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Notícia

Cada europeu, por ano, produz 527 quilos de lixo

O melhor rejeito é aquele que não existe. Todos (indústrias, grande distribuição, consumidores, políticos) deveriam partir deste tema para procurar desfazer um círculo vicioso: para reduzir os rejeitos é preciso produzir e consumir menos e melhor. Os dados que provêm do “lixo” da Europa são impressionantes e, no entanto, sobretudo nos países do norte, se está tentando reorganizar a cadeia de produção e consumo de modo a reduzir o volume de rejeitos a eliminar. A reportagem é de Luca Fazio e publicada pelo jornal Il Manifesto, 4-01-2008.

Excluindo os rejeitos da agricultura, o velho continente produz a cada ano 1,3 bilhões de toneladas de rejeitos. Esta produção, no entanto, não é confundida com aquilo que acaba nas lixeiras de casa: 29% dos rejeitos são devidos à atividade extrativa (matérias-primas), 26% à atividade manufatureira (fábricas), 22% às atividades de construção e demolição, 4% à produção de energia. Somente 14% são rejeitos urbanos (na Europa são 198 milhões de toneladas ao ano). Isto significa que cada cidadão europeu produz 527 quilos de rejeitos, e significa também que o problema seria enfrentado na fonte: é a produção, e não o consumo, que está sepultando o planeta com os seus materiais de eliminação.

Mas, o que contém a lixeira de um cidadão europeu?

Bem 27% são representados pelas embalagens (na Itália constituem sozinhos 40% do peso total dos rejeitos urbanos e mais de 60% do volume); nosso país produz 11 milhões e 262 mil toneladas de embalagens (18% a mais somente no quadriênio 1997-2001), a Inglaterra 9 milhões e 314 toneladas (7% a menos). E este é um dos parâmetros sobre os quais seguramente se pode intervir, na condição de mudar radicalmente as estratégias de marketing que visam quase exclusivamente a confecção para vender o produto. Outros 10% de lixo é papel, sendo 9% compostos de materiais de construção, outros 9% de produtos diversos (tecidos, eletrônica…).

Enfim, bem 27% daquilo que jogamos fora é comida, à qual é preciso acrescentar 18% de rejeitos de jardins: quer dizer que 45% do nosso lixo de casa são matéria orgânica úmida e por isso fácil de eliminar porque “compostável”. No entanto, na Itália só pouquíssimos municípios fazem a coleta diferenciada do úmido. Que fim levam todos os rejeitos urbanos da Europa? A grande maioria acaba em descarga, com evidentes diferenças entre país e país. Entre os primeiros desta classe, como sempre, os do norte europeu.

Na Holanda são enterrados menos de 5% dos rejeitos (na Itália 63%, enquanto somente a Grécia e a Inglaterra agem pior, com respectivamente 91% e 78%); na Áustria, em torno de 40% do lixo é eliminado com a compostagem (junto a nós menos de 10%); os países que mais reciclam são, na ordem, Suécia, Alemanha, Bélgica, Dinamarca e Finlândia (em torno de 30%, enquanto na Itália 15%); o país que mais recorre aos incineradores é a Dinamarca (em torno de 50%), seguida pela Suécia, Holanda, Bélgica (40%) e França (mais de 30%): na Itália, onde os incineradores criam tumulto, se queimam somente 7% dos rejeitos urbanos.

Considerando que a revolução não está por trás do ângulo (o decrescimento do que está acontecendo), nada mais resta senão empenhar-se para gerir melhor uma montanha de rejeitos que não deixa de crescer. Eis somente algum exemplo singular.

Na Suíça, em Flandres e em alguns municípios franceses, quem recicla mais, paga menos taxas sobre o lixo. A Alemanha é o único país europeu que efetua a coleta diferenciada nos trens. As demolições de estradas e prédios produzem milhões de toneladas de terra difícil de estocar e para evitar que se volatilize no ar, em Genebra pensaram em reciclá-la para fazer o cimento.

Em Lille (França), é ativo um sistema de metanização que transforma os rejeitos em fertilizantes para os terrenos de plantio e em biogás que serve como carburante para os ônibus urbanos. Sempre na França (mas também na Suíça) foram estudadas soluções “individuais” – em cada município, mas também de apartamento por apartamento – para estocar os rejeitos orgânicos.

Emblemático é o caso de Saint Philbert de Bouaine (Fr), com 3.000 habitantes, que se opuseram a um incinerador e hoje gerem pessoalmente um centro de compostagem coletiva de 2.500 m², para onde confluem 80% dos seus rejeitos úmidos.

(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line, 12/01/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]