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Amazônia na agenda do PAC, por Rogério Almeida

[EcoDebate] Juscelino Kubitschek com o pé sobre uma árvore na Amazônia. Eis a imagem que ponteia quando se espia o retrovisor da colonização recente na região que concentra a maior biodiversidade do planeta. Um vazio aos olhos dos burocratas e executivos de então foi o diagnóstico. A lente da homogeneização hegemonizou a lógica que ficou conhecida como grandes projetos. O propósito foi integrar a região ao resto da nação. Há quem diga que a floresta foi amansada na pata do boi. Ainda não sabe se bípedes ou quadrúpedes.

Institucionalidades germinaram num horizonte marcado pelo patrimonialismo. Grandes porções de terras foram submetidas ao capital privado, selando a associação com o estado. Na prova dos nove os “nativos” não passaram (passam) de meros detalhes ou entraves a serem sanados.  A renúncia fiscal foi a dorsal do programa de ocupação. Ou seria invasão? Assim empresas do centro-sul e multis dominaram territórios e definiram o uso da base natural.   Era externa a bússola do projeto. Os passivos sociais e ambientais  saltam aos olhos. Parecem nunca salientados nas pranchetas.

Se naquele momento as costelas da dorsal eram pólos de produção, o que se verifica atualmente são eixos. A matriz das instituições ainda segue o mesmo verniz conservador. Hierarquizado, indiferentes aos agentes locais, à diversidade social. A única possibilidade do desenvolvimento insiste na linearidade.  Como se a mesma árvore não pudesse ser percebida por diferentes ângulos/olhares: indígena, ribeirinho, sem terra, assentado, madeireiro, pesquisador, artesão.

O ora debatido Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) parece seguir a mesma trilha já palmilhada na Amazônia. Vão passar o rodo, exercita um ente da base da pirâmide.  Destravar é a palavra da cidade de Juscelino. Estão indiferentes ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) cevados ao longo dos anos de verticalização de projetos na região.

No caso do Pará que ocupa posição relevante na balança de exportação, por conta do minério, os males do modelo que insiste no uso intensivo dos recursos naturais, imprime desastres. É o estado top  em trabalho escravo, execução de dirigentes sindicais e pares em defesa da reforma agrária. Não menos confortável é a posição na cota de desmatamento, onde com outros estados integra o arco de desmatamento. Destruição que tem na siderurgia um dos impulsionadores.  Passagem no sul e sudeste do Pará e oeste e sul do Maranhão, as carretas de carvão serpenteiam a perder de vista. Ilegais em sua maioria.

O plantio do exótico segue a subjugar a floresta. A transformar modelos de reservas em ilhas cercadas de soja por todos os lados. Como ocorre no Parque do Xingu no Mato Grosso e no Parque do Mirador no Maranhão. Mas, quem vai se importar com alguns índios, trabalhadores rurais, pescadores, extrativistas e seus pares. Como declarou um planejador dos tempos do regime militar em revista do centro sul.

A promessa de desenvolvimento é possível com a raquítica fatia de investimento em ciência e tecnologia? A região que concentra 61 % do território nacional divide 1% dos recursos? É apenas com obras de infra, incentivo a monoculturas exóticas, que comprometem os recursos hídricos por conta do uso intensivo de venenos que alavancará a região da sua condição de periferia de um país periférico?

O diapasão dos grandes meios de comunicação segue o mesmo tom.  Pena não ser Jobim. Destravar é o verbo. E que se danem os periféricos. Como já ocorre em Santarém no Pará por conta da soja, numa refrega entre multis e camponeses. Bem como em Moju, município do mesmo estado, numa peleja que envolve a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e quilombolas, e ainda as hidrelétricas no Tocantins. Aspirinas e propaganda, que alguns chamam de responsabilidade social tem sido o lençol para ocultar as feridas. É branco o lençol. E o sangue nódoa forte.

Mas, o mundo vai bem obrigado. Apenas nuvens cinza nublam o futuro do planeta. O que antes era coro de gente “chata” que “não tinha o que fazer”, “adeptos de agentes que não desejam o desenvolvimento do país” parece que bateu à porta dos definidores do modelo, que sentem cheiro de ameaça de redução de faturamento em suas planilhas.

O mundo grita. E até os ricos começaram a se importar com isso. Até os grandes meios de comunicação já agendam o assunto. Cada a  seu modo.

Rogério Almeida é colaborador da rede www.forumcarajas.org.br

in www.EcoDebate.com.br – 07/02/2007