. Reflito sobre isso e fico pensando se o passado não é uma forma de projetar-se o futuro, ou no mínimo, adotarmos ele como referência para não cometermos os mesmos erros, todos humanos, diga-se de passagem. O pequeno texto do jornal A Folha de oito anos atrás é um alerta, e parece profecia, mas não é.

Na verdade é desolador a situação e continuam “fedorentas” também o “problema” na zona urbana, dentro da sanga do Meio e das Charqueadas, onde habitam em suas margens centenas de famílias.

No primeiro domingo de dezembro de 2007, registrei em fotos a situação da sanga que historicamente contribuiu com o bom momento econômico que aflorou no começo da existência do que hoje conhecemos como Tapes. Isso nos idos de 1850.

Passados um século e meio depois, este recurso hídrico está com seus dias contados e a cidade segue no mesmo rumo. Os cágados ainda resistem a poluição e negritude das águas. As tartarugas são raras de serem avistadas. Peixes mais raros ainda, e quando avistados estão com a boca para fora da água, buscando oxigênio para se manterem vivos.

Nos anos que se seguiram desde 1997, quando foram publicados em jornais o artigo “Cadê a sanga que estava aqui”, várias foram as denúncias da situação crítica que se encontra esta sanga no decorrer da última década.

Entretanto, muito pouco foi feito para minimizar os impactos, ou, muito aumentou os “problemas” das sangas, oriundas é lógico da expansão urbana desordenada, da omissão governamental e da conivência da sociedade com a poluição, contaminação e degradação. Após todos os esforços em 1990 para pressionar os “órgãos competentes” para uma solução, foi aprovada a obra da estação de tratamento de esgotos na cidade.

Atualmente, desde de sua inauguração em 2001, apenas nove casas estão ligadas a rede, e a assinatura de convênio com a CORSAN é de 1983, perfazendo um total de 24 anos da novela. O motivo da obra era o de salvar a sanga da Charqueadas e tornar balneável as praias junto a foz da mesma, como prevê o projeto, que tornaria os esgotos “efluentes adequados para serem lançados na sanga da charqueada (afluente da lagoa dos Patos), sem o risco de conterem elementos patogênicos causadores de uma série de doenças de veiculação hídrica (dengue, hepatite, etc…), além de permitir o processo de balneabilidade das águas da sanga da charqueada.” Quanto aos despejos de águas servidas das indústrias e lavouras nada consta, pois é compromisso destes empreendimentos o tratamento de suas águas, retiradas da sanga e devolvidas as mesmas.

Em 2005, a situação caótica da sanga era idêntica em 1995, 1997, 2001, 2003 e nos dias de hoje permanecem assombrando as populações ribeirinhas, com a possibilidade de serem acordados com as águas “na canela”, adoecendo vítimas das comuns doenças oriundas da proximidade das casas com recursos hídricos contaminados e poluídos. Em uma análise preliminar feita por estudantes e técnicos da UERGS na sanga do Meio encontraram uma bactéria que supostamente seja semelhante a uma que encontra-se no rio Tietê em São Paulo. Coisa de cidade grande nas sangas de Tapes.

Após a publicação das fotos das sangas agredidas em 2006 as águas de tom negro tiveram o incremento da tonalidade marrom vinda dos lodos (matéria orgânica) das lavouras de arroz pré-germinado que deságuam na sanga e tornaram as águas da praia “achocolotadas”. No verão de 2006, quando da realização da travessia do Pontal de Tapes, ocorreu um fenômeno natural ocasionada pela poluição e altas temperaturas que proliferaram algas azuis (Microcystis aeruginosa) que além da feia imagem nas águas tinham um odor nausente.

Não obstante este fatos, temos também na história outras iniciativas frustrantes que se desenvolveram com o passar dos anos, quando a sanga já destruída e comprometida sua qualidade e função ecológica, tiveram a “possível solução” iniciada com a assinatura em 2003 de um convênio com a SEMA/RS (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) para se fazer um diagnóstico, afim de se conhecer as causas e a extensão da poluição das sangas e lagoa, para serem adotadas medidas, eliminar os fatores causadores desta poluição e voltar a ter condições de balneabilidade de nossas praias. Tal diagnóstico, orçado em R$ 16.703,00 (R$ 11.103,00 da SEMA e R$ 5.600,00 da Prefeitura) tinha como prazo para ser iniciado em junho de 2005 e concluido em dezembro do mesmo ano.

Apesar de serem conclusivas “à olho nú” a situação crítica das sangas, optou-se por estudos cientificos e técnicos para se buscar uma solução que é “urgênte urgentíssima”, visto a agressão diária pelo ato contínuo de despejo de esgotos, lixos, animais mortos, resíduos de construção, invasão de matas ciliares para construção de casas, além dos resíduos sólidos de toda a ordem (sofas, camas, guarda roupas, desova de bicicletas roubadas e ultimamente de ‘corpos humanos’), mais os líquidos industriais, óleos de oficinas e pior, com as águas sendo retidas por barragens ilegais que impedem o fluxo normal das águas, ocasionando um deseqüílibrio fatal para deste insetos, moluscos, peixes, aves e animais de pequeno porte serem vítimas do “avanço econômico” e do “progresso social” que algumas autoridades dissem ser motivos para desagregar o meio ambiente e comprometer o futuro.

E vejam bem, mesmo que haja vontade dos técnicos da área ambiental em se buscar soluções efetivas, falta desde material, equipamentos, insumos, veículos, pessoal, recursos financeiros e secretario do meio ambiente para mandar, além de vontade política para tanto.

Com tanta “falta”, entendemos que falta uma ação intersetorial, ou seja lá qual for a palavra bonita para ser usada e se fazer algo pelas sangas, e não é apenas tirar lodo e sujeira de dentro, derrubar amaricás “para limpar a sanga”, e sim começarem a coibir a construção de casas em APP que estão sendo loteadas, cercadas, com pessoas habitando casas sem as mínimas condições de saneamento e em área de risco.

Quanto as obras necessárias para evitarem o despejo de esgotos na sanga, basta que haja “coragem política” para se imporem leis e fiscalização para o fiel cumprimento da legislação, afim de que a população ligue os esgotos de suas casas a malha de canos e destine-os as bacias de tratamento de esgotos na ETE/CORSAN, instalada no Balneário Rebello, que não é uma vila ou periferia pobre e carente como foi dito e usada como justificativa para até o momento não ter sido feito algo de concreto pela salvação da sanga.

Julio Wandam – Ambientalista, Os Verdes de Tapes/RS

Vejam fotos da Sanga do Meio registradas em 23/01/08, click no link abaixo:
http://osverdesfotos5.googlepages.com/sanga_do_meio_23_01_2008