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Aziz Ab’saber: Não há ideário mais desinteligente para a Amazônia do que as concessões, diz geógrafo

A Lei de Gestão das Florestas Públicas é absolutamente inócua do ponto de vista da economia na opinião de Aziz Ab’saber, geógrafo do Instituto de Estudos Avançados da USP (Universidade de São Paulo). “É claro que as concessões irão favorecer grupos já bem situados e que já exploram a floresta. As pessoas que elaboraram essa lei não conhecem a Amazônia e não sabem que para se chegar a determinadas áreas de interesse econômico é preciso destruir um caminho em volta.” Por Carolina Juliano, em São Paulo, UOL Últimas Notícias, 11/01/2008 – 16h58

O geógrafo afirma que falta ao Brasil planejamento e que a iniciativa de conceder floresta pública para empresas privadas explorarem e preservarem é um reflexo disso. “Não pode haver ideário mais nocivo e desinteligente do que esse sistema de concessões como forma de proteção”, diz Ab’saber. “Inserir no texto da lei a frase ‘desde que a área seja sustentada’ não resolve o problema. Ninguém no Ministério do Meio Ambiente conhece a idéia correta de exploração sustentada da Amazônia.”

Segundo o professor, as madeireiras se utilizam dos moradores locais, conhecidos como “mateiros”, para encontrar no meio da floresta as árvores de interesse comercial. Esses mateiros abrem picadas na mata e depois essas picadas viram trilhas, por onde passam os homens com motoserras para derrubar as árvores. “Por fim, as trilhas acabam virando estradas porque todo transporte de madeira da mata é feito por caminhões”, explica. “Só nesse processo já devastou.”

Aziz Ab’saber também não aceita a justificativa de que as concessões são a única maneira de o governo conseguir evitar a grilagem de terras na Amazônia e promover o seu desenvolvimento sustentado. “Isso é uma mentira sem tamanho. Daqui a 40 anos lulas e marinas já não estarão mais vivos para saber o que fizeram ali. A principal falha do Ministério do Meio Ambiente é que seus projetos não têm previsão do impacto no futuro.”

As chamadas Flonas (Florestas Nacionais), na opinião do geógrafo, deveriam ser áreas de proteção total e não passíveis de concessão. “Foram criadas em um momento em que cerca de 550 mil km² de mata já haviam sido devastados, o natural é que fossem blindadas, para parar a devastação.”