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Pescadores têm raiva do boto-vermelho (ou boto-cor-de-rosa), diz cientista

 

Pescadores têm raiva do animal, diz cientista – Embora dócil e inofensivo, golfinho não é bem-visto por ribeirinhos, com quem disputa peixes nos rios

Ao contrário de seus parentes marinhos, que em geral desfrutam de prestígio e simpatia da humanidade, os golfinhos de rio estão entre as espécies mais ameaçadas do mundo. Na Amazônia, historicamente, nunca foram muito benquistos pelos ribeirinhos.

A raiva em relação ao dócil mamífero, diz o povo, vem das lendas de que o bicho se transformava num formoso rapaz que seduzia as moças. Não foram poucas, por sua vez, que se aproveitaram da crença para justificar uma gravidez antes do casamento. Reportagem em O Estado de S.Paulo.

Tanto que alguns animais sempre acabaram mortos, seja de propósito ou acidentalmente, enroscados em redes de pesca, e seus corpos eram aproveitados para as mais diversas mandingas e como amuleto. “Acredita-se que as ‘partes’ do animal, como o povo diz, a genitália, e também os olhos, funcionam como atrativos do amor. Fazem o sexo oposto se apaixonar”, conta Vera Silva, do Inpa.

Outra crença é de que os órgãos podem trazer cura para várias doenças. “Usam para fazer perfume, espantar mau-olhado, aproveitam a banha do golfinho para tratar o mal do chifre dos bois, uma colher de chá para curar gripe”, lembra Miguel Migueis, da Ufopa.

Hoje, no entanto, os pesquisadores que investigam a morte dos botos acreditam que o principal motivo do desamor pelo bicho é bem mais prosaico.

Na prática, esses golfinhos competem com o homem por peixes. Quando pescadores passaram a instalar redes de pesca, começaram os conflitos. “O boto é adaptado para explorar a floresta inundada, mas ele não é bobo. Quando vê alimento farto preso, ele se aproxima para comer, pega os peixes, acaba estragando a rede”, afirma Vera. “Por isso, o pescador não gosta dos botos; podendo, ele mata sem dó. Vai além de ser coisa só ilegal, é cruel mesmo.”

Tanto que também tem se tornado comum encontrar animais mutilados, com cortes a faca, nomes escritos em seus corpos, cortes nas nadadeiras. “Às vezes o pescador prende o boto a uma árvore, amarrando uma corda em sua cauda, para matá-lo quando precisar pescar. Mas se passa a fiscalização, eles o soltam rapidamente e o animal fica ferido, correndo o risco de perder a cauda e morrer”, diz a pesquisadora. “Esses pescadores estão infringindo a lei. E não estamos tendo reforço da fiscalização para evitar isso”, queixa-se.

Com a procura pela piracatinga ativando a matança, o mercado da superstição ressurgiu, sendo os amuletos encontrados em locais como o famoso mercado Ver-o-Peso, em Belém.

A forma de capturar o peixe também está se sofisticando, com a criação de outras formas de captura que vão além das caixas de armazenamento, como a construção de “currais” nos rios.

“A estrutura é tão organizada que há pessoas dando cursos sobre as técnicas para matar o boto”, relata Migueis. Há toda uma cadeia, na qual os matadores fornecem o boto. Mas, na prática, qualquer pescador pode tentar matar o boto, a custo zero.

Tanto o Ibama quanto o Ministério da Pesca foram procurados pela reportagem para comentar a matança, mas nenhum dos órgãos se pronunciou. / G.G.

Nota do EcoDebate: sobre o mesmo tema sugerimos que leiam, também, a matéria “Matança do boto-vermelho (ou boto-cor-de-rosa) coloca golfinho em risco de extinção

EcoDebate, 15/05/2012

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One thought on “Pescadores têm raiva do boto-vermelho (ou boto-cor-de-rosa), diz cientista

  • luiz eduardo mb cruz

    Já havia ouvido histórias que os pescadores capturavam o boto e lhe davam uma “coça”por causa dos frequentes prejuizos que este lhes causava e aquela do Boto virar rapaz e emprenhar as moças que faz parte do nosso folclore há longo tempo. Entretanto nada justifica a crueldade descrita no artigo. Outra coisa é o comércio de ou partes de animais em nosso país sem autorização de órgão competente é crime, ponto e basta. Espero que haja diálogo com as comunidades para encontrar formas de manejo do boto e o não prejuizo da pesca artesanal.

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