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Relação cidade x natureza, parte III, artigo de Roberto Naime

 

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[EcoDebate] Ao articular a categoria de espaço urbano, surge a necessidade de compreensão da evolução do espaço geográfico, aliada ao cenário do surgimento dos parques urbanos.
SANTOS (2008) afirma quanto a compreensão da organização espacial, que “com a sua evolução, só se torna possível mediante a acurada interpretação do processo dialético entre formas, estruturas e funções através dos tempos”.

O próprio surgimento dos parques urbanos no mundo atende a uma demanda dos processos de urbanização e industrialização dos países. Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos esses processos de transformação do espaço urbano ocasionaram o surgimento de grandes cidades e das metrópoles com um crescimento populacional superior as expectativas.

Quando se estuda a organização espacial esses conceitos (forma, função, estrutura e processo) são necessários para explicar como o espaço social está estruturado, como os homens organizam sua sociedade no espaço e como a concepção e o uso que o homem faz do espaço sofrem as mudanças. A acumulação do tempo histórico permite-nos compreender a atual organização espacial.

Nessa linha de pensamento da organização do espaço geográfico da qual o homem organiza sua sociedade no espaço, a partir das mudanças que sofrem, está na exegese dos parques.
Governantes e representantes de classe, em 1830, com as preocupações de doenças como cólera e doenças respiratórias na Europa. E embalados pelo relatório publicado pelo “Comitê de Seleção”, movem as autoridades para criar espaços para a higienização, purificação, circulação de brisas para a eliminação dos “miasmas” (JORGE, 2007).

Nesse contexto BOVO e CONRADO (2012) afirmam que os parques urbanos tinham a função primordial de recreação e lazer, uma vez que a malha urbana crescia rapidamente e necessitava de espaços para atenuar os problemas da cidade, tendo mais uma função de “pulmões verdes”.

Todas essas preocupações são confirmadas por JORGE (2007) ao ponderar que: “em 1840, Londres já apresentava uma quantidade significativa de parques urbanos abertos ao uso público como o Regent’s Park e Saint James Park, os famosos Hyde Park e Green Park, assim como o Kensington Park”.

Nesse ínterim o período de apogeu decorre das décadas de 1840 a 1860 tanto na Europa quanto nos Estados Unidos (SILVA e PASQUALETTO, 2013). Tanto que nos Estados Unidos houve o surgimento do Parks Movement, com a idéia de criação de espaços públicos com plantação de árvores para a vitalidade do ar para os habitantes.

Quanto aos Parks Movement ocorridos na América do Norte, influenciaram as transformações ocorridas nos parques urbanos no século XX, segundo SCALISE, (2002)

Esse movimento conservacionista defendia a utilização econômica dos espaços livres, criando oportunidades de recreação e também de preservar os recursos naturais, controle de enchentes, proteger os mananciais, criando espaços agradáveis para passear e morar.

Esses trabalhos, além de inspirar a criação de inúmeros parques e da cidade-jardim de Howard, mudaram o conceito de qualidade ambiental urbana.

Tanto SCALISE (2002), quanto SILVA e PASQUALETTO (2013) esclarecem ainda que o desenvolvimento dos parques urbanos ocorreu no século XX com o movimento dos Parques Americanos (Parks Movement) liderado por Frederick Law Olmstead tanto em Nova York, Chicago e Boston.

Assim com todas essas alterações no espaço urbano e com as mudanças históricas, o conceito de parque urbano na contemporaneidade passa a ser de todo o espaço de uso público destinado à recreação de massa, de qualquer tipo com presença arbórea. Para SILVA e PASQUALETTO (2013), prepondera a função recreativa.

Para FERREIRA (2011) no que se refere ao conceito e características de parque urbano, há que se destacar o diferencial, que consiste na presença do porte arbóreo, ou seja, a obrigatoriedade da presença de vegetação arbórea, pois “a massa vegetal e os seus efeitos positivos no ambiente urbano é o que fazem o diferencial do parque para os outros tipos de áreas verdes, como praças e jardins”.

Referências:

BOVO, Marcos Clair e CONRADO, Denner. O Parque urbano no contexto da organização do espaço da cidade de Campo Mourão. Caderno Prudentino de Geografia. Presidente Prudente, n. 34 v.1. 2012.

CEDRO, Marcelo. A modernidade em Marx e em Weber. Anais do XII Congresso Brasileiro de Sociologia. Universidade Federal de Minas Gerais, 2005.

FERREIRA, Adjalme Dias. Efeitos positivos gerados pelos parques urbanos: O caso do Passeio Público da Cidade do Rio de Janeiro.  Dissertação de Mestrado em Ciência Ambiental. Universidade Federal Fluminense. 2011.

JORGE, Vinie Pedro. Além do Jardim: O parque na cidade de São José dos Campos. Dissertação de Mestrado em Urbanismo da PUC-CAMPINAS, 2007.

LOBODA, Carlos Roberto e DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingos. Áreas verdes públicas urbanas: conceitos, usos e funções. Ambiência – Revista do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, Guarapuava, v. 1, n. 1, jan/jun. 2005. Disponível em: <http://www.unicentro.br/EDITORA/REVISTAS/AMBIENCIA/v1n1/artigo%20125-139_.pdf> Acesso em: 02/11/2013.

OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves. Direito Ambiental. Niterói, RJ: Impetus, 2012.

SCALISE, W. Parques Urbanos – evolução, projeto, funções e uso. Revista Assentamentos Humanos. Marilia, v.4 n. 1, 2002. Disponível em: http://www.unimar.br/feat/assent_humano4/parques.htm. Acesso em: 15/12/2012.

SILVA, Janaina Barbosa e PASQUALETTO, Antônio. O Caminho dos parques urbanos brasileiros: Da origem ao século XXI Revista Estudos. Goiânia. v. 40 n.3. jun/ago, 2013. Disponível em: http://seer.ucg.br/index.php/estudos/article/viewPDFInterstitial/2919/1789. Acesso em: 12/12/2013.

SILVA, Anderson Lincoln Vital da e SILVA, Rosa Eulália Vital da: “A relação cidade e natureza em um parque urbano na cidade de Manaus”, Revista DELOS: Desarrollo Local Sostenible, n. 23 (junio 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/delos/23/parque-naturaleza.html

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, 05/04/2016

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