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Artigo

A lição dos acontecimentos no Japão, artigo de Maurício Gomide Martins

[EcoDebate] Defendemos a tese de que os trágicos acontecimentos naquele país, na sua expressão maior, não são de natureza natural. Reafirmamos que tais ocorrências em que se perderam muitas vidas e bens materiais são conseqüência da aplicação extensa dos objetivos equivocados na atual civilização. Excesso de conforto.

Esse meio cultural, em que estamos todos imersos, comprometidos e seduzidos pelos chocalhos reluzentes dos confortos materialistas, mostra que amamos mais as atitudes tecnológicas lucrativos, que o bem maior, a Vida. Escolhemos a aparência, a casca, o deslumbrante, e desprezamos a essência.

Mas na hora da verdade, para a qual os ambientalistas vêm alertando insistentemente, ocorre o oposto. Vimos na TV cenas impressionantes e instrutivas dentro de supermercados: prateleiras de alimentos completamente vazias, enquanto as que continham cosméticos e demais supérfluos continuavam intocadas.

Transcrevemos, a propósito, trecho de uma carta enviada por uma nipo-americana (Anne Fumi Johns Stewart) aos seus familiares: “eu amo este ‘jogar fora’ de coisas não essenciais, vivendo apenas no nível básico do instinto da sobrevivência”. A missivista é sobrevivente de Sendai, onde tem residência em ponto elevado.

O maremoto, fenômeno natural e previsível pela ciência, foi apenas o estopim que causou toda essa destruição, cujo valor total está estimado pelas autoridades nipônicas em 284 bilhões de dólares, fora os prováveis danos radioativos que não têm consistência para uma avaliação, mas têm alcance planetário.

Duras e claras lições podem ser tiradas de tais ocorrências. Ação humana nenhuma é capaz de evitar ou anular os ajustes cósmicos do planeta. Isso é taxativo, definitivo. Assim, num simples exercício de raciocínio lógico, cabe submeter-nos a esses movimentos planetários e agir de forma conseqüente e humilde, reconhecendo nossa inferioridade ante a grandeza e mistério do Criador.

Quais essas atitudes conseqüentes? Como é óbvio, coragem para romper com tabus e reduzir com critério racional a população mundial (controle da natalidade,) porque a Natureza nessas horas o faz sem qualquer critério. Ou o faz de forma abrupta como vimos, ou de modo lento e insidioso pela ação da radiação nuclear liberada das usinas nucleares, essa loucura humana.

Diminuindo-se esse “formigueiro” humano que habita o planeta, diminui-se a produção de bens inúteis, dispensáveis, supérfluos e renunciáveis que, em última instância, são lixos prejudiciais à saúde planetária. Além disso, corta-se o cordão umbilical da relação consumo-crescimento que alimenta a atual civilização baseada na ganância individualista.

Coragem para renunciar a uma vida rodeada de instrumentos de conforto e opção para um viver tão natural quanto possível, com harmonia e respeito à Natureza. Note-se que um terremoto em terras habitadas por silvícolas, que não conhecem o progresso contagioso do modernismo, não causa danos significativos.

Os males e desgraças originários da atual civilização progressista e tecnológica – movimentada pelos interesses gananciosos dessa teia econômica em que estamos embaraçados – estão acumulando numa bomba-relógio o combustível necessário e suficiente para uma tragédia de caráter mundial. O exemplo nipônico está aí para nos abrir os olhos e a mente.

De modo geral, a humanidade não enxerga esse caminho da destruição e não aprende a lição nipônica por estar extasiada pelas ilusões das miçangas multicoloridas que lhe são oferecidas, tal como fizeram aos índios inocentes os gananciosos e perniciosos invasores portugueses.

A humanidade se encontra atualmente refém do destino ignóbil que a espera logo adiante. Manifestações geológicas e seus ramos em estudo ocorrem em todas as partes do mundo. São sismos, furacões, deslizamentos, inundações, vulcões, deslocamentos rápidos de ar, tempestades climáticas, impactos de meteoros e – o mais importante – o fator traiçoeiro da imponderabilidade.

Das 441 usinas nucleares existentes, apenas umas poucas desgovernadas têm potencial suficiente para causar a extinção da vida terrena. O envenenamento radioativo é extremamente severo e de ação prolongada. Não teríamos como escapar dessa situação.

E as principais vítimas de uma civilização que não sabe se comportar serão os inocentes seres da fauna e flora. Os humanos não serão vítimas, serão os autores.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.

EcoDebate, 30/03/2011

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