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Redes de combate à pobreza, artigo de Bruno Peron

 

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[EcoDebate] A formação de redes de diálogo entre profissionais envolvidos no combate à pobreza é um avanço no Brasil. De fato, uma tarefa tão árdua não poderia pesar nos ombros de um único Ministro ou outro tomador de decisão. Este esforço, no entanto, esbarra num erro de cálculo geográfico: onde está a pobreza. Ao crer que a pobreza está somente nas favelas e nas periferias, tomadores de decisão descuidam do teor pobre de suas próprias ideias.

Reconheço o mérito da recém-criada Iniciativa Brasileira de Aprendizagem por um Mundo sem Pobreza devido à solidariedade interinstitucional com que as políticas de combate à pobreza contarão no Brasil. Tal Iniciativa recebeu o nome Mundo sem Pobreza (World without Poverty, WWP) e lançou-se em março de 2014 no Rio de Janeiro. O governo brasileiro acaba de inaugurar um programa de combate à pobreza e já o quer como algo de abrangência mundial; assim, o governo exporta um modelo de combate è pobreza a um mundo onde a miséria e a desigualdade não são (com algumas exceções na África, Ásia, Caribe e própria América do Sul) tão extremas como no Brasil.

No entanto, a proposta do Mundo sem Pobreza é alvissareira. O website do Mundo sem Pobreza informa que alguns objetivos desta Iniciativa são: apoiar discussões sobre redução da pobreza, formar redes de profissionais envolvidos no setor, e promover o compartilhamento de conhecimentos entre países.

Na Iniciativa Mundo sem Pobreza, o governo brasileiro (neste caso, com a colaboração do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) formou parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Banco Mundial (que surgiu através do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, BIRD) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Curiosamente estes organismos tramam a redução da pobreza sem mudar o modelo de desenvolvimento brasileiro; entrementes, acreditam na linearidade do desenvolvimento ao nomear o Brasil um “país subdesenvolvido” ou um “país em desenvolvimento” porque estaríamos apenas numa etapa histórica mais atrasada. Os tomadores de decisão articulam-se entre eles, mas não reformam suas ideias para dar saltos como a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) deu em 1950 e 1960.

É necessário reconhecer, malgrado as críticas que este texto faz, que programas sociais como o Bolsa Família e o Plano Brasil sem Miséria avançam na inclusão social, na redução da fome e no incentivo ao trabalho. A intenção destes programas é nobre e construtiva; mal é o uso que uma parcela dos beneficiários fazem sem que precisem de incentivos do governo ou sem aprender a andar com as próprias pernas (que é a mensagem principal destes programas).

Embora equipes governamentais esforcem-se para corrigir os programas sociais, as políticas de inclusão educacional-social do Brasil estão longe de ser exemplo para o mundo. No Brasil, as políticas distanciam os setores que são muito ignorantes daqueles que são muito bem educados com programas como o Ciência sem Fronteiras. Este transforma os que já eram bem-educados em seres ultra-educados com bolsas milionárias de estudo no exterior, enquanto as maiorias juvenis recebem menos recursos (no máximo, bolsas de centenas de reais) que não os puxa do abandono, da ignorância e da margem.

Há que repensar, enfim, no que se quer combater/reduzir no Brasil (porque no mundo acho uma tarefa audaciosa) e onde começar. Já que o tema que abordo neste texto trata da pobreza, creio que os programas governamentais atuais visam ao pequeno ramo que nasce torto numa árvore. Portanto, estes programas (mais ainda por contar com parceria do Banco Mundial), estão distantes de promover uma mudança estrutural no Brasil como fizeram ideias que emergiram da CEPAL durante as primeiras décadas depois de sua fundação.

O combate à pobreza não começa na caridade de dar comida aos indigentes, mas na mudança da mentalidade pobre de dirigentes deste país, que se articulam entre eles para cumprir formalidades burocráticas no “sistema”, garantir seus salários e contar ao mundo sobre conquistas que não tivemos.

* Colaboração de Bruno Peron Loureiro, mestre em Estudos Latino-americanos pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), para o EcoDebate, 26/03/2014


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