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Artigo

Thomas L. Friedman/The New York Times – Salve o planeta: vote inteligente

THE NEW YORK TIMES – NOVA YORK, EUA – As pessoas freqüentemente perguntam: “Quero ficar mais verde, fazer mais ações a favor do meio ambiente. O que devo fazer? Mudar as lâmpadas? Tornar meu veículo híbrido? Comprar aquecedor solar?” Bem, todas essas coisas são úteis. Mas, de fato, a coisa mais verde que você pode fazer é a seguinte: escolha os líderes certos. É muito mais importante mudar seus líderes do que mudar suas lâmpadas.

Por quê? Porque os líderes escrevem as regras, estabelecem os padrões e oferecem incentivos fiscais que comandam o comportamento do mercado em uma cidade, Estado ou país inteiro. Tudo o que qualquer um de nós faz individualmente importa muito pouco. Mas quando os líderes mudam as regras, temos uma mudança em grande escala no mercado inteiro. E o desafio energia/clima que enfrentamos hoje é um problema em escala enorme.

Não se iluda, tudo o que George W. Bush não fez sobre energia após o 11 de Setembro – ele não forçou a melhoria no consumo de combustível dos carros e tentou piorar os padrões para os aparelhos de ar condicionado -, avacalhou todos os bons trabalhos que você fez. Felizmente, o vácuo na Casa Branca está sendo preenchido por líderes de baixo.

Pegue, por exemplo, a história dos táxis de Nova York. Dois anos atrás, David Yassky, vereador da cidade, sentou-se com um dos seus financiadores, Jack Hidary, empreendedor do ramo de tecnologia, para terem idéias sobre como tornar Nova York mais verde – em grande escala. Para começar, eles conversaram com a Comissão de Táxis e Limusines para ver o que seria necessário para substituir os famosos táxis amarelos Ford Crown Victoria, devoradores de gasolina (fazem 4,2 km por litro), por veículos híbridos de baixa emissão de gases poluentes e melhor consumo de combustível. Grande idéia, se não fosse ilegal, graças a algumas antigas regras projetadas para favorecer os Ford Crown Victoria.

Hidary relembra a história: “Quando eles me contaram, eu disse: ’Vocês estão falando sério? Ilegal?’” Então ele fundou uma organização não-governamental chamada Smart Transportation (Transporte Inteligente) para ajudar Yassky a convencer a Câmara Municipal a mudar as leis para permitir os táxis híbridos, modelos dotados de motor elétrico e a combustão. Eles também formularam o projeto como uma questão de saúde, com a ajuda de Louise Vetter, presidente da Associação Norte-americana do Pulmão.

“Nova York tem o ar mais sujo dos Estados Unidos”, disse Vetter. “Quando se chega na questão do ozônio e das partículas de carbono, os nova-iorquinos estão respirando um ar muito insalubre. A maior parte vem das emissões de canos de descarga. E em Nova York, onde os índices de asma estão entre os maiores do país, os níveis altos de ozônio criam ameaças muito graves, especialmente para as crianças, que passam muito tempo do lado de fora das casas. Converter os táxis de amarelo para verde seria um grande presente para as crianças da cidade.”

Matt Daus, que comanda a comissão de táxis, que por sua vez é independente da prefeitura, inicialmente estava relutante, mas assim que soube da questão da saúde e outros benefícios, ele se juntou a Yassky e Hidary e a medida foi aprovada por 50 votos a zero no dia 30 de junho de 2005. Desde então, mais de 500 táxis mudaram para híbridos – na maioria para Ford Escapes, mas também para Toyota Highlanders e Prius, dentre outros. No dia 22 de maio, o prefeito Michael Bloomberg, um dos administradores mais verdes dos Estados Unidos, decidiu ir além, insistindo em uma nova regra, que a comissão de táxis tem de aprovar: não só permitirá, mas exigirá que todos os táxis – 13 mil no total -, dentro de cinco anos, sejam híbridos ou veículos de baixa emissão e que consumam pelo menos 13 km por litro.

“Quando tratamos de questões de saúde, segurança e meio ambiente, o governo deveria estabelecer padrões”, disse o prefeito. “O que precisamos é de líderes que queiram forçar padrões que são do interesse da sociedade a longo prazo. Quando os cidadãos verem o progresso,” acrescentou Bloomberg, “aí eles começarão a aderir.” Isso encoraja os líderes a buscarem padrões ainda mais altos.

Perguntei a Evgeny Freidman, um importante operador de frota de Nova York, o quanto ele gostava dos híbridos: “Absolutamente fabulosos! Começamos com 18, e agora temos mais de 200, principalmente Ford Escapes. Agora, só colocamos híbridos nas ruas. Os taxistas estão exigindo os híbridos e o público também. Tem sido muito bom, economicamente. Com os preços da gasolina como estão, os taxistas estão economizando US$ 30 por turno”. Ele explicou que taxistas que faziam de 3 a 4 km por litro com seus Crown Victorias agora fazem entre 10,5 e 13 km por litro. O custo de mudança para esses híbridos, acrescentou, não tem sido oneroso.

Agora, Hidary está tentando convencer firmas de advocacia e bancos de investimento, que usam sedãs a gasolina – 12 mil na cidade – a exigirem apenas sedãs híbridos.

É assim que a mudança em escala acontece. Quando a “Big Aple” virar a “Maça Verde”, e 40 milhões de turistas vierem para a cidade todo ano e tomarem um táxi híbrido, eles voltarão para suas casas e perguntarão a seus líderes: “Por que não temos táxis híbridos?”

Então, se você quiser ser um universitário verde ou um adulto verde, não se engane: você pode mudar as lâmpadas, você pode mudar os carros. Mas se você não mudar os líderes, suas ações serão nada mais do que uma expressão de, como diria o vice-presidente norte-americano Dick Cheney, “virtude pessoal”.

Traduzido por André Luiz Araújo

(www.ecodebate.com.br) artigo do The New York Times, publicado pelo jornal O Tempo, MG – 28/10/2007

Nota do EcoDebate

Quardadas as devidas cautelas, quanto à uma análise centrada na política interna dos EUA, também devemos reconhecer que os conceitos também são, em essência, aplicáveis a qualquer outra democracia moderna, o que inclui o Brasil.

Henrique Cortez, coordenador do EcoDebate