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Artigo

64, um golpe também ambiental, artigo de Efraim Rodrigues

 

desenvolvimento insustentável

 

[EcoDebate] O Golpe de 64 tem mais a ver com ambiente do que se imagina. O aniversário de 50 anos é uma boa oportunidade para uma prosa.

A separação entre aqueles a favor de um estado grande e de um estado mínimo existe desde que começamos a pensar sobre o assunto. Infelizmente a questão, um tanto epistemológica, acabou separando as pessoas em dois grupos. De um lado os que querem a redução da maioridade penal, mais liberdades individuais e importam-se muito com a geração de empregos, e do outro aqueles que querem menos iniquidade, mais controle sobre empresas e estado grande. Por algum motivo que desconheço, o ambiente é uma preocupação maior para estes últimos que para os primeiros.

O Golpe de 64, se é que posso falar sobre algo que se passou antes de ter nascido, acirrou esta cisão. Enquanto ouço muito falar sobre a tortura e a limitação da expressão, as lembranças que tenho de criança nos anos 70 têm pouco a ver com isto, já que eu era filho de uma família mais preocupada com emprego e moradia e com certa simpatia pelo governo militar.

Como a agenda ambiental foi mais abraçada pela esquerda, ela ainda hoje enfrenta resistência na direita, e perdemos todos com isto. Também não ajudou a postura festiva. Já lia jornal quando Gabeira trouxe suas teses ambientais da Escandinávia e pousou com sua tanga de crochê em Ipanema. Nada contra ela, e menos ainda contra ele, que se tornou deputado de respeito. Mas naquele momento, faltou que também alguns empresários de terno e gravata falassem parecido. Até tivemos (e ainda temos) o Almirante Ibsen Câmara que fez mais pela conservação que um caminhão de cabeludos, mas não me lembro de outro caso parecido.

Aos 50 anos do golpe, é bom lembrar o presidente francês que disse que a esquerda não tem o monopólio do coração. Nem do ambiente, eu adicionaria.

O golpe trouxe décadas de trevas, mas passou ele, assim como passaram elas. Felizmente não há mais somente dois tipos de pessoa. No entanto, haja quantos tipos houver, todos respiram ar, bebem água, comem e se vestem e tudo isto vem de um único lugar que merece mais de nossa atenção. O ambiente.

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA
http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/

EcoDebate, 08/04/2014


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3 thoughts on “64, um golpe também ambiental, artigo de Efraim Rodrigues

  • Efraim Rodrigues, o governo militar findou no ano de 1985 e de lá para cá, a partir do Sarney, muitos foram os ministros que assumiram o Ministério do Meio Ambiente. Desta feita, encarecidamente, eu solicito a Vossa Senhoria para que aponte apenas feito governamental que tenha, efetivamente, favorecido a preservação dos recursos naturais. Por favor, eu insisto apenas um.

  • Não sou o Efraim, mas a LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998 – Lei de Crimes Ambientais, promulgada no governo Fernando Henrique, foi uma conquista gigantesca para o meio ambiente, do tipo que não surgia desde a Era Vargas.

  • Não há como comparar a consciência ambiental de 1964 com a consciência ambiental de 2014! Há, hoje, um despertar ecológico que antes não havia. Portanto acho despropositada a comparação, como se quisesse o autor responsabilizar os militares de antes, não do “golpe”, mas da “revolução” que efetivamente houve em 1964. Quanto ao Gabeira, hoje do Partido Verde, ele se formou em Estocolmo e não é o mesmo de antes, evidentemente, tanto que não mais faz parte dos “cumpanheiros”. Urge dissociar qualquer interesse coletivo de agora das propagandas políticas dos atuais governantes que, não fossem os homens de outrora (1964) e os militares que assumiram posturas enérgicas, talvez nos tivessem transformado criminosamente em uma extensão da sofrida nação cubana, violentada pelos comunistas e maus governantes. Alerta a todos, porque a intenção deles perdura, ou seja, ainda não morreu!!!

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