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Plantações destinadas à produção de biocombustíveis tomam espaço de culturas agrícolas básicas

Biocombustíveis e a escassez de alimentos

A cada ano, uma porção cada vez maior das plantações e culturas agrícolas mundiais (mandioca, milho, cana-de-açúcar e óleo de palmeira) está sendo direcionada para a produção de biocombustíveis, devido às exigências de maior utilização de combustíveis de fontes renováveis (não fós­­seis) já aprovadas em algumas nações desenvolvidas. Além disso, grandes consumidores fa­­mintos por energia como a China estão buscando novas fontes ener­­géticas para alimentar seus veículos e suas indústrias. A mandioca é relativamente nova no mundo dos biocombustíveis.

A utilização de fontes verdes de combustível possui, todavia, suas consequências. Por causa do expressivo aumento no preço dos alimentos nos últimos me­­ses, vários especialistas estão pe­­dindo aos países que diminuam seu apetite para combustíveis verdes visto que a combinação de metas ambiciosas no uso de biocombustíveis e o atual baixo excedente agrícola de culturas essenciais para alimentação hu­­mana pode ser desastrosa e ter impacto direto sobre o preço dos alimentos, da fome e de instabilidades políticas.

Neste ano, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura reportou que o ín­­dice dos preços foi o maior registrado nos 20 anos de existência do órgão. Os preços subiram 15% só no período compreendido en­­tre outubro e janeiro, o que po­­tencialmente “colocou abaixo da linha de pobreza 44 milhões de pessoas em países de baixa e média renda”, conforme apontou o Banco Mundial.

O aumento no preço dos alimentos nos últimos meses também causou protestos e contribuiu para a agitação política em países pobres, incluindo a Ar­­gélia, o Egito e Bangladesh, na­­ções onde o óleo de palmeira, in­­grediente muito utilizado para a fabricação de biocombustíveis, é também uma das principais fontes de nutrientes cruciais para uma população que vive em de­­sesperadora pobreza.

No segundo semestre de 2010, o preço do milho disparou 73% nos Estados Unidos, aumento que o Programa Mundial de Ali­­mentos da ONU atribui ao maior uso do milho americano para a produção de bioetanol.

O Congresso norte-americano exigiu que o consumo anual de biocombustíveis atinja, no mínimo, 36 bilhões de galões (136 milhões de litros) até 2022. A União Europeia estipulou que 10% do combustível utilizado em transportes devem obrigatoriamente ser de origem renovável (como biocombustíveis ou energia eólica) até 2020. Países como a China, Índia, Indonésia e Tailândia também estabeleceram metas de consumo de biocombustíveis.

Muitos fatores têm impacto no preço dos alimentos, entre eles o mau tempo, que afeta os ciclos de plantio e colheita, e os altos preços dos combustíveis, que tornam o transporte dos alimentos mais caro. No ano passado, por exemplo, uma grave crise climática destruiu as plantações de trigo na Rússia, Austrália e China, e uma infestação de piolhos-farinhentos reduziu a produção de mandioca tailandesa.

Olivier Dubois, especialista em bioenergia da Organização de Alimentos e Agricultura em Roma, disse que é difícil mensurar a extensão do impacto causado pelos biocombustíveis sobre o preço dos alimentos.

“O problema é muito complexo, o que dificulta precisar se os biocombustíveis são positivos ou negativos para o mercado de alimentos. Tudo que se pode precisar é que os biocombustíveis impactam os preços. Se é 20, 30 ou 40%, tudo depende do modelo que está sendo utilizado”, disse o especialista.

Apesar de não estar sugerindo que a utilização de biocombustíveis deve ser abandonada, Dubois e outros especialistas sugerem que todos os países revisem suas políticas para que me­­tas muito altas para a substituição de fontes de energia sejam suspensas quando se possui um baixo estoque de alimentos ou seus preços estejam altos demais.

Pode ser arriscado prever como as novas demandas do se­­tor de biocombustíveis irão afetar a oferta e o preço dos alimentos. Às vezes, como é o caso milho e da mandioca, a competição acirrada entre os compradores pode fazer com que o preço dos vegetais necessários à produção do biocombustível suba. Em outros casos, a escassez e a inflação de preços se devem ao fato de fazendeiros terem pa­­rado de produzir alimentos e trocado suas lavouras pelo plantio de vegetais com potencial energético. A China aprendeu uma dura lição há quase uma década quando decidiu fabricar bioetanol a partir do milho. O país acabou se vendo em meio a uma alarmante crise de escassez de alimentos e o aumento indiscriminado dos preços.

Em 2007, o governo chinês vetou a utilização de grãos para a produção de combustíveis. Desde então, cientistas chineses aperfeiçoaram o processo de produção através da mandioca, uma raiz com ótima capacidade energética, o que levou a construção da primeira usina comercial de álcool de mandioca.

Matéria de The New York Times, no Gazeta do Povo, PR.

EcoDebate, 11/04/2011

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